São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 2002

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TEATRO

Atriz protagoniza "Casa de Boneca", que estréia hoje em São Paulo

Arósio visita o mito da bonequinha de luxo

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Beleza hiperexposta em propagandas de operadora telefônica e de multinacional de cosméticos, para não tocar no fenômeno das telenovelas, Ana Paula Arósio empenha-se, há seis anos, em fazer do teatro um contraponto na carreira.
Seu espetáculo mais recente, "Casa de Boneca", do norueguês Henrik Ibsen (1828-1906), um clássico do realismo em oposição ao romantismo da época, inicia temporada hoje no teatro Faap. A direção é de Aderbal Freire-Filho.
Depois do Rio, é a vez de São Paulo aferir a quantas anda o talento de Arósio na arte pela qual diz devotar "paixão" e colher "prazer".
"Tenho consciência de que comecei há pouco tempo e tenho consciência também de onde quero chegar. Quero fazer teatro até morrer", afirma Arósio, 26, sem drama.
Alguns indícios. A atriz chega para a entrevista demonstrando zelo pelo território do palco. Sem cerimônias, retira as botas para pisá-lo (tudo bem que o tablado do Faap está acarpetado).
Instantes depois, preocupa-se com uma garrafa plástica com água colocada à boca de cena. Teme o estrago, que é evitado.
Pode ser cuidado de quem traz na bagagem trabalhos com Celso Nunes ("Batom", de Walcyr Carrasco), Antônio Abujamra ("Phedra", de Racine, e "Diário Secreto de Adão e Eva", de Mark Twain) e Del Rangel ("Harmonia em Negro", de Aldo Nicolai).
Mas pode ser também desvelo empresarial. Há três montagens Arósio figura também como produtora associada. "É a única maneira de fazer o que eu quero, e com a qualidade que eu quero."
Em "Casa de Boneca", ela interpreta Nora, uma vitrine de beleza e bons modos em um casamento de oito anos. No curso de três dias, porém, a protagonista dá uma guinada em sua vida. Abandona aquilo de que nunca se apropriou, a condição de mulher, de mãe, a estabilidade financeira, a fachada social, enfim, e troca tudo pela liberdade de ir adiante pelas próprias pernas.
"Nora foi instruída e jogada ali, num casamento arranjado, como todas as mulheres o foram no século 19. Ela se transforma para abandonar a vida que nunca foi dela", diz Arósio sobre o papel que Tônia Carrero, outro mito da beleza, interpretou em 1972.
A atriz não vê propriamente bandeira feminista na personagem, como alertou Ibsen, apesar da ênfase na situação social da mulher que, aliás, segue desfavorável em muitos cantos. O que move Nora, crê Arósio, é o impulso da busca intrínseca do ser humano por liberdade.
"Libertando-se da doce prisão da sua casa de boneca, Nora nos salva a todos, mulheres e homens", diz o diretor Freire-Filho.
O advogado Helmer (Marcos Winter) mima Nora tal qual boneca de luxo. A montagem reforça a infantilidade da protagonista. No início da história, ela manifesta comportamentos de criança, deseja pular corda como os filhos o fazem, ainda que a adaptação não os coloquem em cena. Tudo desmorona (dependendo do ponto de vista) quando vem à tona um segredo de Nora.


CASA DE BONECA - de Henrik Ibsen. Tradução: Karl Erik Schollhammer. Direção: Aderbal Freire-Filho. Com: Ana Paula Arósio, Floriano Peixoto, Marcos Winter, Michel Bercovitch e Silvia Buarque. Cenografia: José Manuel Castanheira. Figurino: Rosa Magalhães. Iluminação: Maneco Quinderê. Onde: teatro Faap (r. Alagoas, 903, Higienópolis, 0/xx/11/3662-1992). Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h. Quanto: de R$ 30 a R$ 40. Patrocinador: Embratel.



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