|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Diretor paulistano faz seqüência de "Boleiros" em locações como o estádio do Pacaembu, em SP
Giorgetti volta a entrar em campo
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
As luzes do estádio do Pacaembu, em SP, foram acesas nas noites de quinta e sexta passadas. Nas
arquibancadas, não havia mais
que 200 pessoas; no gramado, os
jogadores eram secundários. Em
campo, Lima Duarte, Denise Fraga e Duda Mamberti atuavam sob
chuva artificial e holofotes.
Os atores participam de uma
das histórias de "Boleiros 2", título provisório do novo filme do diretor Ugo Giorgetti. Com estrutura semelhante a "Boleiros - Era
uma Vez o Futebol...", o filme tem
apenas essa cena gravada dentro
de um estádio.
"Não é um filme sobre o futebol,
é sobre pessoas que de alguma
forma têm suas vidas ligadas ao
esporte", explica o diretor e roteirista de 62 anos.
"Seria medíocre se eu pretendesse mostrar o futebol. A TV já
faz isso muito bem. Enquanto cineasta, me interesso pelas pessoas
que transitam pelo futebol."
O primeiro "Boleiros", de 1997,
mostra um grupo de ex-jogadores
que se reúne em torno de uma
mesa de bar para contar "causos"
relacionados ao esporte.
Adriano Stuart, Flávio Migliaccio e Rogério Cardoso faziam parte da turma do botequim. Nas seis
histórias narradas por eles, aparecem, entre outros, Otávio Augusto -como um corrupto juiz que
faz tudo para que um time ganhe
do Juventus- e Denise Fraga -a
simplória mulher de um jogador
em ascensão.
A atriz faz no novo filme o papel
de árbitro de uma partida entre
São Paulo e Botafogo, e Lima,
Edil, o mesmo personagem que
interpretou no longa anterior.
Agora técnico do São Paulo,
Edil é expulso de campo e começa
a instruir o seu auxiliar, Barbosa
(Duda Mamberti), por meio de
rádio, mas esse se rebela e passa a
comandar o time com suas idéias.
"Não importa o resultado nem
o time está em questão", diz Giorgetti. É a ambição, segundo o diretor, que está em foco.
"O assistente dá nova versão ao
jogo. Ele vê uma oportunidade,
começa a tomar iniciativas próprias e acaba fazendo tudo errado", revela.
No primeiro filme, o problema
de Edil era a personagem de Marisa Orth, uma gostosona que desvia a atenção do craque do time
do Corinthians na véspera de um
confronto com o Palmeiras.
A passagem do tempo e a transformação do futebol na última década é registrada no novo filme. O
técnico vai ao campo vestido de
terno e gravata, e o boteco dos boleiros se transforma em um sofisticado estabelecimento.
A reforma do bar é feita depois
que um grupo, do qual faz parte
um brasileiro que joga no futebol
europeu, compra o lugar. A maioria das cenas acontecem nesses
cenários, o bar antes e depois.
"Para mim, fica horrível, mas
tem gente que vai achar chique",
diz o cineasta.
Povoam esse "novo" universo
empresários, patrocinadores,
agentes e jogadores que são contratados (ou que gostariam de
ser) por times no exterior.
Por meio dessa fauna futebolística, o diretor pretende representar toda a sociedade, usando sempre o viés do humor.
"É uma leitura possível do Brasil
hoje. Não se trata meramente da
representação do jogo de futebol,
mas da máquina de fazer dinheiro
e da sociedade que contempla e
depois despreza."
Para rodar o filme (as gravações
começaram há dez dias e prosseguem até 15 de maio), Giorgetti
captou menos da metade do orçamento de cerca de R$ 3 milhões e
conta com a colaboração da equipe, que trabalha "mais pelo projeto".
Depois de finalizar "Boleiros 2",
o diretor deve encerrar seu casamento com o esporte, pelo menos
no cinema. "Não pretendo voltar
a esse tema, a não ser em uma série para a televisão, num formato
parecido: encarar o futebol por
seus personagens."
Texto Anterior: Dança/crítica: Julio Bocca encena alegrias e nostalgias no Municipal Próximo Texto: Festival de Buenos Aires busca o cinema do risco, da inquietação Índice
|