São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2007

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"Antônia" por que o filme não brilhou?

Bem-sucedido na TV, "Antônia" vai mal nos cinemas; diretora, distribuidor e crítico analisam as razões do desempenho ruim

Marcelo Vigneron/Divulgação
Da esq. para a dir.: as cantoras Negra Li, Quelynah, Leilah Morena e Cindy Mendes, de "Antônia"


TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Microssérie bem-sucedida na Globo, elenco marcando presença em programas de TV, crítica favorável, prêmios em festivais... "Antônia" preenchia todos os requisitos para ser, se não um "blockbuster", ao menos um sucesso nacional de bilheteria. Mas não foi.
O filme de Tata Amaral estreou nos cinemas há pouco mais de um mês e alcançou, até o último dia 4, 75 mil espectadores. Número abaixo do necessário para cumprir a expectativa de um público de 500 mil pessoas na carreira do filme.
"Não é o que a gente esperava", admite Tata.
Bruno Wainer, da distribuidora Downtown Filmes, concorda: "Obviamente está muito aquém do que a gente achou que o filme renderia".
"Antônia" era a menina-dos-olhos da Downtown para este ano. "A gente fez uma aposta ousada e, nesses casos, ou se ganha ou se perde", diz Wainer.
E o que fez a estrela de "Antônia" não brilhar no cinema?
"Superestimamos o filme", avalia Tata.
O longa foi lançado com 125 cópias. No mesmo fim de semana, "Rocky Balboa" estreou com 160 cópias e, até o último dia 4, tinha sido visto por quase 247 mil espectadores.
A data escolhida para o lançamento, 9 de fevereiro, duas semanas antes do Oscar (quando as telas ficam congestionadas pelos indicados ao prêmio), também teria contribuído para o mau desempenho.
"A gente acreditou que era um filme de férias. Se a gente tivesse lançado um pouquinho antes, a julgar pelo desempenho de "A Grande Família", poderia ser diferente", diz Tata.
Segundo ela, a definição da data foi feita em função da exibição da série na TV, para que a estréia do filme não ficasse muito distante do programa.
"Acho que a decisão de lançar a série e depois o filme não se mostrou a mais adequada. Foi feita uma divulgação imensa da série, que talvez tivesse sido melhor guardar para o filme", avalia Wainer.
Carlos Eduardo Rodrigues, diretor da GloboFilmes, faz outra avaliação: "Sempre que há possibilidade de criar adaptações que tragam uma novidade sobre aquilo que se viu no cinema ou na TV aumentam as chances de um resultado satisfatório. Temos bons exemplos de séries criadas a partir de filmes de sucesso, como "Carandiru", e filmes que partiram da TV com excelente resultado no cinema, como "Os Normais" e "A Grande Família'".
"O fato maior é que a gente superestimou mesmo. Dá para atribuir [o baixo público] ao Oscar e à estréia de "Rocky", mas isso não tirou 200 mil espectadores do nosso filme", afirma a diretora.
Cássio Starling Carlos, crítico de cinema da Folha, que deu ao longa a cotação máxima, também considera que houve um erro de cálculo.
"O filme não tinha essa dimensão. É caro ir ao cinema. Grande parte do público do "Antônia" é formado por quem pode ir no cinema duas vezes por ano", diz Starling.
Ex-moradora da Vila Brasilândia, periferia da zona norte de São Paulo, onde "Antônia" é ambientado, Negra Li (a protagonista Preta) também aponta o preço do ingresso como vilão.
"Ainda bem que colocaram o telão lá [na Vila Brasilândia] para as pessoas assistirem. Muita gente não viu porque é difícil, tem o preço do ingresso e a condução. Quando eu era mais nova, preferia ir em baladas próximas para não gastar. Não deve ter mudado muito", calcula Negra Li.

Pobre no cinema
No blog Ilustrada no Cinema, Leonardo Cruz, editor-assistente do caderno, gerou polêmica ao comentar a baixa bilheteria no primeiro fim de semana do filme (leia à pág. E3).
A hipótese levantada é que a classe média, que poderia pagar entre R$ 15 e R$ 20 pelo bilhete, não parece disposta a ver drama de pobre no cinema.
Embora veja "Antônia" como um filme de "mensagem positiva", Wainer avaliza a tese: "Neste momento, meu feeling é que o público não está disposto a pagar R$ 15, mais pipoca e condução, para ver a realidade dura do país que ele vê todo dia de graça, na TV ou no jornal".
Mesmo sem a glória nos cinemas, "Antônia" deve continuar brilhando na TV. A segunda temporada da série na Globo está acertada e terá cinco episódios. E há esperança de que o filme finalmente "aconteça" quando for lançado em DVD.


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