São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 2006

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CRÍTICA/"MEU AMOR DE VERÃO"

Filme britânico expõe conflitos do desejo em relação homoerótica

CRÍTICO DA FOLHA

A pós os rapazes que gostam de rapazes terem derramado lágrimas diante do espelho de "Brokeback Mountain", chegou a vez de as garotas que gostam de garotas poderem fazer o mesmo com "Meu Amor de Verão".
O filme, dirigido em 2004 pelo cineasta britânico de origem polonesa Pawel Pawlikowski, narra o encontro de duas adolescentes, Mona (Nathalie Press) e Tamsin (Emily Blunt), numa cidade do interior na Inglaterra e se concentra na descrição da paixão vulcânica que acaba por devorá-las.
A despeito da abordagem homoerótica, o impacto da descoberta amorosa na adolescência já foi tratado em tom menor ou maior dezenas de vezes no cinema. Ciente disso, Pawlikowski não insiste em reinventar a roda.
Com experiência em documentários, o diretor dedica-se aqui a registrar, microscopicamente, os movimentos do desejo na tentativa de compreendê-lo para além da manifestação amorosa.
O modo como o cineasta filma num registro não-idílico a natureza e as paisagens e, ao mesmo tempo, inscreve suas personagens nesses quadros, aproxima seu filme do universo romanesco do escritor britânico D.H. Lawrence, com o qual compartilha uma visão da sexualidade como território de contradições e de conflitos.
Com uma abordagem mais trágica e menos romântica, "Meu Amor de Verão" converte-se num estudo sobre a mecânica das paixões e sobre como sua intensidade é diretamente proporcional ao vazio que ameaça suas personagens. É o que o filme deixa mais evidente quando mostra, em paralelo à paixão das duas garotas, a devoção do irmão de Mona, o ex-detento Phil, à religião.
Condenadas ao tédio, as personagens de "Meu Amor de Verão" partem em busca das várias formas do êxtase -amoroso, sexual, religioso ou da droga- na esperança de nele encontrar o caminho para a redenção.
Mas a essas soluções demasiadamente humanas, Pawlikowski opõe uma natureza indiferente.
Uma breve experiência campestre termina com Tamsin se queixando do frio da noite e das picadas de insetos, num ponto de vista contrário àquele mostrado por Ang Lee em "Brokeback Mountain", por exemplo, onde a fuga para as montanhas servia de abrigo contra os impedimentos da estreita moral social e garantia um lugar para a experiência amorosa.
Aqui, o conflito é interno, é da ordem do desejo, da sua falta e do excesso como forma de suprir a falta. Sem poder contar com a proteção utópica da natureza, suas personagens só conseguem ver na imaginação a força para se livrar do vazio. Mas o que acabam encontrando é apenas um ponto mais alto na montanha, de onde a queda se torna ainda mais dolorosa. (CSC)

Meu Amor de Verão
My Summer of Love
   
Direção: Pawel Pawlikowski
Produção: Reino Unido, 2004
Com: Nathalie Press, Emily Blunt
Quando: a partir de hoje nos cines Espaço Unibanco e circuito



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