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Para Leonardo DiCaprio, diretor molda a narrativa por meio dos atores
CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
A parceria Martin Scorsese-Leonardo DiCaprio é uma das
raras fórmulas de sucesso de
Hollywood que continua a se
provar eficaz. O quarto filme da
dupla, "A Ilha do Medo", que
chega hoje ao Brasil, rendeu
mais de US$ 40 milhões no primeiro fim de semana em cartaz
nos EUA -foi a melhor abertura das carreiras dos dois.
"Não é preciso dizer, se você
tem uma oportunidade de trabalhar com o Scorsese, você se
joga. O amor dele pelo cinema,
pelos atores e por fazer filmes
contamina o set", exalta DiCaprio, em entrevista a um grupo
de jornalistas no Festival de Cinema de Berlim, onde o filme
foi exibido pela primeira vez,
no mês passado.
Ator e diretor iniciaram a
parceria em 2002, com "Gangues de Nova York", e desde então fizeram "O Aviador", em
2004, "Os Infiltrados", em
2006, e, agora, "A Ilha do Medo", um thriller psicológico sobre os traumas do onipresente
personagem de DiCaprio.
"Scorsese entende que precisa fortalecer o ator para que ele
se responsabilize pelo personagem. Isso significa que não há
escolha errada, uma direção
que você não possa ir. Isso te dá
uma noção de propriedade do
personagem. E todo ator fala a
mesma coisa: ele espera para
ver o que você fará. O que
aprendi é que ele molda a narrativa por meio dos atores."
Para Ben Kingsley, "Martin
trabalha como um psiquiatra,
entende os segredos de cada
ator". "Nas cenas, temos que
nos desmarcar e permitir que
Martin filme o animal dentro
de nós, que nem conhecemos,
mas ele, sim. E faz isso com
muita ternura, porque é perigoso filmar os demônios das pessoas. Conheço diretores que filmam as neuroses de um ator e
aí se perguntam por que aquele
ator foi parar em um hotel, com
overdose. É culpa deles."
Sonho e realidade
Em "A Ilha do Medo", o personagem "emocionalmente desafiador" é, logicamente, o do
protagonista. DiCaprio não nega ter usado experiências pessoais para interpretar um agente federal preso em um manicômio isolado, a Ilha do Medo,
nos anos 50. Traumatizado pelas atrocidades da guerra e pela
morte da mulher, o protagonista mistura sonho e realidade
em longos delírios, enquanto
tenta escapar da ilha.
"São várias partes que fazem
um todo para esse personagem,
é como um amontoado de quase curtas-metragens, tramas
paralelas oníricas conectadas
com o seu passado e os seus
traumas", define DiCaprio.
O ator diz que fazer o filme
"foi como uma colagem". "Muitas das conversas com o Scorsese foram para definir o que era
sonho e o que era verdade e como interpretar as sequências.
Houve momentos em que cheguei ao set, tinha uma sequência de uma página para filmar
que eu achava que significava
uma coisa e, no meio do dia,
caía uma ficha e eu dizia a ele,
"espere um pouco, essa é possivelmente a cena mais importante de toda a história!". E ele
respondia, "você está certo, se
essa cena não funcionar, a estrutura inteira do filme cai".
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