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MÚSICA
Artista carioca interrompe fase tecno para show roqueiro no Rio de Janeiro, que deve virar disco duplo ao vivo
Lulu Santos vai ao rock contra a corrente
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
enviado especial ao Rio
Lulu Santos, o porta-bandeira da
introdução do tecno no pop brasileiro, resolveu nadar contra a corrente outra vez.
Montou um show de rock'n'roll
básico, em formato guitarra, baixo
e bateria, exibiu no teatro do Leblon, no Rio de Janeiro, gravou e
pretende lançar em disco.
O show, que esteve em cartaz no
Rio até semana passada e deve viajar a São Paulo após a Copa, baseia-se em "lados B" de Lulu
-músicas que ele considera escaparem do padrão de hits fixados
em 17 anos discográficos-, mais
covers como "(Sitting On) The
Dock of the Bay" (68), do soulman Otis Redding.
No palco, são só Lulu (voz e guitarra), Dunga (baixo e vocais) e
Marcelo Costa (bateria). O trio se
chamou Jakaré durante a temporada, mas já foi rebatizado Lulu
Santos Trio -ou não.
"Jakaré foi um balão de ensaio.
De resto, não tenho certeza absoluta ainda. O nome do show é
"Trio'", contorna o artista, em
entrevista por e-mail.
Mudança de rota
O anunciado disco resultante
deve ser duplo, com um "lado B"
dos "lados B", a ser gravado em
estúdio.
"Tenho trabalhado com o título
"Binário'. Seriam dois discos. Um
ao vivo, com uma seleção do material do show. Outro, de estúdio,
produzido por Liminha, com seis
ou sete ou oito músicas", afirma o
cantor.
Pouco antes de sua estréia, os
planos eram outros: um show
"normal" de Lulu seria gravado
para um CD ao vivo -uma coisa
hits mesmo. O que motivou a mudança de rota?
"Mandaram para minha ciência
e aprovação uma fita de um especial de TV do último show que fiz
em São Paulo, e detestei o que vi e
ouvi", começa a explicar.
"Desde 1988 tenho feito, com
uma ou outra variação sazonal, o
mesmo espetáculo, em que se
tempera o exercício do momento
com os "standards' obrigatórios", intercepta a explicação.
"O que mais me incomodou na
tal fita foi que, na mixagem do áudio, ouvia-se tudo -clave, saxofone, zabumba e o escambau-,
menos guitarra elétrica. Isso não
pode. Por outro lado, o cancioneiro em si estava sofrendo de tanta
descaracterização", continua a
explicação.
"Adoro tocar guitarra elétrica e
o faço em quantidades industriais,
ainda que ninguém esteja olhando/ouvindo. Me deu saudade de
fazer isso em público, e, sobretudo, me deu vontade de exibir a
parte do repertório que não esteve
superexposta nestes últimos anos.
Meu compasso deu uma guinada e
o corpo foi junto", termina de explicar.
Tecno x rock
Nasceu, então, o "Trio". Em
tempo em que vários dos brasileiros de sua geração -Lobão, Ira!,
Barão Vermelho- se viram ao
tecno, Lulu fala sobre dar as costas
ao "ritmo do momento".
"Não faço ou deixo de fazer isso
ou aquilo por causa de tendências,
não as externas, pelo menos até
estarem devidamente internadas.
O não tecno desta situação dialoga
totalmente com o tecno daquela. É
informado por ela, poucas coisas
são tão rock'n'roll como Chemical
Brothers. Quis fazer um som mais
pedaçudo, e fiz."
Mas a reviravolta para trás não
seria caracterizável como "retrô"? "Essa medida do retrô, justamente, é a que dialoga com o
contemporâneo. É a continuação
daquela maluquice astrofísica que
é meu hobby mental", ele dá a
partida.
"A grande preocupação, a mais
moderna da física contemporânea, é com a idade do universo,
sua história e possíveis futuros.
Tudo é uma questão de tempo,
tempo para a frente, tempo para
trás. O futuro já é/era. Futuro é
quando todo(s) o(s) tempo(s) estará (ão) à sua disposição", ele
conclui.
Entendeu? Pois é.
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