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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br
Eclipse em Paris
Confusão de ideias, monotonia de estilos e falta de novidades fashion marcaram a temporada francesa de desfiles do outono-inverno 2010/11
A moda depende de Paris como a Terra precisa do Sol. É da
capital francesa que surgem as
principais novidades e as maiores ousadias, dali irradiando estilos por todo o planeta.
E se não houver novidades,
que são a maneira de a moda estabelecer comunicação com o
momento social? E se as ousadias forem deixadas de lado? E
se tudo parecer uma monótona
repetição, uma falta do que dizer? Então o sol se apaga.
A temporada outono-inverno 2010/11 foi um verdadeiro
eclipse em Paris. As grifes seguraram as rédeas, os estilistas
contiveram suas audácias, tudo
pareceu muito bonito, bem realizado, charmoso mas também
muito enfadonho e repetitivo,
sem nenhuma substância.
A partir do que se viu na
França, parece que o design de
moda propriamente dito está
encurralado entre uma situação econômica pouco favorável
a ele e uma forte mudança sociocultural, que as grifes não
estão conseguindo captar.
Apesar disso, Paris conseguiu garantir o grande espetáculo midiático que são as temporadas fashion na cidade, como no surpreendente desfile da
Viktor & Rolf, em que os próprios estilistas entraram na
passarela para desvestir uma
modelo que portava vários casacos, usando as roupas para
cobrir as moças que entravam
em seguida. A coleção foi mais
simples e menos curiosa que a
aplaudidíssima performance.
O público também gostou do
cenário superproduzido da
Chanel: uma montanha de gelo
de 265 toneladas, vinda da Suécia, em torno da qual desfilavam as modelos, enquanto o
chão era inundado pela água
derretida do "iceberg".
Uma boa parte da nova coleção é encantadora, com minúcias deliciosas e um charmoso
toque folk-glacial. Muitos
looks, porém, pareceram pesados e maneiristas. Os tricôs
(dominantes nesta estação) foram destaque, em construções
sofisticadas. As peles, usadas
em abundância, eram todas falsas -decisão da Chanel que pode representar uma revolução
no luxo francês.
Na Dior, o show de John
Galliano foi inspirado no dandismo inglês dos poetas românticos. Daí as colunas romanas
neoclássicas do cenário, como
se fossem a paisagem das
deambulações de Byron e
Keats em Roma. A coleção é
muito versátil e comercial, com
destaque (mais uma vez) para
os tricôs e os looks de estilo
masculino, baseados na roupa
de equitação antiga.
A elegância inglesa inspirou
igualmente a forte coleção da
Hermès desenhada por Jean
Paul Gaultier. Chamou a atenção como ele explorou para as
mulheres uma série de iconografias masculinas britânicas
-do detetive a James Bond-,
dando a estas um toque sexy. O
auge da demonstração de luxo
da grife chegou num guarda-chuva cuja capa foi feita da
mesma pele dos casacos (neste
caso, pele verdadeira).
No espetáculo da Louis Vuitton, a nostalgia também predominou. O desfile foi feito em
uma tenda instalada numa das
áreas externas do Louvre, em
torno de uma fonte que jorrou
suas águas durante toda a apresentação. A trilha jazzística embalou o show de looks focados
nos anos 50, com decotes hollywoodianos e muitas saias e vestidos godês -como se, de repente, os fashionistas tivessem
sido transportados para a época de Grace Kelly.
Numa estação marcada pelas
evocações passadistas, pela
confusão de ideias e pela falta
de rumos claros, foi o estilo minimalista que de fato se impôs
em Paris, como se este fosse o
mais apropriado para "limpar"
o terreno e, quem sabe, prepará-lo para o novo.
A Céline, desenhada pela britânica Phoebe Philo, conseguiu
outra vez se colocar na vanguarda da estação, com "minimal" -tendência que ganhou a
adesão das ótimas coleções de
Stella McCartney e Givenchy.
As três grifes captaram como
poucas aquilo que, no momento, parece falar mais alto ao desejo feminino, no que diz respeito às roupas: design sem delírios, luxo sem ostentação,
austeridade sem chatice e muita, muita sensualidade.
com VIVIAN WHITEMAN
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