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"O CLOSET"
"Sair do armário" não funciona para produção francesa
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
François Pignon, nome que
o diretor e roteirista Francis
Veber tornou sinônimo de idiota
após o sucesso, em território francês, da comédia "Le Dîner des
Cons" (98), não vive boa fase.
Abandonado pela mulher, rejeitado pelo filho, desprezado pelos
colegas, Pignon (Daniel Auteuil)
ainda tem de encarar a iminência
do desemprego. Sua sorte começa
a mudar quando, à beira do suicídio, é salvo pelo novo vizinho, um
ex-psicólogo de empresa que o
aconselha a "sair do armário".
A saída revela-se perfeita para o
introvertido Pignon. Sugerindo,
por uma fotomontagem, sua homossexualidade, ele verá seu emprego garantido pelo medo do
chefe (Jean Rochefort) de ter sua
fábrica de camisinhas boicotada
pelo movimento gay. Ao mesmo
tempo, poderá recuperar a estima
do filho e o sex appeal (também
com as mulheres) sem deixar de
ser o mesmo e entediante Pignon
de sempre.
"O Closet" parece a princípio
uma sátira à era politicamente
correta, mas não demora a se revelar uma variação da velha e antiquada "comédia de mascarada",
gênero hollywoodiano já devidamente esgotado por Howard
Hawks ("A Noiva Era Ele") e, especialmente, Billy Wilder
("Quanto Mais Quente Melhor").
Veber, um especialista no gênero, não chega a formular seu argumento como uma crítica à paranóia do politicamente correto. Ele
a legitima ao fazer, por exemplo, o
personagem de Gérard Depardieu, um executivo grosseiro e
machão que se vê obrigado a puxar o saco de Pignon, tornar-se,
de fato, sensível e efeminado.
Essas mascaradas de machões
obrigados a se fazerem passar por
gays e de gays obrigados a se fazerem passar por machões são recorrentes no universo subwilderiano de Veber, co-roteirista da
série "A Gaiola das Loucas".
Mas, ao contrário do policial interpretado por Ryan O'Neal em
"Dois Tiras Meio Suspeitos", outro roteiro de Veber, Pignon não
precisa se comportar ou se vestir
como um gay característico para
convencer os outros. A sacada de
Veber é, como a de Pignon, blefar
com as novas regras do jogo,
substituindo o "travestimento"
habitual do gênero pela cultura
"clean" do politicamente correto.
Pignon, que não é homossexual,
não precisa parecer gay para que
os colegas o vejam e o "respeitem"
enquanto tal. Assim Veber poderá guardar na cartola a inevitável
hora do "travestimento" e tirar o
coelho quando seus parcos, velhos, mas consagrados recursos
acabarem.
O Closet
Le Placard
Direção: Francis Veber
Produção: França, 2001
Com: Daniel Auteuil, Jean Rochefort
Quando: a partir de hoje nos cines
Cinearte, Metrô Santa Cruz e circuito
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