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TEATRO
Atriz protagoniza "Casa de Boneca", que estréia hoje em São Paulo
Arósio visita o mito da bonequinha de luxo
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Beleza hiperexposta em propagandas de operadora telefônica e
de multinacional de cosméticos,
para não tocar no fenômeno das
telenovelas, Ana Paula Arósio
empenha-se, há seis anos, em fazer do teatro um contraponto na
carreira.
Seu espetáculo mais recente,
"Casa de Boneca", do norueguês
Henrik Ibsen (1828-1906), um
clássico do realismo em oposição
ao romantismo da época, inicia
temporada hoje no teatro Faap. A
direção é de Aderbal Freire-Filho.
Depois do Rio, é a vez de São
Paulo aferir a quantas anda o talento de Arósio na arte pela qual
diz devotar "paixão" e colher
"prazer".
"Tenho consciência de que comecei há pouco tempo e tenho
consciência também de onde
quero chegar. Quero fazer teatro
até morrer", afirma Arósio, 26,
sem drama.
Alguns indícios. A atriz chega
para a entrevista demonstrando
zelo pelo território do palco. Sem
cerimônias, retira as botas para
pisá-lo (tudo bem que o tablado
do Faap está acarpetado).
Instantes depois, preocupa-se
com uma garrafa plástica com
água colocada à boca de cena. Teme o estrago, que é evitado.
Pode ser cuidado de quem traz
na bagagem trabalhos com Celso
Nunes ("Batom", de Walcyr Carrasco), Antônio Abujamra ("Phedra", de Racine, e "Diário Secreto
de Adão e Eva", de Mark Twain) e
Del Rangel ("Harmonia em Negro", de Aldo Nicolai).
Mas pode ser também desvelo
empresarial. Há três montagens
Arósio figura também como produtora associada. "É a única maneira de fazer o que eu quero, e
com a qualidade que eu quero."
Em "Casa de Boneca", ela interpreta Nora, uma vitrine de beleza
e bons modos em um casamento
de oito anos. No curso de três
dias, porém, a protagonista dá
uma guinada em sua vida. Abandona aquilo de que nunca se
apropriou, a condição de mulher,
de mãe, a estabilidade financeira,
a fachada social, enfim, e troca tudo pela liberdade de ir adiante pelas próprias pernas.
"Nora foi instruída e jogada ali,
num casamento arranjado, como
todas as mulheres o foram no século 19. Ela se transforma para
abandonar a vida que nunca foi
dela", diz Arósio sobre o papel
que Tônia Carrero, outro mito da
beleza, interpretou em 1972.
A atriz não vê propriamente
bandeira feminista na personagem, como alertou Ibsen, apesar
da ênfase na situação social da
mulher que, aliás, segue desfavorável em muitos cantos. O que
move Nora, crê Arósio, é o impulso da busca intrínseca do ser humano por liberdade.
"Libertando-se da doce prisão
da sua casa de boneca, Nora nos
salva a todos, mulheres e homens", diz o diretor Freire-Filho.
O advogado Helmer (Marcos
Winter) mima Nora tal qual boneca de luxo. A montagem reforça a infantilidade da protagonista.
No início da história, ela manifesta comportamentos de criança,
deseja pular corda como os filhos
o fazem, ainda que a adaptação
não os coloquem em cena. Tudo
desmorona (dependendo do
ponto de vista) quando vem à tona um segredo de Nora.
CASA DE BONECA - de Henrik Ibsen.
Tradução: Karl Erik Schollhammer.
Direção: Aderbal Freire-Filho. Com: Ana
Paula Arósio, Floriano Peixoto, Marcos
Winter, Michel Bercovitch e Silvia
Buarque. Cenografia: José Manuel
Castanheira. Figurino: Rosa Magalhães.
Iluminação: Maneco Quinderê. Onde:
teatro Faap (r. Alagoas, 903,
Higienópolis, 0/xx/11/3662-1992).
Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb.,
às 21h; dom., às 18h. Quanto: de R$ 30 a
R$ 40. Patrocinador: Embratel.
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