São Paulo, sexta-feira, 12 de março de 2010

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Para Leonardo DiCaprio, diretor molda a narrativa por meio dos atores

CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

A parceria Martin Scorsese-Leonardo DiCaprio é uma das raras fórmulas de sucesso de Hollywood que continua a se provar eficaz. O quarto filme da dupla, "A Ilha do Medo", que chega hoje ao Brasil, rendeu mais de US$ 40 milhões no primeiro fim de semana em cartaz nos EUA -foi a melhor abertura das carreiras dos dois.
"Não é preciso dizer, se você tem uma oportunidade de trabalhar com o Scorsese, você se joga. O amor dele pelo cinema, pelos atores e por fazer filmes contamina o set", exalta DiCaprio, em entrevista a um grupo de jornalistas no Festival de Cinema de Berlim, onde o filme foi exibido pela primeira vez, no mês passado.
Ator e diretor iniciaram a parceria em 2002, com "Gangues de Nova York", e desde então fizeram "O Aviador", em 2004, "Os Infiltrados", em 2006, e, agora, "A Ilha do Medo", um thriller psicológico sobre os traumas do onipresente personagem de DiCaprio.
"Scorsese entende que precisa fortalecer o ator para que ele se responsabilize pelo personagem. Isso significa que não há escolha errada, uma direção que você não possa ir. Isso te dá uma noção de propriedade do personagem. E todo ator fala a mesma coisa: ele espera para ver o que você fará. O que aprendi é que ele molda a narrativa por meio dos atores."
Para Ben Kingsley, "Martin trabalha como um psiquiatra, entende os segredos de cada ator". "Nas cenas, temos que nos desmarcar e permitir que Martin filme o animal dentro de nós, que nem conhecemos, mas ele, sim. E faz isso com muita ternura, porque é perigoso filmar os demônios das pessoas. Conheço diretores que filmam as neuroses de um ator e aí se perguntam por que aquele ator foi parar em um hotel, com overdose. É culpa deles."

Sonho e realidade
Em "A Ilha do Medo", o personagem "emocionalmente desafiador" é, logicamente, o do protagonista. DiCaprio não nega ter usado experiências pessoais para interpretar um agente federal preso em um manicômio isolado, a Ilha do Medo, nos anos 50. Traumatizado pelas atrocidades da guerra e pela morte da mulher, o protagonista mistura sonho e realidade em longos delírios, enquanto tenta escapar da ilha.
"São várias partes que fazem um todo para esse personagem, é como um amontoado de quase curtas-metragens, tramas paralelas oníricas conectadas com o seu passado e os seus traumas", define DiCaprio.
O ator diz que fazer o filme "foi como uma colagem". "Muitas das conversas com o Scorsese foram para definir o que era sonho e o que era verdade e como interpretar as sequências. Houve momentos em que cheguei ao set, tinha uma sequência de uma página para filmar que eu achava que significava uma coisa e, no meio do dia, caía uma ficha e eu dizia a ele, "espere um pouco, essa é possivelmente a cena mais importante de toda a história!". E ele respondia, "você está certo, se essa cena não funcionar, a estrutura inteira do filme cai".


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