São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 2005

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CINEMA

Diretor paulistano faz seqüência de "Boleiros" em locações como o estádio do Pacaembu, em SP

Giorgetti volta a entrar em campo

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

As luzes do estádio do Pacaembu, em SP, foram acesas nas noites de quinta e sexta passadas. Nas arquibancadas, não havia mais que 200 pessoas; no gramado, os jogadores eram secundários. Em campo, Lima Duarte, Denise Fraga e Duda Mamberti atuavam sob chuva artificial e holofotes.
Os atores participam de uma das histórias de "Boleiros 2", título provisório do novo filme do diretor Ugo Giorgetti. Com estrutura semelhante a "Boleiros - Era uma Vez o Futebol...", o filme tem apenas essa cena gravada dentro de um estádio.
"Não é um filme sobre o futebol, é sobre pessoas que de alguma forma têm suas vidas ligadas ao esporte", explica o diretor e roteirista de 62 anos.
"Seria medíocre se eu pretendesse mostrar o futebol. A TV já faz isso muito bem. Enquanto cineasta, me interesso pelas pessoas que transitam pelo futebol."
O primeiro "Boleiros", de 1997, mostra um grupo de ex-jogadores que se reúne em torno de uma mesa de bar para contar "causos" relacionados ao esporte.
Adriano Stuart, Flávio Migliaccio e Rogério Cardoso faziam parte da turma do botequim. Nas seis histórias narradas por eles, aparecem, entre outros, Otávio Augusto -como um corrupto juiz que faz tudo para que um time ganhe do Juventus- e Denise Fraga -a simplória mulher de um jogador em ascensão.
A atriz faz no novo filme o papel de árbitro de uma partida entre São Paulo e Botafogo, e Lima, Edil, o mesmo personagem que interpretou no longa anterior.
Agora técnico do São Paulo, Edil é expulso de campo e começa a instruir o seu auxiliar, Barbosa (Duda Mamberti), por meio de rádio, mas esse se rebela e passa a comandar o time com suas idéias.
"Não importa o resultado nem o time está em questão", diz Giorgetti. É a ambição, segundo o diretor, que está em foco.
"O assistente dá nova versão ao jogo. Ele vê uma oportunidade, começa a tomar iniciativas próprias e acaba fazendo tudo errado", revela.
No primeiro filme, o problema de Edil era a personagem de Marisa Orth, uma gostosona que desvia a atenção do craque do time do Corinthians na véspera de um confronto com o Palmeiras.
A passagem do tempo e a transformação do futebol na última década é registrada no novo filme. O técnico vai ao campo vestido de terno e gravata, e o boteco dos boleiros se transforma em um sofisticado estabelecimento.
A reforma do bar é feita depois que um grupo, do qual faz parte um brasileiro que joga no futebol europeu, compra o lugar. A maioria das cenas acontecem nesses cenários, o bar antes e depois.
"Para mim, fica horrível, mas tem gente que vai achar chique", diz o cineasta.
Povoam esse "novo" universo empresários, patrocinadores, agentes e jogadores que são contratados (ou que gostariam de ser) por times no exterior.
Por meio dessa fauna futebolística, o diretor pretende representar toda a sociedade, usando sempre o viés do humor.
"É uma leitura possível do Brasil hoje. Não se trata meramente da representação do jogo de futebol, mas da máquina de fazer dinheiro e da sociedade que contempla e depois despreza."
Para rodar o filme (as gravações começaram há dez dias e prosseguem até 15 de maio), Giorgetti captou menos da metade do orçamento de cerca de R$ 3 milhões e conta com a colaboração da equipe, que trabalha "mais pelo projeto".
Depois de finalizar "Boleiros 2", o diretor deve encerrar seu casamento com o esporte, pelo menos no cinema. "Não pretendo voltar a esse tema, a não ser em uma série para a televisão, num formato parecido: encarar o futebol por seus personagens."


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