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CINEMA - DEUSES E MONSTROS
Para McKellen, personagem não importa
MARIANE MORISAWA
da Redação
Ian McKellen era um ator de teatro com mais de 30 anos de carreira
quando, em 1995, se tornou conhecido mundialmente ao fazer o papel-título e co-escrever uma adaptação de "Ricardo 3º" ambientada
na nazista década de 40.
Repetia na tela as famosas performances que fizeram dele um
dos mais elogiados intérpretes de
Shakespeare. McKellen, agraciado
em 1991 com o título de sir, viveu
os mais importantes papéis criados pelo dramaturgo -de Hamlet
a Macbeth, de Romeu a Próspero,
Iago e Henrique 5º.
Agora, aos 59 anos, o ator concorre pela primeira vez ao Oscar.
Não por um personagem shakespeariano, mas sim por seu retrato
de James Whale, diretor de clássicos como "Frankenstein", em
"Deuses e Monstros", que estréia
hoje e concorre ainda às estatuetas
de atriz coadjuvante (Lynn Redgrave) e roteiro adaptado.
Em seus últimos dias de vida, velho, doente e esquecido por Hollywood, Whale -que, assim como
McKellen, era homossexual assumido- se encanta por seu jardineiro (Brendan Fraser), que acaba
se tornando seu amigo.
O ator diz que está otimista em
relação ao Oscar -"Se não estivesse, seria muito deprimente, não
acha?". Mas, depois de toda a agitação dos dias anteriores à cerimônia, pretende apenas desfrutar suas primeiras férias após seis anos
-acaba de encerrar temporada de
"A Tempestade" na Inglaterra.
E, ao contrário dos boatos, afirma que ainda não leu o roteiro de
"Missão Impossível 2" e, portanto,
sua presença como vilão da sequência não está confirmada.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida por sir Ian McKellen,
por telefone, de Nova York.
Folha - O que o atraiu no papel
de James Whale?
Ian McKellen - Era um papel muito bom em um filme americano.
Um papel principal. Eu sou inglês e
geralmente não faço papéis grandes em filmes americanos.
Folha - Como o sr. se preparou?
McKellen - Bem, eu li as frases.
Não é um grande mistério. Se você
quer saber se eu fiz pesquisa, não,
não costumo fazer isso. A pesquisa
sempre está no roteiro. Claro que
havia um livro maravilhoso em
que o roteiro foi baseado.
Folha - É mais difícil interpretar
uma pessoa real?
McKellen - Não é uma pessoa
real, entende, Hamlet era uma pessoa real, Macbeth era real. Se você
interpreta pessoas que existiram,
ou as peças que Shakespeare escreveu, é a mesma coisa. Este não é
um documentário. Não há fatos
sobre Whale no filme, é mais a verdade sobre ele. Nem tive de me
preocupar em parecer com ele.
Folha - O sr. acredita que o retrato dos homossexuais no cinema
hoje em dia é mais real?
McKellen - Acho que há menos
estereótipos do que costumava
existir, e certamente este filme é
muito correto quando apresenta
um personagem gay como outra
pessoa qualquer. E isso está começando a ser verdade sobre outros
filmes também. É um sinal muito
bem-vindo.
Folha - O sr. está otimista em relação ao Oscar?
McKellen - Sim, eu tenho que ser
otimista, do contrário seria muito
deprimente, não acha? Fico excitado por estar aqui e tudo, mas,
quando o momento vier, vão ter sido outras as pessoas que escolheram, não eu. Não há muito o que eu
possa fazer.
Folha - O sr. vai preparar um discurso?
McKellen - Seria irresponsável
não fazê-lo, não é?
Folha - Qual a importância de um
prêmio como esse, da indústria,
para o senhor?
McKellen - É essa a questão. Esse
prêmio vem de pessoas que estão
na posição de julgar a qualidade de
seu trabalho e é uma confirmação
de que você está indo bem. É um
grande apoio. Quando um ator estrangeiro é indicado, você sente
que é bem-vindo na América...
Agora, o quanto isso vai mudar a
minha carreira, não sei, você tem
de me perguntar de novo depois,
se eu ganhar.
Folha - Qual seu papel favorito
de Shakespeare?
McKellen - Não tenho nenhum.
Na verdade, não é o personagem
que importa, mas onde e com
quem você faz. Acho que não há
nenhum papel de Shakespeare que
eu estaria excitado em fazer.
Folha - O sr. acredita que um filme como "Shakespeare Apaixonado" aumenta o interesse das pessoas pelo dramaturgo?
McKellen - Não, duvido muito.
Porque não é sobre as peças dele,
mas sim um romance. Muito agradável, mas uma fantasia.
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