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HEINEKEN CONCERTS
Cubanos transformam SP em clube de Havana
CARLOS CALADO
especial para a Folha
O público que lotou o Tom Brasil, na última sexta-feira, não esquecerá tão cedo a festa dançante
em que se transformou a noite cubana do Heineken Concerts.
Depois de três horas de show, a
suada platéia ainda exigiu que a
banda Afro-Cuban All Stars e os
cantores Compay Segundo, Ibrahím Ferrer, Omara Portuondo e
Manuel Licea voltassem ao palco.
Era como se todos ali, num passe
de mágica, tivessem sido transportados para um feérico clube noturno de Havana, na década de 50. Até
mesmo uma bandeira de Cuba
surgiu à frente do palco.
O carismático Compay Segundo,
91, abriu a noite com seus Muchachos. Interpretou uma seleção recheada de ritmos tradicionais da
ilha, como a guajira, o danzón e o
son. E emocionou a platéia com o
bolero "Veinte Años", cantando
em duo com Omara Portuondo.
Em tom de homenagem, Segundo tocou até uma inusitada versão
de "Na Baixa do Sapateiro" (de Ary
Barroso), reforçada por uma pérola: "A música do Brasil é uma das
mais lindas para mim, porque é
bonita e complicada", disse.
A entrada dos Afro-Cuban All
Stars transformou o show em baile. Os arranjos do maestro Juan de
Marcos González (verdadeiro responsável pelo resgate desses músicos da velha guarda cubana) produzem um impacto sonoro semelhante ao de uma banda de salsa,
mesmo lidando com canções e ritmos mais tradicionais.
Entre várias surpresas, a primeira foi a aparição do lendário Guillermo Rubalcaba (pai do virtuose
Gonzalo), que se alternou ao piano
com o brilhante Rubén Gonzáles.
Foi a chance de comparar dois estilos clássicos: o velho Rubalcaba é
mais percussivo; González tende a
soar mais melódico.
Outra boa surpresa foi a inclusão
no show de uma típica "descarga"
-o equivalente cubano para as
"jam sessions" do jazz. Os improvisos dos instrumentistas da orquestra arrancaram aplausos, com
direito até a uma citação de "Summertime" (Gershwin).
Quem estranhou as versões de
canções como "Chan Chan" e "De
Camino a la Vereda" -menos polidas que as gravadas no best-seller
"Buena Vista Social Club"- esqueceu algo importante.
Em vez de arranjos feitos para inglês ver e ouvir, a platéia brasileira
teve a chance de conhecer os verdadeiros sons da ilha.
Tomara que essa noite especial
enterre aqui um inexplicável preconceito contra a música cubana.
Avaliação:
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