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Shirley Horn e a noite do silêncio
SÉRGIO DÁVILA
Editor da Ilustrada
Não, ela não estava mais resfriada. E conseguiu de novo. A cantora
e pianista Shirley Horn arrebatou a
platéia cheia do Alfa Real, na noite
de sexta-feira, a golpes de sutileza,
virtuosismo e silêncio.
Foram seis músicas de Tom Jobim e 50 minutos de show, amparados pelo verdadeiro "tapete" sonoro cerzido pelo baterista Steve
Williams e o baixista Charles Ables
(sempre com seu braço seguro e
óculos de super-herói).
À frente, este caso raro de combinação perfeita entre cantora e pianista (Nina Simone pode ser instrumentista mais exuberante, mas
a voz fica a dever à de Horn).
Isso ficou claro na última música,
"How Insensitive" (em que trocava o verso final "when a love affair
is over" para "when a love affair is
ended", da mesma maneira que
masculinizou todas as referências
femininas das músicas de Jobim,
como em "Boy from Ipanema").
Assim, enquanto conseguia a
magia de pontuar suas frases com
interjeições que são verdadeiros
pizicatos vocais, afinal nos lembrando que a voz é também um
instrumento de cordas, o teclado
acompanhava com staccatos, numa harmonia tão perfeita quanto
só conseguem a voz de João Gilberto e seu violão. Aliás, o brasileiro
era referência também na relação
de Shirley Horn com o silêncio. Os
dois músicos talvez sejam os únicos, hoje, que arrancam do público
nacos prazerosos de silêncio.
A noite terminou com a única
não jobiniana, o bis "Here's to Life", do disco homônimo de 1992.
Um brinde à vida.
Zimbo Trio e Lee Konitz
A seguir, entrou o veterano Zimbo Trio, 35, num caso flagrante de
equívoco de programação, já que a
ordem contrária seria a lógica.
Na verdade, a lógica seria a não
participação dos brasileiros, que
foi, numa palavra, constrangedora. Continuam fazendo uma leitura velha, folclórica, no mau sentido, do jazz. Abriram com "Garota
de Ipanema" seguida de um pot-pourri de Jobim, num clima banda
de restaurante.
Então, um deslocado Lee Konitz
entrou, tocou "Luiza" e quase foi
engolido pelo trio, que confundia
barulho com empolgação. Aí, a
sensação já era de show de formatura de conservatório musical.
Para não dizer que tudo foi um
horror e em honra à lembrança
ainda fresca de Shirley Horn nos
ouvidos, o sax alto de Konitz e o
piano de Amilton Godoy executaram uma bela "Triste". E só.
Avaliação:
(Horn);
(Zimbo Trio e Konitz)
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