São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2010

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63º FESTIVAL DE CANNES

"Robin Hood", de Scott, abre Cannes

Marcado pela crise de 2008, festival substitui cineastas consagrados por novos diretores asiáticos e do Leste Europeu

"Seleção foi mais difícil de ser construída", diz o diretor-geral do evento, que defende a luta contra a uniformização do cinema


ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A CANNES

Nunca se pôde negar a Cannes o título da vitrine da diversidade. Mas, neste ano, a variedade de origens chama um tantinho mais a atenção. Na lista dos filmes selecionados para a competição oficial e para a mostra "Um Certo Olhar", são muitos os nomes de difícil pronúncia: Apichatpong Weerasethakul, Kornél Mundruczó, Im Sangsoo, Mahamat-Saleh Haroun, Vikramaditya Motwane, Radu Muntean, Hong Sangsoo.
O festival, que começa hoje, com a exibição de "Robin Hood", de Ridley Scott, se estende até o dia 23. Na entrevista a seguir, o diretor-geral do festival, Thierry Frémaux, fala sobre esta 63ª edição, marcada, na seleção, pela crise de 2008, e, nos preparativos, na semana passada, por tempestades que atiraram toalhas de linho ao mar.

 

FOLHA - Cannes espelha o novo poder cultural e econômico da Ásia?
THIERRY FRÉMAUX
- A missão histórica do festival é mostrar o estado da criação ao redor do mundo. Há 50 anos, o cinema asiático estava praticamente limitado ao Japão. Depois, novos países foram se integrando ao mapa do cinema.

FOLHA - O mercado de cinema havia dito que, neste ano, sentiríamos os efeitos da crise global sobre os filmes independentes. Vocês perceberam isso durante a seleção?
FRÉMAUX
- Sim, a seleção foi mais difícil de ser construída. O cinema independente de autor foi o que mais sofreu os efeitos da crise. São necessários, em média, 18 meses para se fazer um filme. Há exatamente 18 meses, a crise começou. Mas nada disso aparecerá na edição, porque a seleção oficial se limita a cerca de 50 filmes, 20 em competição. Estamos muito satisfeitos com as escolhas.

FOLHA - Os grandes nomes estarão fora da competição. No ano passado, havia Pedro Almodóvar, Ang Lee, Quentin Tarantino etc. Como o senhor analisa essa mudança?
FRÉMAUX
- Este é um ano em que os grandes autores ainda estão produzindo e nós tivemos que procurar novos cineastas. No ano que vem, será diferente. Para analisar Cannes, é preciso pegar um espectro de três anos.

FOLHA - A presença de Tim Burton pode ser considerada uma homenagem à era do 3D e da animação?
FRÉMAUX
- Trata-se da escolha de um grande artista. Seu imaginário já faz parte do cinema. E Cannes não faz distinção entre um ou outro tipo de cinema. Mas, com Burton, a fantasia invadirá o festival.

FOLHA - Há uma grande diversidade de países na seleção. Há uma espécie de contabilidade geográfica na escolha?
FRÉMAUX
- O cinema não se resume mais a um diálogo entre Europa e Estados Unidos. Para lutar contra a uniformização das imagens, é fundamental reforçar a diversidade de origens.

Leia a cobertura diária do Festival de Cannes

www.folha.com.br/101304



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