São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 2002

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"O CLOSET"

"Sair do armário" não funciona para produção francesa

TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

François Pignon, nome que o diretor e roteirista Francis Veber tornou sinônimo de idiota após o sucesso, em território francês, da comédia "Le Dîner des Cons" (98), não vive boa fase.
Abandonado pela mulher, rejeitado pelo filho, desprezado pelos colegas, Pignon (Daniel Auteuil) ainda tem de encarar a iminência do desemprego. Sua sorte começa a mudar quando, à beira do suicídio, é salvo pelo novo vizinho, um ex-psicólogo de empresa que o aconselha a "sair do armário".
A saída revela-se perfeita para o introvertido Pignon. Sugerindo, por uma fotomontagem, sua homossexualidade, ele verá seu emprego garantido pelo medo do chefe (Jean Rochefort) de ter sua fábrica de camisinhas boicotada pelo movimento gay. Ao mesmo tempo, poderá recuperar a estima do filho e o sex appeal (também com as mulheres) sem deixar de ser o mesmo e entediante Pignon de sempre.
"O Closet" parece a princípio uma sátira à era politicamente correta, mas não demora a se revelar uma variação da velha e antiquada "comédia de mascarada", gênero hollywoodiano já devidamente esgotado por Howard Hawks ("A Noiva Era Ele") e, especialmente, Billy Wilder ("Quanto Mais Quente Melhor").
Veber, um especialista no gênero, não chega a formular seu argumento como uma crítica à paranóia do politicamente correto. Ele a legitima ao fazer, por exemplo, o personagem de Gérard Depardieu, um executivo grosseiro e machão que se vê obrigado a puxar o saco de Pignon, tornar-se, de fato, sensível e efeminado.
Essas mascaradas de machões obrigados a se fazerem passar por gays e de gays obrigados a se fazerem passar por machões são recorrentes no universo subwilderiano de Veber, co-roteirista da série "A Gaiola das Loucas".
Mas, ao contrário do policial interpretado por Ryan O'Neal em "Dois Tiras Meio Suspeitos", outro roteiro de Veber, Pignon não precisa se comportar ou se vestir como um gay característico para convencer os outros. A sacada de Veber é, como a de Pignon, blefar com as novas regras do jogo, substituindo o "travestimento" habitual do gênero pela cultura "clean" do politicamente correto.
Pignon, que não é homossexual, não precisa parecer gay para que os colegas o vejam e o "respeitem" enquanto tal. Assim Veber poderá guardar na cartola a inevitável hora do "travestimento" e tirar o coelho quando seus parcos, velhos, mas consagrados recursos acabarem.


O Closet
Le Placard
  
Direção: Francis Veber
Produção: França, 2001
Com: Daniel Auteuil, Jean Rochefort
Quando: a partir de hoje nos cines Cinearte, Metrô Santa Cruz e circuito




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