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ROMANCE/"UM DOMINGO PARA SEMPRE"
Cinema melhora obra de Japrisot
ANTONIO PRATA
ESPECIAL PARA A FOLHA
De início, os franceses acreditaram que a Primeira Guerra
seria um passeio. Em poucos meses os alemães seriam postos para
correr, e os soldados voltariam
para casa. A metralhadora, inventada em 1884, complicou as coisas: o velho esquema de ir avançando sobre o território inimigo
metro a metro, abrindo caminho
a tiros e golpes de baioneta, caiu
por terra literalmente: bastava um
batalhão botar a cabeça para fora
da trincheira que era ceifado pelas
rajadas. Resultado: após um começo muito intenso, com sangue,
suor e lágrimas dos dois lados, os
Exércitos diminuíram o ritmo. O
conflito foi longo, complicado e
de pouca mobilidade.
O livro "Um Domingo para
Sempre", de Sébastien Japrisot, se
parece muito com a guerra que
retrata. Começa com uma primeira frase de impacto -"era uma
vez cinco soldados franceses que
faziam a guerra porque as coisas
são assim"- e um primeiro capítulo emocionante. Daí em diante,
no entanto, até chegarmos às trincheiras inimigas -ou seja, ao
desfecho-, atravessamos centenas de páginas de pouco conflito,
entre escombros e balas perdidas
das cenas iniciais.
A trama é interessante: cinco
homens são condenados à morte
por terem atirado em suas próprias mãos, tentando assim serem
mandados de volta para casa. São
jogados, de madrugada, no terreno entre as duas trincheiras inimigas. Se morreram de frio, foram alvejados pelos inimigos ou
fugiram é o que tenta descobrir
Mathilde, a pura, boazinha e incansável noiva de Manech, um
dos condenados. Ao longo de 263
páginas ela moverá mundos e
fundos para descobrir o paradeiro de seu amado. A busca, no entanto, é muito mais fruto de sua
obstinação e de um amor incondicional -tudo leva a crer que ele
está morto- do que de pistas que
convençam o leitor a se envolver
na trama, criando bom suspense.
A perda do ritmo policialesco
poderia dar lugar à história de
amor, a uma saborosa narrativa,
ao aprofundamento dos personagens. Não é o que acontece. O autor abusa de recursos batidos e
chavões. A tradução também não
ajuda, formando frases quadradas e às vezes até sem sentido:
"(...) as amizades que começam
mal são as mais infectantes".
Sébastien Japrisot (1931-2003)
era um pseudônimo, anagrama
feito a partir de seu nome de batismo, Jean-Baptiste Rossi. Fez muito sucesso na França com livros
policiais, ganhou prêmios e teve
todos os seus romances adaptados para o cinema. Este livro, filmado por Jean-Pierre Jeunet,
(com o título de "Eterno Amor",
no Brasil) é um caso raro em que
o filme é melhor que o livro. Mesmo assim, nem tanto...
Antonio Prata, escritor, é autor de "O
Inferno Atrás da Pia" (2004, Objetiva),
"Pernas da Tia Corália" (2003, Objetiva) e
"Estive Pensando" (2003, Marco Zero)
Um Domingo para Sempre
Autor: Sébastien Japrisot
Tradução: Sieni Maria Campos
Editora: Relume Dumará
Quanto: R$ 39,90 (264 págs.)
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