São Paulo, Segunda-feira, 12 de Julho de 1999
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CINEMA BRASILEIRO
Relatório parcial sobre filme "Chatô" é "satisfatório", diz secretário nacional de Audiovisual
MinC não sabe como Fontes gastou

CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

Dois meses após a interrupção, por falta de recursos, das filmagens de "Chatô, o Rei do Brasil", o MinC (Ministério da Cultura) não sabe como foram gastos os R$ 7,5 milhões liberados para a produção, captados com base nas leis Rouanet e do Audiovisual.
Em entrevista à Folha, o secretário nacional de Audiovisual do MinC, José Álvaro Moisés, disse que não há relatórios ou auditorias feitos após o início das filmagens e que acompanhem a realização do projeto idealizado pelo ator e diretor Guilherme Fontes.
Moisés afirmou que existe um relatório, feito no início do ano -antes de Guilherme Fontes começar as filmagens. Nele, o produtor apresenta um cronograma do que pretendia fazer.
De acordo com o secretário, os projetos pedindo autorização para captar recursos com base nas leis de incentivo à produção audiovisual são analisados pelo MinC em dois momentos.
Primeiro, é feita uma avaliação do orçamento apresentado, para saber se ele é compatível com preços do mercado. Se o projeto é considerado adequado e o MinC constata haver um interesse cultural em sua realização, o produtor é autorizado a captar recursos.
Depois, quando o prazo de realização expira, o MinC examina a prestação de contas apresentada pelo produtor. Caso encontre irregularidades, encaminha para a Secretaria de Controle Interno, órgão do Ministério da Fazenda.
"Não existe relatório ou auditoria durante o processo. Auditoria só se faz quando há denúncia ou dúvida, e não podemos -e não queremos- fazer presunção de culpa contra Guilherme Fontes nem contra quem quer que seja. Não vou partir da premissa de que ele é um fraudador, de que vai malversar", disse Moisés.
Fontes paralisou as filmagens no dia 2 de maio, assustando investidores que haviam aplicado no filme quase R$ 7,5 milhões do orçamento de pouco mais de R$ 12 milhões aprovado pelo MinC.
Desde então, busca-se uma solução para a conclusão do projeto. A Folha apurou que investidores têm sido procurados por Fontes com um pedido para que aumentem sua participação no filme.
A proposta não vem sendo bem recebida. Muitos têm negado ajuda; outros têm condicionado a entrega de mais recursos a um compromisso de que todos os investidores farão o mesmo.

Relatório satisfatório
O secretário de Audiovisual disse que o relatório parcial apresentado por Fontes no início do ano foi considerado "satisfatório". "Ele previa o início das filmagens e, de fato, iniciou", disse.
Após a paralisação, segundo Moisés, Fontes teve uma reunião no Ministério da Cultura. "Ele nos informou que já filmou 80%. Disse que está esperando captar mais recursos para filmar o restante. E ele tem prazo até outubro para prestar contas."
Os prazos de Fontes para concluir "Chatô" terminam no dia 22 de outubro (para os R$ 3 milhões captados com base na Lei do Audiovisual) e no dia 31 de dezembro (para os R$ 4,46 milhões captados por meio da Lei Rouanet).
Moisés prefere não falar sobre eventuais efeitos negativos que uma possível não-conclusão do filme de Fontes possa trazer para o mercado cinematográfico brasileiro -como, por exemplo, o receio de investidores de aplicar em outros filmes.
"Qualquer projeto que não se realiza, é claro, não é bom, mas não posso dizer que seja o caso do Guilherme, porque ainda nem terminou o prazo. Quem impede, por exemplo, que ele conclua o filme com o que já tem? E quem sabe o filme faz sucesso?"
Moisés explica que, por isso, a decisão do MinC é esperar até o último dia dos prazos de Guilherme Fontes. A partir daí, começará a analisar a prestação de contas do produtor.
"Qualquer outra coisa que fizermos antes fere o direito de criação e de ação do artista", disse Moisés.


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