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Viva Compay Segundo e a 3ª idade!
JORGE MAUTNER
especial para a Folha
Antes do início do espetáculo já
há um grande frenesi pelo ar. Grupos de pessoas fofocando e sorrindo e já tomados por uma atmosfera cubana. A casa está lotadíssima,
cheia de pessoas em pé.
Quando entram Compay Segundo y Sus Muchachos, a casa quase
vem abaixo de tantos aplausos.
Acompanhado por guitarra, baixo,
violão e percussão, o cantor e instrumentista Compay Segundo,
com seus 91 anos e sua irradiante
simpatia, conquista toda platéia
presente tão logo entra em cena.
Sua voz, jeito de tocar e mímicas
faciais atingem o máximo de malabarismo artístico de altíssima qualidade quando provoca as gargalhadas da platéia ao rebolar com
movimentos sexuais seus quadris
como se estivesse copulando no ar.
A eletricidade de uma alegria
constante e permanente percorre o
ar. A cantora Omara Portuondo
entra e é aclamada. Quando Segundo se retira, há um breve intervalo e o programa prossegue com a
entrada dos Afro-Cuban All Stars.
O naipe de metais começa a fazer
ferver o ambiente. O trombonista
Jésus Ramos Redonet faz seu solo e
nele se percebem a sutilidade, a
plasticidade e a percussão que nos
é tão familiar, que vem dos candomblés e dos terreiros.
Em um dos cantos, como um pau
de santo, Ramos Redonet canta
-sim, porque também é cantor,
como todos os outros músicos-,
"turururimbim: mandinga!". Como se vê, a mandinga vem dos nossos terreiros e dos terreiros deles
também.
O cantor e poeta Ibrahim Ferrer
tem 63 anos. Ao cantar sozinho e
depois em dueto com Omara, além
do ritmo dos terreiros o palco está
inundado por um estremecimento
de alma romântico, porque ambos
cantam canções do coração que falam de gardênias, açucenas e rosas.
Entre tantas estrelas quero destacar a presença dos percussionistas
e também do grande pianista Rubén González, que nasceu em 1919
e que ao tocar seu piano eleva a
nossa alma até Deus. Enquanto ele
arranca uivos de beleza de seu piano, o cantor e poeta Ibrahim Ferrer, 63, em dueto com Omara, atiça
a platéia a cantar com eles, terminando o espetáculo como em um
mantra em que a cultura brasileira
e a cubana se reconhecem como
primas, talvez até irmãs.
Depois, é claro, voltam para o bis
exigido por nova tempestade de
aplausos. Por mim, eles poderiam
bisar por toda a eternidade.
Avaliação:
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Jorge Mautner é cantor, compositor e escritor.
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