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CRÍTICA
"América" ganha erotização e audiência
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
"Sex Sells" (sexo vende) é
uma das máximas da mídia. E é verdade: a novela-Titanic
de Glória Perez que o diga. Claro
que a troca de direção teve seu
papel e não foi pequeno. Os acertos de ritmo, o esforço em clarear
determinadas passagens, o foco
maior em algumas subtramas;
tudo isso minimiza, um pouco
que seja, a confusão do roteiro e a
circularidade dos diálogos. Mas,
se a sexualidade dos personagens
não tivesse aflorado com mais
decisão -ainda que com bastante cafonice -, a novela não
teria a recuperação de audiência
que parece estar se consolidando.
Justiça seja feita a "América":
não é a primeira e não será a última vez que as novelas recorrem
ao aumento de temperatura sexual para levantar a audiência. E,
de certa forma, apesar do formato às vezes apelativo ou vulgar,
não é, em si, um mau sinal que as
pessoas fiquem atraídas por cenas que sugiram sexo. Estamos
falando aqui de adultos, evidentemente. (Em relação às crianças,
a conversa deveria ser outra e o
problema é que não é.)
Na verdade, sem um certo grau
de erotismo, nenhuma narrativa
do tipo telenovela se sustenta. O
amor romântico evocado no melodrama inventa uma série de
disfarces para o que é, no fundo,
a história de uma paixão sexual.
E aqui, no Brasil, a telenovela
acompanhou e, de certa forma,
ainda caminha em direção à liberalização dos costumes, notadamente na área do comportamento sexual e afetivo.
Apesar da inabilidade dramática de Deborah Secco e Murilo
Benício, na novela, o sexo ainda
tem alguma relação com uma
idéia de erotismo. No pólo quase
antípoda, mas não exatamente
oposto, está a idéia que sustenta
um programa como "Falando de
Sexo com Sue Johanson". O programa é uma espécie de sucesso
da TV paga e não é à toa. Sue,
uma ex-enfermeira, provavelmente entrada na casa dos 70 (ela
não revela), fala com uma desenvoltura espantosa sobre qualquer prática sexual excetuando-se aquelas que são mais ou menos unanimemente condenadas,
como a pedofilia.
Se na novela ainda há espaço
para alguma imaginação, aqui a
coisa é tomada completamente
pelo que há concreto na atividade sexual. Técnicas, saúde, doenças, artefatos, brinquedos, um
tanto de moral, algum conselho
sobre relacionamentos: o campo
sexual fica reduzido a uma série
de problemas e como resolvê-los.
Um dos aspectos que chama a
atenção no programa é a "facilidade" com que Sue Johanson
trata de temas, uhn, cabeludos e a
naturalidade com que encara
quase todo e qualquer tipo de
comportamento sexual. Mas,
num certo sentido, não poderia
ser diferente: ela é herdeira de
uma cultura que, em nome da tolerância, adotou um ponto de
vista técnico que simplifica bem
as coisas a uma equação em que
o direito à privacidade, o consentimento entre adultos e alguns limites bem largos resolvem qualquer parada. Além de camisinha,
claro.
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