São Paulo, Quinta-feira, 12 de Agosto de 1999
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MÚSICA
Pizzarelli transforma Beatles em "jazz suingado"

SÉRGIO MALBERGIER
da Redação

John Pizzarelli, 39, encontrou os Beatles há tempos. É mais um admirador do extinto quarteto de Liverpool. Agora trouxe a admiração para dentro do seu trabalho. O refinado cantor e violonista norte-americano gravou um CD com 12 canções da banda inglesa.
Uma empreitada arriscada, mas para a qual está bem preparado. Sempre garimpou e recriou catálogos saturados, como standards da canção norte-americana.
Além da supervoz, Pizzarelli é um competente violonista. Confessa grande admiração pelo jeito de João Gilberto tocar o instrumento e acabou de gravar um CD com Rosemary Clooney, só com músicas de Tom Jobim.
A gravadora BMG está lançando "John Pizzarelli Meets the Beatles" no Brasil. Ele fará shows em São Paulo e no Rio em setembro.
Pizzarelli falou à Folha por telefone de Nova York, onde mora.

Folha - Por que os Beatles?
John Pizzarelli -
Sempre fui fã deles e quis adaptar canções ao meu estilo de jazz suingado. Testei algumas e deram bom jazz.

Folha - Nos shows você apresenta só músicas dos Beatles?
Pizzarelli -
Não. Estamos tocando o nosso repertório de suingue e algumas canções dos Beatles.

Folha - Você acha que cantores de jazz e standards como você podem voltar aos topos da parada, como ocorria no passado com Ella Fitzgerald (1917-96) e Nat "King" Cole (1917-65)?
Pizzarelli -
Para o que eu faço, tenho bastante sucesso. Hoje é difícil ter o sucesso de Ella, o mercado mudou muito. Mas só pelo fato de voltarmos ao Brasil todo ano, de as pessoas gostarem do que fazemos, não importa se vendemos 4 milhões de cópias.

Folha - Sendo um cantor sofisticado e elegante, fica frustrado ao ver cantores muito inferiores vendendo milhões de discos?
Pizzarelli -
Nunca penso nisso. Ficaria magoado. Estou satisfeito com o dinheiro que ganho e com meus apreciadores. Sei que não serei como os Backstreet Boys.

Folha - É difícil encontrar novas músicas para gravar?
Pizzarelli -
Às vezes é difícil encontrá-las, mas mesmo músicas conhecidas, como "All of Me", podem ser recriadas. É uma evolução fazer algo novo com canções antigas. É preciso maturidade para novas interpretações.

Folha - Algum novo compositor de que você goste mais?
Pizzarelli -
Gosto de Pat Metheny, já escrevi uma letra para uma de suas músicas. Gosto também de Toninho Horta (violonista mineiro) e de escrever letras para músicas instrumentais, mas ainda não as gravei.

Folha - Você também ainda não gravou músicas brasileiras.
Pizzarelli -
Acabei de gravar um disco com Rosemary Clooney que será lançado em meados do ano que vem. Canto "Dindi". Ela canta algumas canções, eu outras, e fazemos alguns duetos, como em "How Insensitive" (Insensatez). São todas músicas de Tom Jobim. Sempre fui fã de suas músicas.

Folha - E o João Gilberto?
Pizzarelli -
É um dos meus violonistas favoritos. Adoro a maneira como ele toca e canta. Adoro o disco "Amoroso" (77). Sua maneira de tocar violão é como uma orquestra. Sempre uso alguma levada bossa nova, e a minha maneira de tocar é tirada totalmente de "Amoroso". Ele é um mágico.

Folha - Ele está gravando um disco novo agora, produzido por Caetano Veloso. Mas parece que brigaram...
Pizzarelli -
Uau! Eu não sabia que as pessoas brigavam aí no Brasil (risos).


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