São Paulo, Sexta-feira, 12 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA - DEUSES E MONSTROS
Para McKellen, personagem não importa

MARIANE MORISAWA
da Redação

Ian McKellen era um ator de teatro com mais de 30 anos de carreira quando, em 1995, se tornou conhecido mundialmente ao fazer o papel-título e co-escrever uma adaptação de "Ricardo 3º" ambientada na nazista década de 40.
Repetia na tela as famosas performances que fizeram dele um dos mais elogiados intérpretes de Shakespeare. McKellen, agraciado em 1991 com o título de sir, viveu os mais importantes papéis criados pelo dramaturgo -de Hamlet a Macbeth, de Romeu a Próspero, Iago e Henrique 5º.
Agora, aos 59 anos, o ator concorre pela primeira vez ao Oscar. Não por um personagem shakespeariano, mas sim por seu retrato de James Whale, diretor de clássicos como "Frankenstein", em "Deuses e Monstros", que estréia hoje e concorre ainda às estatuetas de atriz coadjuvante (Lynn Redgrave) e roteiro adaptado.
Em seus últimos dias de vida, velho, doente e esquecido por Hollywood, Whale -que, assim como McKellen, era homossexual assumido- se encanta por seu jardineiro (Brendan Fraser), que acaba se tornando seu amigo.
O ator diz que está otimista em relação ao Oscar -"Se não estivesse, seria muito deprimente, não acha?". Mas, depois de toda a agitação dos dias anteriores à cerimônia, pretende apenas desfrutar suas primeiras férias após seis anos -acaba de encerrar temporada de "A Tempestade" na Inglaterra.
E, ao contrário dos boatos, afirma que ainda não leu o roteiro de "Missão Impossível 2" e, portanto, sua presença como vilão da sequência não está confirmada.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida por sir Ian McKellen, por telefone, de Nova York.

Folha - O que o atraiu no papel de James Whale?
Ian McKellen -
Era um papel muito bom em um filme americano. Um papel principal. Eu sou inglês e geralmente não faço papéis grandes em filmes americanos.
Folha - Como o sr. se preparou?
McKellen -
Bem, eu li as frases. Não é um grande mistério. Se você quer saber se eu fiz pesquisa, não, não costumo fazer isso. A pesquisa sempre está no roteiro. Claro que havia um livro maravilhoso em que o roteiro foi baseado.
Folha - É mais difícil interpretar uma pessoa real?
McKellen -
Não é uma pessoa real, entende, Hamlet era uma pessoa real, Macbeth era real. Se você interpreta pessoas que existiram, ou as peças que Shakespeare escreveu, é a mesma coisa. Este não é um documentário. Não há fatos sobre Whale no filme, é mais a verdade sobre ele. Nem tive de me preocupar em parecer com ele.
Folha - O sr. acredita que o retrato dos homossexuais no cinema hoje em dia é mais real?
McKellen -
Acho que há menos estereótipos do que costumava existir, e certamente este filme é muito correto quando apresenta um personagem gay como outra pessoa qualquer. E isso está começando a ser verdade sobre outros filmes também. É um sinal muito bem-vindo.
Folha - O sr. está otimista em relação ao Oscar?
McKellen -
Sim, eu tenho que ser otimista, do contrário seria muito deprimente, não acha? Fico excitado por estar aqui e tudo, mas, quando o momento vier, vão ter sido outras as pessoas que escolheram, não eu. Não há muito o que eu possa fazer.
Folha - O sr. vai preparar um discurso?
McKellen -
Seria irresponsável não fazê-lo, não é?
Folha - Qual a importância de um prêmio como esse, da indústria, para o senhor?
McKellen -
É essa a questão. Esse prêmio vem de pessoas que estão na posição de julgar a qualidade de seu trabalho e é uma confirmação de que você está indo bem. É um grande apoio. Quando um ator estrangeiro é indicado, você sente que é bem-vindo na América... Agora, o quanto isso vai mudar a minha carreira, não sei, você tem de me perguntar de novo depois, se eu ganhar.
Folha - Qual seu papel favorito de Shakespeare?
McKellen -
Não tenho nenhum. Na verdade, não é o personagem que importa, mas onde e com quem você faz. Acho que não há nenhum papel de Shakespeare que eu estaria excitado em fazer.
Folha - O sr. acredita que um filme como "Shakespeare Apaixonado" aumenta o interesse das pessoas pelo dramaturgo?
McKellen -
Não, duvido muito. Porque não é sobre as peças dele, mas sim um romance. Muito agradável, mas uma fantasia.


Texto Anterior: Ator é simplesmente impressionante
Próximo Texto: Filme revela alma de mestre do terror
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.