São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 2005

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ARQUITETURA

Cidade celebrará o espanhol, responsável pelo projeto do novo terminal do WTC, com mostra no Metropolitan

NY une formas de Calatrava em exposição

CLARE HENRY
DO "FINANCIAL TIMES"

Os elegantes edifícios e pontes do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, com suas linhas amplas e ascendentes, já se tornaram sua marca registrada em lugares que vão de Malmo ao Qatar, de Berlim a Buenos Aires.
Desde que foi contratado para projetar o novo terminal de transportes do World Trade Center, no Ponto Zero de Nova York, uma obra orçada em US$ 2 bilhões (R$ 5,18 bilhões), Calatrava virou figurinha carimbada na cidade, para onde se desloca com freqüência, vindo de seu quartel-general em Zurique ou dos projetos que leva adiante em outras cidades. Alguns acreditam que, muito mais do que a polêmica Freedom Tower, é seu terminal que pode acabar funcionando de fato como símbolo da ressurreição do Ponto Zero. A importância do projeto Ponto Zero levou Calatrava a abrir um segundo escritório em Manhattan e uma segunda residência na cidade, uma casa na Park Avenue.
Nas últimas semanas, o arquiteto recebeu o 40º troféu da carreira: a Medalha de Ouro, a mais alta homenagem prestada pelo Instituto Americano de Arquitetos. Em seguida, foi agraciado com o troféu McDermott Award do Massachusetts Institute of Technology, no valor de US$ 70 mil (R$ 181,59 mil) e seu 13º doutorado honorário. Em outubro Nova York vai festejá-lo com uma mostra no Metropolitan Museum.
"Sempre desenhei", diz Calatrava. "Minha mulher não quer que eu desenhe, mas é mais forte do que eu. É uma necessidade."
Calatrava tem 60 mil desenhos registrados em cadernos cuidadosamente guardados. Diante de nós, um longo friso de touros saltitantes ziguezagueia pela mesa. Um caderno é para desenhos a lápis, outro para aquarelas: desenhos de cerâmicas para serem criadas num ateliê de cerâmica perto de Valência, onde Calatrava nasceu em 1951. Outro par de cadernos contém desenhos arquitetônicos, muitos coloridos em aquarela. Calatrava sempre trabalha com os dois cadernos abertos ao mesmo tempo, para que possa deslocar-se entre um e outro, acompanhando seu cérebro que avança rápido enquanto a tinta tem tempo de secar.
Historicamente, a capacidade de desenhar sempre foi pré-requisito do arquiteto, mas a situação começou a mudar a partir dos anos 1960, e hoje o computador tem um papel cada vez maior em seu trabalho. Calatrava, porém, não apenas possui uma facilidade de expressão e fluência extraordinária ao desenhar, como também, como arquiteto e engenheiro, consegue criar visões que poderão se conservar em pé.
O trabalho de desenho de Calatrava assume muitas formas, mas sempre parte de uma exploração intelectual intensa. "Você sai à procura do passo seguinte. Você não deixa sua mão correr livremente, não faz simplesmente um arabesco ou desenho agradável qualquer. É preciso um esforço intelectual tremendo, então você visualiza, passo a passo. O processo do desenho ajuda você a resolver o problema... Também ajuda você a perceber se está copiando de alguém, até de você mesmo!"
Em janeiro de 2004 Calatrava conquistou a adesão de um público grande na apresentação do polêmico projeto do terminal do Ponto Zero quando pegou lápis e pincéis para desenhar no próprio palco a nova construção, cujo desenho, afirma, foi inspirado pela imagem de um pássaro solto da mão de uma criança.
Em fevereiro, pessoas assistiram, fascinadas, a Calatrava pegar grandes folhas de papel para desenhar o Atlanta Symphony Centre. Também ele tem asas -para mostrar "a singularidade e qualidade escultural" da sala de concertos.
A arte independente de Calatrava raramente foi vista. Sua exposição solo também é uma novidade para o Metropolitan Museum, diz o curador Gary Tinterow. "Já tivemos mostras históricas ligadas a arquitetos, mas nunca algo como isto. Quero demonstrar como muitas das formas arquitetônicas notáveis de Calatrava têm sua origem em seu trabalho pessoal, em muitos casos em trabalhos de muitos anos antes. As esculturas são objetos belos por si sós e iluminam as construções de Calatrava de maneira fabulosa."
O Met vai expor 30 esculturas de mármore, bronze e aço, ao lado de desenhos e modelos. "A arquitetura se limita ao que é prático", diz Calatrava. "A escultura é mais livre." Suas esculturas são todas abstratas, cubos e cones - "a pureza geométrica é importante aqui"- e muitas vezes estão relacionadas a seu fascínio com "o mistério de por que ficamos em pé, como nos movimentamos". Calatrava rapidamente desenha uma figura humana, sua espinha, vértebras e discos, para explicar como transpôs essa estrutura para um modelo matemático na forma redonda. "Quanto mais tensão você aplica, maior a torção da espinha. Estou interessado no problema da tensão e da atração gravitacional."
Essas "esculturas à moda de Espinoza" de cubos de mármore empilhados no espaço, criadas há uma década, resultaram no projeto nova-iorquino mais recente de Calatrava, o edifício South Street Tower. Doze cubos, cada um formado por quatro andares, serão puxados em cantiléver desde o eixo vertical da torre, criando 12 residências penduradas sobre água.
O que Calatrava pensa dos computadores? "Nunca uso. É como dirigir um caminhão -para mim, é mais fácil trabalhar com lápis. Mas é verdade que os computadores resolvem problemas geométricos. O computador é uma interface entre homem e máquina que é tremendo para o futuro da arquitetura. Precisamos considerá-lo com otimismo."


Tradução de Clara Allain

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