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CRÍTICA/"MEU AMOR DE VERÃO"
Filme britânico expõe conflitos do desejo em relação homoerótica
CRÍTICO DA FOLHA
A pós os rapazes que gostam
de rapazes terem derramado
lágrimas diante do espelho de
"Brokeback Mountain", chegou a
vez de as garotas que gostam de
garotas poderem fazer o mesmo
com "Meu Amor de Verão".
O filme, dirigido em 2004 pelo
cineasta britânico de origem polonesa Pawel Pawlikowski, narra
o encontro de duas adolescentes,
Mona (Nathalie Press) e Tamsin
(Emily Blunt), numa cidade do
interior na Inglaterra e se concentra na descrição da paixão vulcânica que acaba por devorá-las.
A despeito da abordagem homoerótica, o impacto da descoberta amorosa na adolescência já
foi tratado em tom menor ou
maior dezenas de vezes no cinema. Ciente disso, Pawlikowski
não insiste em reinventar a roda.
Com experiência em documentários, o diretor dedica-se aqui a
registrar, microscopicamente, os
movimentos do desejo na tentativa de compreendê-lo para além
da manifestação amorosa.
O modo como o cineasta filma
num registro não-idílico a natureza e as paisagens e, ao mesmo
tempo, inscreve suas personagens
nesses quadros, aproxima seu filme do universo romanesco do escritor britânico D.H. Lawrence,
com o qual compartilha uma visão da sexualidade como território de contradições e de conflitos.
Com uma abordagem mais trágica e menos romântica, "Meu
Amor de Verão" converte-se num
estudo sobre a mecânica das paixões e sobre como sua intensidade é diretamente proporcional ao
vazio que ameaça suas personagens. É o que o filme deixa mais
evidente quando mostra, em paralelo à paixão das duas garotas, a
devoção do irmão de Mona, o ex-detento Phil, à religião.
Condenadas ao tédio, as personagens de "Meu Amor de Verão"
partem em busca das várias formas do êxtase -amoroso, sexual,
religioso ou da droga- na esperança de nele encontrar o caminho para a redenção.
Mas a essas soluções demasiadamente humanas, Pawlikowski
opõe uma natureza indiferente.
Uma breve experiência campestre termina com Tamsin se queixando do frio da noite e das picadas de insetos, num ponto de vista
contrário àquele mostrado por
Ang Lee em "Brokeback Mountain", por exemplo, onde a fuga
para as montanhas servia de abrigo contra os impedimentos da estreita moral social e garantia um
lugar para a experiência amorosa.
Aqui, o conflito é interno, é da
ordem do desejo, da sua falta e do
excesso como forma de suprir a
falta. Sem poder contar com a
proteção utópica da natureza,
suas personagens só conseguem
ver na imaginação a força para se
livrar do vazio. Mas o que acabam
encontrando é apenas um ponto
mais alto na montanha, de onde a
queda se torna ainda mais dolorosa.
(CSC)
Meu Amor de Verão
My Summer of Love
Direção: Pawel Pawlikowski
Produção: Reino Unido, 2004
Com: Nathalie Press, Emily Blunt
Quando: a partir de hoje nos cines
Espaço Unibanco e circuito
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