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MÚSICA
Duo White Stripes faz clássicos instantâneos
MARCELO VALLETTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
The White Stripes é a mais
interessante banda de rock a
surgir nos EUA desde os Pixies.
Assim como o grupo de Black
Francis (influência capital para o
Nirvana), os irmãos Jack e Meg
White esbanjam personalidade
como poucos no pop atual.
Há cerca de um ano, o duo de
Detroit (ele canta, toca guitarra e
piano; ela é baterista) começou a
chamar a atenção da imprensa,
em conjunto com bandas como
Strokes, Hives, Trail of Dead e outras, agrupadas sob o rótulo de
"novo rock de garagem".
Mas ao contrário dessas bandas,
que bebem da poça de água suja
do punk, os Stripes vão bem mais
fundo em suas influências: o universo da dupla absorve o melhor
da tradição da música americana,
de temas da Broadway a Dylan,
mas especialmente no blues.
Em seus dois primeiros discos,
"The White Stripes" (1999) e "De
Stijl" (2000), que acabam de ser
lançados no Brasil -o terceiro,
"White Blood Cells" (de 2001),
saiu por aqui em fevereiro deste
ano-, o blues é explodido de
uma maneira que Jon Spencer jamais sonhou em fazer.
As regravações de pioneiros como Son House ("Death Letter") e
Blind Willie McTell ("Your Southern Can Is Mine") são magistrais, e a versão raivosa dos Stripes
para a clássica "Stop Breaking
Down", de Robert Johnson, supera a que os Rolling Stones lançaram em 1972. Outra pérola é "St.
James Infirmary Blues", do repertório de Cab Calloway.
Os dois irmãos têm seus melhores momentos nas músicas mais
calmas, como "A Boy's Best
Friend", mas também fazem bonito quando atacam de hard rock
à Led Zeppelin, em canções como
"Why Can't You Be Nicer to Me?"
e "Jimmy the Exploder".
O lado acústico do grupo também dá luz a belezas como "I'm
Bound to Pack It Up" e "This Protector" -esta última apenas com
piano e voz.
Os três discos são bastante diferentes. O primeiro é o mais abrasivo. "De Stijl", o mais indicado
para conhecer o grupo, é obra de
transição, e "White Blood Cells",
o pior deles, é o mais pop, apesar
de ser o mais radical, pois a dupla
abandona o blues e se aproxima
do punk, da antimúsica. Além
disso, o terceiro e menos sofisticado trabalho dos Stripes não traz
covers ou músicos convidados.
As letras da banda se destacam
não somente por suas qualidades
intrínsecas, mas também pela ausência de misoginia e de palavrões, duas pragas que andam infestando a música pop nos EUA.
O visual do grupo é destaque,
representada pelas cores vermelho, branco e preto. O encarte de
"De Stijl" -nome de um movimento artístico surgido na Holanda, no início do século 20, que
preza a abstração e a simplicidade- traz obras de artistas que fazem coro com o minimalismo dos
irmãos White.
De todos esses ricos conceitos e
contrastes vive o americano The
White Stripes: ao limitar seu som
ao mínimo necessário (escute
"Little Room"), o duo expande a
música por caminhos inusitados
e, ao buscar apoio na tradição,
cria o que de mais moderno existe
no rock atual. Não os subestime,
são clássicos instantâneos.
The White Stripes
De Stijl
White Blood Cells
Artista: The White Stripes
Lançamento: Sum Records
Quanto: R$ 25, em média, cada CD
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