PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo com a aparente definição de que a MTV não exibirá o "Acústico" de Roberto Carlos, novos rounds ainda movimentarão o (des)equilíbrio de forças entre a Globo (que detém exclusividade sobre a imagem do cantor), a rede musical e a gravadora Sony (dona da veiculação da voz do artista).
Na tarde de anteontem, Globo e MTV tiveram sua primeira reunião conjunta (antes, o empresário de Roberto, Dody Sirena, intermediava a comunicação), em que se concluiu que não, não haverá um especial de TV.
O desacordo surgiu de a Globo querer impor três câmeras suas na gravação. A MTV enfrentou a todo-poderosa -na quarta, três caminhões levados ao estúdio pelo diretor global Roberto Talma foram barrados na porta.
A Globo, impedida de gerar suas próprias imagens, confirmou o que já constava no contrato original: a MTV não vai exibir o "Acústico". Mas isso não significa necessariamente o fim das negociações. Segundo o diretor financeiro da MTV, Eder Luiz Perez, "ficou decidido que a exibição ficará condicionada à possibilidade de a Globo também ter seu especial. Não acredito que vá querer exibir nossas imagens, mas a possibilidade ainda existe".
Perez explica as razões da MTV para bater pé em manter a Globo à distância: "Talma é espaçoso demais. Soube que tiveram que proibi-lo de usar uma câmera digital nos ensaios. Na reunião, reclamaram que ele estava sendo considerado intruso, mas ele é intruso mesmo nesse caso".
"A Globo foi atabalhoada em tentar pressionar por todos os lados, arrogantemente. Tumultuaria demais a gravação. Seriam técnicas e concepções completamente diferentes atuando juntas, isso não dá certo. Contamos com o apoio de Roberto Carlos, que se conduziu da forma mais coerente o tempo todo."

DVD, manias
Há mais um ponto de discórdia, agora envolvendo também a Sony: não está claro se a exclusividade da Globo se estenderia a um hipotético "Acústico MTV" em forma de DVD doméstico. A Sony afirma que o DVD sairá, em data ainda não definida (o CD está marcado para junho ou julho).
Perez, pela MTV, é mais cuidadoso: "Não posso garantir, mas a princípio isso a Globo não pode impedir. Estudamos a possibilidade, mas não existe até este momento um contrato para o DVD".
A Globo, por sua vez, diz que a reunião de quinta encerrou definitivamente o episódio quanto aos pontos já discutidos: CD, sim; programa de TV, não. Quanto ao aventado DVD, diz que outra rodada de negociações teria de ser iniciada da estaca zero.
Alheio aos mínimos detalhes da negociação de que é protagonista, Roberto Carlos deu dores de cabeça à produção da MTV durante as gravações. As manias do astro renderam episódios de substituição de cortinas, eliminação de luzes roxas, preocupação do artista com pontas demais no cenário, inúmeras trocas de repertório e ordem das músicas, longa indecisão quanto ao figurino (um velho blazer azul comprado por Maria Rita ganhou a parada).
Na tarde de quarta-feira, um numerólogo teria sido convocado para ajudar a definir a disposição final do repertório, que na primeira noite ficou assim: "Detalhes" (71), "As Curvas da Estrada de Santos" (69), "O Calhambeque" (64), "Parei na Contramão" (63), "Por Isso Corro Demais" (67), "É Proibido Fumar" (64), "Olha" (75), "Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos" (71), "Todos Estão Surdos" (71), "Eu te Amo Tanto" (2000), "O Grude" (2000), "Eu Quero Apenas" (74), "Eu te Amo, te Amo, te Amo" (68), "Além do Horizonte" (75), "É Preciso Saber Viver" (74), "Emoções" (81) e "Jesus Cristo" (70).
Uma cascata de intermediários manteve Roberto afastado do contato com a maioria dos profissionais na gravação. Sua filha Luciana tentava puxar o pai para o padrão de "modernidade MTV", mas as arestas foram aos poucos sendo "globizadas" pelo hoje sexagenário (ex)rei do iê-iê-iê.