São Paulo, sábado, 12 de maio de 2001

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CINEMA

Reeditado com 53 minutos a mais que o original de 1979, filme de Coppola estréia em agosto nos Estados Unidos

Cannes vê a nova versão do "Apocalypse"

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Quando começou a rodar "Apocalypse Now" nas Filipinas em 1976, o cineasta Francis Ford Coppola, então com 36 anos, não sabia que estava fazendo o filme que iria mudar sua vida.
Vinha de concluir sua obra preferida até hoje, "A Conversação", que lhe rendera a Palma de Ouro em Cannes e servira para apagar a imagem de "o diretor de "O Poderoso Chefão'", que ele detesta. Decidiu então adaptar o romance "O Coração das Trevas", de Joseph Conrad.
Convidou Martin Sheen para ser o conturbado capitão Willard, mandado pelo Exército durante a Guerra do Vietnã numa missão secreta, cujo objetivo é matar o coronel Kurtz, desertor e supostamente enlouquecido. Marlon Brando topou o segundo papel.
O que poderia dar errado?
Tudo. O filme demorou quase quatro anos para ficar pronto. No meio do caminho, o cineasta vendeu, perdeu ou empenhou tudo o que tinha para colocar na produção, orçada em US$ 16 milhões.
Custou o dobro. Um furacão destruiu parte dos cenários. Brando, que deveria ser um tipo atlético, engordava. Sheen teve um infarto, ficou internado por três meses e voltou a filmar, tudo escondido da imprensa, que apelidou o filme de "Apocalypse When?".
Mas a obra ficou pronta, estreou no Festival de Cannes em 1979, ganhou a Palma de Ouro, rendeu US$ 80 milhões só nos EUA, influenciou para sempre a maneira com que os americanos vêem a Guerra do Vietnã até hoje.
Todo mundo ficou feliz. Menos Coppola. Vinte e um anos depois, ao rever o filme na TV, o cineasta não se reconheceu, lembrou que o filme-base tinha 4 horas e meia e seus negativos estavam num cofre na Filadélfia.
Resolveu remontá-lo. Por seis meses, desde março de 2000, auxiliado pelo diretor de fotografia Vittorio Storaro e o editor Walter Murch, reviu todo o material e reeditou o filme a partir das tomadas originais. O resultado é "Apocalypse Now Redux", que o Festival de Cannes exibiu ontem como título fora de competição. Tem agora 3h16, ou 53 minutos a mais do que o de 1979. Além disso, som e imagem foram remasterizados.
Agora, o percurso rio acima do barco de Willard e sua equipe ficou maior e mais complexo. Ganha uma parada num acampamento quase anárquico, em que o surfista Lance e o cozinheiro Chef transam com coelhinhas da "Playboy" em troca de gasolina.
Mais tarde, a equipe vai encontrar um pequeno exército de franceses que defendem as terras de sua família, no local desde antes da Guerra da Indochina. No final, já no domínio do coronel Kurtz, Brando acaba interagindo mais vezes com Sheen.
O filme estréia em agosto nos EUA e chega ao Brasil até dezembro. Se alguma vez a frase "não perca" teve sentido, é em relação a "Apocalypse Now Redux".



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