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63º FESTIVAL DE CANNES
"Robin Hood", de Scott, abre Cannes
Marcado pela crise de 2008, festival substitui cineastas consagrados por novos diretores asiáticos e do Leste Europeu
"Seleção foi mais difícil de ser construída", diz o diretor-geral do evento, que defende a luta contra a uniformização do cinema
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
Nunca se pôde negar a Cannes o título da vitrine da diversidade. Mas, neste ano, a variedade de origens chama um tantinho mais a atenção. Na lista
dos filmes selecionados para a
competição oficial e para a
mostra "Um Certo Olhar", são
muitos os nomes de difícil pronúncia: Apichatpong Weerasethakul, Kornél Mundruczó, Im
Sangsoo, Mahamat-Saleh Haroun, Vikramaditya Motwane,
Radu Muntean, Hong Sangsoo.
O festival, que começa hoje,
com a exibição de "Robin
Hood", de Ridley Scott, se estende até o dia 23.
Na entrevista a seguir, o diretor-geral do festival, Thierry
Frémaux, fala sobre esta 63ª
edição, marcada, na seleção,
pela crise de 2008, e, nos preparativos, na semana passada, por
tempestades que atiraram toalhas de linho ao mar.
FOLHA - Cannes espelha o novo poder cultural e econômico da Ásia?
THIERRY FRÉMAUX - A missão histórica do festival é mostrar o
estado da criação ao redor do
mundo. Há 50 anos, o cinema
asiático estava praticamente limitado ao Japão. Depois, novos
países foram se integrando ao
mapa do cinema.
FOLHA - O mercado de cinema havia dito que, neste ano, sentiríamos
os efeitos da crise global sobre os filmes independentes. Vocês perceberam isso durante a seleção?
FRÉMAUX - Sim, a seleção foi
mais difícil de ser construída. O
cinema independente de autor
foi o que mais sofreu os efeitos
da crise. São necessários, em
média, 18 meses para se fazer
um filme. Há exatamente 18
meses, a crise começou. Mas
nada disso aparecerá na edição,
porque a seleção oficial se limita a cerca de 50 filmes, 20 em
competição. Estamos muito satisfeitos com as escolhas.
FOLHA - Os grandes nomes estarão
fora da competição. No ano passado, havia Pedro Almodóvar, Ang
Lee, Quentin Tarantino etc. Como o
senhor analisa essa mudança?
FRÉMAUX - Este é um ano em
que os grandes autores ainda
estão produzindo e nós tivemos
que procurar novos cineastas.
No ano que vem, será diferente.
Para analisar Cannes, é preciso
pegar um espectro de três anos.
FOLHA - A presença de Tim Burton
pode ser considerada uma homenagem à era do 3D e da animação?
FRÉMAUX - Trata-se da escolha
de um grande artista. Seu imaginário já faz parte do cinema.
E Cannes não faz distinção entre um ou outro tipo de cinema.
Mas, com Burton, a fantasia invadirá o festival.
FOLHA - Há uma grande diversidade de países na seleção. Há uma espécie de contabilidade geográfica
na escolha?
FRÉMAUX - O cinema não se resume mais a um diálogo entre
Europa e Estados Unidos. Para
lutar contra a uniformização
das imagens, é fundamental reforçar a diversidade de origens.
Leia a cobertura diária do
Festival de Cannes
www.folha.com.br/101304
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