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MÚSICA
Pizzarelli transforma Beatles em "jazz suingado"
SÉRGIO MALBERGIER
da Redação
John Pizzarelli, 39, encontrou os
Beatles há tempos. É mais um admirador do extinto quarteto de
Liverpool. Agora trouxe a admiração para dentro do seu trabalho. O refinado cantor e violonista
norte-americano gravou um CD
com 12 canções da banda inglesa.
Uma empreitada arriscada, mas
para a qual está bem preparado.
Sempre garimpou e recriou catálogos saturados, como standards
da canção norte-americana.
Além da supervoz, Pizzarelli é
um competente violonista. Confessa grande admiração pelo jeito
de João Gilberto tocar o instrumento e acabou de gravar um CD
com Rosemary Clooney, só com
músicas de Tom Jobim.
A gravadora BMG está lançando "John Pizzarelli Meets the Beatles" no Brasil. Ele fará shows em
São Paulo e no Rio em setembro.
Pizzarelli falou à Folha por telefone de Nova York, onde mora.
Folha - Por que os Beatles?
John Pizzarelli - Sempre fui fã
deles e quis adaptar canções ao
meu estilo de jazz suingado. Testei algumas e deram bom jazz.
Folha - Nos shows você apresenta só músicas dos Beatles?
Pizzarelli - Não. Estamos tocando o nosso repertório de suingue
e algumas canções dos Beatles.
Folha - Você acha que cantores de jazz e standards como você podem voltar aos topos da
parada, como ocorria no passado com Ella Fitzgerald (1917-96)
e Nat "King" Cole (1917-65)?
Pizzarelli - Para o que eu faço,
tenho bastante sucesso. Hoje é difícil ter o sucesso de Ella, o mercado mudou muito. Mas só pelo fato de voltarmos ao Brasil todo
ano, de as pessoas gostarem do
que fazemos, não importa se vendemos 4 milhões de cópias.
Folha - Sendo um cantor sofisticado e elegante, fica frustrado
ao ver cantores muito inferiores
vendendo milhões de discos?
Pizzarelli - Nunca penso nisso.
Ficaria magoado. Estou satisfeito
com o dinheiro que ganho e com
meus apreciadores. Sei que não
serei como os Backstreet Boys.
Folha - É difícil encontrar novas músicas para gravar?
Pizzarelli - Às vezes é difícil encontrá-las, mas mesmo músicas
conhecidas, como "All of Me",
podem ser recriadas. É uma evolução fazer algo novo com canções antigas. É preciso maturidade para novas interpretações.
Folha - Algum novo compositor de que você goste mais?
Pizzarelli - Gosto de Pat Metheny, já escrevi uma letra para
uma de suas músicas. Gosto também de Toninho Horta (violonista mineiro) e de escrever letras para músicas instrumentais, mas
ainda não as gravei.
Folha - Você também ainda
não gravou músicas brasileiras.
Pizzarelli - Acabei de gravar um
disco com Rosemary Clooney que
será lançado em meados do ano
que vem. Canto "Dindi". Ela canta algumas canções, eu outras, e
fazemos alguns duetos, como em
"How Insensitive" (Insensatez).
São todas músicas de Tom Jobim.
Sempre fui fã de suas músicas.
Folha - E o João Gilberto?
Pizzarelli - É um dos meus violonistas favoritos. Adoro a maneira como ele toca e canta. Adoro o
disco "Amoroso" (77). Sua maneira de tocar violão é como uma
orquestra. Sempre uso alguma levada bossa nova, e a minha maneira de tocar é tirada totalmente
de "Amoroso". Ele é um mágico.
Folha - Ele está gravando um
disco novo agora, produzido
por Caetano Veloso. Mas parece
que brigaram...
Pizzarelli - Uau! Eu não sabia
que as pessoas brigavam aí no
Brasil (risos).
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