São Paulo, segunda, 12 de maio de 1997.



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SHOW
Shaggy e Pato Banton são destaques da 2ª edição do festival, que reuniu mais quatro atrações internacionais
Ruffles Reggae leva 32 mil ao Ibirapuera

ANA CRISTINA PESSINI
do Guia da Folha

Depois de passar por Porto Alegre e Rio de Janeiro, o Ruffles Reggae chegou a São Paulo na última sexta-feira trazendo seis atrações internacionais do gênero, entre elas, o jamaicano Shaggy. Inspirado no Reggae Sunsplash, o festival reuniu apenas 32 mil pessoas. Na primeira edição, em 96, o público chegou a 170 mil, em duas noites.
A "maratona rastafari" durou mais de oito horas na pista de atletismo do Ibirapuera, que comporta 40 mil pessoas. Prevaleceu o clima "paz e amor", com poucas ocorrências policiais. No local, havia 161 policiais da tropa de choque, mais 26 policiais femininas, que faziam vistorias rigorosas.
Isso não impediu que muitos fumassem cigarros de maconha, um dos símbolos máximos da cultura rastafari. Por conta disso, 58 pessoas foram qualificadas por porte de entorpecentes, tendo sido encaminhadas para o juizado de menores ou para o 36º DP. Nenhum incidente grave foi registrado.
As ocorrências médicas se restringiram a 30 casos de hipotensão (pressão baixa) causados mais por falta de alimentação.
Depois de dez minutos de atraso, às 18h10, a abertura do festival ficou por conta dos argentinos do Los Pericos. A banda, que teve o disco "King Kong" produzido por Herbert Vianna, começou esquentando o público que ainda chegava ao Ibirapuera apresentando "Parate y Mira" -que ganhou a versão "Loirinha Bombril", gravada pelos Paralamas do Sucesso-, além das músicas do mais recente CD, "Yerbabuena".
Com 20 anos de estrada e autoproclamando-se "os embaixadores do reggae", os jamaicanos do Third World, chegaram mostrando letras politicamente engajadas numa apresentação que teve até regência do vocalista para um solo de violoncelo.
Já o inglês Maxi Priest subiu ao palco do Ruffles prometendo levar o público para uma praia da Jamaica, cantando baladas românticas e esbanjando suingue ao lado de três competentes backing vocals. O público, no entanto, só sentiu a areia nos pés quando Priest entoou, ao lado de Shaggy, os clássicos "Get up, Stand up" e "Redemption Song", de Bob Marley.
Campeão de vendas e estrela do festival, "Mr. Lover Lover" Shaggy arrancou gritinhos da platéia feminina com o "groove" (ritmo) mais esperado da noite, a sensual "Boombastic". Vestindo um casaco de couro, de chapéu e fumando um charuto, o jamaicano ensaiou um striptease abrindo a camisa e desabotoando a calça. "Recebi ótimas vibrações do público", disse Shaggy à Folha depois do show.
Totalmente à vontade com o público brasileiro, de quem já é velho conhecido, Pato Banton manteve o bom astral deixado por Shaggy com os hits "Go Pato" e "Groovin'", de seu mais recente CD "Stay Positive", e encerrando com "Baby Come Back". Também não faltaram os discursos pacifistas de sempre -enrolado numa bandeira com a cara de Bob Marley estampada, Banton disse que reggae não é só cantar e fumar maconha...
Substitutos do grupo africano Alpha Blondy -que teve o show cancelado devido a exigências fora dos padrões, além de já ter deixado de comparecer a outros espetáculos-, os veteranos do Black Uhuru fecharam o Ruffles com o autêntico "roots reggae" (reggae de raiz). Mesmo com o feito de ter sido o primeiro grupo de reggae a ganhar um Grammy, a mudança parece não ter impressionado a maioria do público, que foi deixando o Ibirapuera antes mesmo de o show terminar.



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