São Paulo, Segunda-feira, 12 de Abril de 1999
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HEINEKEN CONCERTS

Cubanos transformam SP em clube de Havana

CARLOS CALADO
especial para a Folha

O público que lotou o Tom Brasil, na última sexta-feira, não esquecerá tão cedo a festa dançante em que se transformou a noite cubana do Heineken Concerts.
Depois de três horas de show, a suada platéia ainda exigiu que a banda Afro-Cuban All Stars e os cantores Compay Segundo, Ibrahím Ferrer, Omara Portuondo e Manuel Licea voltassem ao palco.
Era como se todos ali, num passe de mágica, tivessem sido transportados para um feérico clube noturno de Havana, na década de 50. Até mesmo uma bandeira de Cuba surgiu à frente do palco.
O carismático Compay Segundo, 91, abriu a noite com seus Muchachos. Interpretou uma seleção recheada de ritmos tradicionais da ilha, como a guajira, o danzón e o son. E emocionou a platéia com o bolero "Veinte Años", cantando em duo com Omara Portuondo.
Em tom de homenagem, Segundo tocou até uma inusitada versão de "Na Baixa do Sapateiro" (de Ary Barroso), reforçada por uma pérola: "A música do Brasil é uma das mais lindas para mim, porque é bonita e complicada", disse.
A entrada dos Afro-Cuban All Stars transformou o show em baile. Os arranjos do maestro Juan de Marcos González (verdadeiro responsável pelo resgate desses músicos da velha guarda cubana) produzem um impacto sonoro semelhante ao de uma banda de salsa, mesmo lidando com canções e ritmos mais tradicionais.
Entre várias surpresas, a primeira foi a aparição do lendário Guillermo Rubalcaba (pai do virtuose Gonzalo), que se alternou ao piano com o brilhante Rubén Gonzáles. Foi a chance de comparar dois estilos clássicos: o velho Rubalcaba é mais percussivo; González tende a soar mais melódico.
Outra boa surpresa foi a inclusão no show de uma típica "descarga" -o equivalente cubano para as "jam sessions" do jazz. Os improvisos dos instrumentistas da orquestra arrancaram aplausos, com direito até a uma citação de "Summertime" (Gershwin).
Quem estranhou as versões de canções como "Chan Chan" e "De Camino a la Vereda" -menos polidas que as gravadas no best-seller "Buena Vista Social Club"- esqueceu algo importante.
Em vez de arranjos feitos para inglês ver e ouvir, a platéia brasileira teve a chance de conhecer os verdadeiros sons da ilha.
Tomara que essa noite especial enterre aqui um inexplicável preconceito contra a música cubana.



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