São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 2002

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MÚSICA

Duo White Stripes faz clássicos instantâneos

MARCELO VALLETTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

The White Stripes é a mais interessante banda de rock a surgir nos EUA desde os Pixies. Assim como o grupo de Black Francis (influência capital para o Nirvana), os irmãos Jack e Meg White esbanjam personalidade como poucos no pop atual.
Há cerca de um ano, o duo de Detroit (ele canta, toca guitarra e piano; ela é baterista) começou a chamar a atenção da imprensa, em conjunto com bandas como Strokes, Hives, Trail of Dead e outras, agrupadas sob o rótulo de "novo rock de garagem".
Mas ao contrário dessas bandas, que bebem da poça de água suja do punk, os Stripes vão bem mais fundo em suas influências: o universo da dupla absorve o melhor da tradição da música americana, de temas da Broadway a Dylan, mas especialmente no blues.
Em seus dois primeiros discos, "The White Stripes" (1999) e "De Stijl" (2000), que acabam de ser lançados no Brasil -o terceiro, "White Blood Cells" (de 2001), saiu por aqui em fevereiro deste ano-, o blues é explodido de uma maneira que Jon Spencer jamais sonhou em fazer.
As regravações de pioneiros como Son House ("Death Letter") e Blind Willie McTell ("Your Southern Can Is Mine") são magistrais, e a versão raivosa dos Stripes para a clássica "Stop Breaking Down", de Robert Johnson, supera a que os Rolling Stones lançaram em 1972. Outra pérola é "St. James Infirmary Blues", do repertório de Cab Calloway.
Os dois irmãos têm seus melhores momentos nas músicas mais calmas, como "A Boy's Best Friend", mas também fazem bonito quando atacam de hard rock à Led Zeppelin, em canções como "Why Can't You Be Nicer to Me?" e "Jimmy the Exploder".
O lado acústico do grupo também dá luz a belezas como "I'm Bound to Pack It Up" e "This Protector" -esta última apenas com piano e voz.
Os três discos são bastante diferentes. O primeiro é o mais abrasivo. "De Stijl", o mais indicado para conhecer o grupo, é obra de transição, e "White Blood Cells", o pior deles, é o mais pop, apesar de ser o mais radical, pois a dupla abandona o blues e se aproxima do punk, da antimúsica. Além disso, o terceiro e menos sofisticado trabalho dos Stripes não traz covers ou músicos convidados.
As letras da banda se destacam não somente por suas qualidades intrínsecas, mas também pela ausência de misoginia e de palavrões, duas pragas que andam infestando a música pop nos EUA.
O visual do grupo é destaque, representada pelas cores vermelho, branco e preto. O encarte de "De Stijl" -nome de um movimento artístico surgido na Holanda, no início do século 20, que preza a abstração e a simplicidade- traz obras de artistas que fazem coro com o minimalismo dos irmãos White.
De todos esses ricos conceitos e contrastes vive o americano The White Stripes: ao limitar seu som ao mínimo necessário (escute "Little Room"), o duo expande a música por caminhos inusitados e, ao buscar apoio na tradição, cria o que de mais moderno existe no rock atual. Não os subestime, são clássicos instantâneos.


The White Stripes     

De Stijl     

White Blood Cells     
Artista: The White Stripes
Lançamento: Sum Records
Quanto: R$ 25, em média, cada CD




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