|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARQUITETURA
Cidade celebrará o espanhol, responsável pelo projeto do novo terminal do WTC, com mostra no Metropolitan
NY une formas de Calatrava em exposição
CLARE HENRY
DO "FINANCIAL TIMES"
Os elegantes edifícios e pontes
do arquiteto espanhol Santiago
Calatrava, com suas linhas amplas e ascendentes, já se tornaram
sua marca registrada em lugares
que vão de Malmo ao Qatar, de
Berlim a Buenos Aires.
Desde que foi contratado para
projetar o novo terminal de transportes do World Trade Center, no
Ponto Zero de Nova York, uma
obra orçada em US$ 2 bilhões (R$
5,18 bilhões), Calatrava virou figurinha carimbada na cidade, para onde se desloca com freqüência, vindo de seu quartel-general
em Zurique ou dos projetos que
leva adiante em outras cidades.
Alguns acreditam que, muito
mais do que a polêmica Freedom
Tower, é seu terminal que pode
acabar funcionando de fato como
símbolo da ressurreição do Ponto
Zero. A importância do projeto
Ponto Zero levou Calatrava a
abrir um segundo escritório em
Manhattan e uma segunda residência na cidade, uma casa na
Park Avenue.
Nas últimas semanas, o arquiteto recebeu o 40º troféu da carreira:
a Medalha de Ouro, a mais alta
homenagem prestada pelo Instituto Americano de Arquitetos.
Em seguida, foi agraciado com o
troféu McDermott Award do
Massachusetts Institute of Technology, no valor de US$ 70 mil
(R$ 181,59 mil) e seu 13º doutorado honorário. Em outubro Nova
York vai festejá-lo com uma mostra no Metropolitan Museum.
"Sempre desenhei", diz Calatrava. "Minha mulher não quer que
eu desenhe, mas é mais forte do
que eu. É uma necessidade."
Calatrava tem 60 mil desenhos
registrados em cadernos cuidadosamente guardados. Diante de
nós, um longo friso de touros saltitantes ziguezagueia pela mesa.
Um caderno é para desenhos a lápis, outro para aquarelas: desenhos de cerâmicas para serem
criadas num ateliê de cerâmica
perto de Valência, onde Calatrava
nasceu em 1951. Outro par de cadernos contém desenhos arquitetônicos, muitos coloridos em
aquarela. Calatrava sempre trabalha com os dois cadernos abertos
ao mesmo tempo, para que possa
deslocar-se entre um e outro,
acompanhando seu cérebro que
avança rápido enquanto a tinta
tem tempo de secar.
Historicamente, a capacidade
de desenhar sempre foi pré-requisito do arquiteto, mas a situação
começou a mudar a partir dos
anos 1960, e hoje o computador
tem um papel cada vez maior em
seu trabalho. Calatrava, porém,
não apenas possui uma facilidade
de expressão e fluência extraordinária ao desenhar, como também, como arquiteto e engenheiro, consegue criar visões que poderão se conservar em pé.
O trabalho de desenho de Calatrava assume muitas formas, mas
sempre parte de uma exploração
intelectual intensa. "Você sai à
procura do passo seguinte. Você
não deixa sua mão correr livremente, não faz simplesmente um
arabesco ou desenho agradável
qualquer. É preciso um esforço
intelectual tremendo, então você
visualiza, passo a passo. O processo do desenho ajuda você a resolver o problema... Também ajuda
você a perceber se está copiando
de alguém, até de você mesmo!"
Em janeiro de 2004 Calatrava
conquistou a adesão de um público grande na apresentação do polêmico projeto do terminal do
Ponto Zero quando pegou lápis e
pincéis para desenhar no próprio
palco a nova construção, cujo desenho, afirma, foi inspirado pela
imagem de um pássaro solto da
mão de uma criança.
Em fevereiro, pessoas assistiram, fascinadas, a Calatrava pegar
grandes folhas de papel para desenhar o Atlanta Symphony Centre.
Também ele tem asas -para
mostrar "a singularidade e qualidade escultural" da sala de concertos.
A arte independente de Calatrava raramente foi vista. Sua exposição solo também é uma novidade
para o Metropolitan Museum, diz
o curador Gary Tinterow. "Já tivemos mostras históricas ligadas a
arquitetos, mas nunca algo como
isto. Quero demonstrar como
muitas das formas arquitetônicas
notáveis de Calatrava têm sua origem em seu trabalho pessoal, em
muitos casos em trabalhos de
muitos anos antes. As esculturas
são objetos belos por si sós e iluminam as construções de Calatrava de maneira fabulosa."
O Met vai expor 30 esculturas de
mármore, bronze e aço, ao lado
de desenhos e modelos. "A arquitetura se limita ao que é prático",
diz Calatrava. "A escultura é mais
livre." Suas esculturas são todas
abstratas, cubos e cones - "a pureza geométrica é importante
aqui"- e muitas vezes estão relacionadas a seu fascínio com "o
mistério de por que ficamos em
pé, como nos movimentamos".
Calatrava rapidamente desenha
uma figura humana, sua espinha,
vértebras e discos, para explicar
como transpôs essa estrutura para um modelo matemático na forma redonda. "Quanto mais tensão você aplica, maior a torção da
espinha. Estou interessado no
problema da tensão e da atração
gravitacional."
Essas "esculturas à moda de Espinoza" de cubos de mármore
empilhados no espaço, criadas há
uma década, resultaram no projeto nova-iorquino mais recente de
Calatrava, o edifício South Street
Tower. Doze cubos, cada um formado por quatro andares, serão
puxados em cantiléver desde o eixo vertical da torre, criando 12 residências penduradas sobre água.
O que Calatrava pensa dos computadores? "Nunca uso. É como
dirigir um caminhão -para
mim, é mais fácil trabalhar com
lápis. Mas é verdade que os computadores resolvem problemas
geométricos. O computador é
uma interface entre homem e máquina que é tremendo para o futuro da arquitetura. Precisamos
considerá-lo com otimismo."
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Texto preserva linguagem das ruas Próximo Texto: Arte eletrônica: Mostra exibe videorretrospectiva sobre ícones da expressão digital Índice
|