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São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2003

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CRÍTICA

Olhar psicológico tem boas intenções, mas é vazio

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

"O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" encontra "Atração Fatal" no estranho "Bem me Quer... Mal me Quer", primeiro filme da cineasta francesa Laetitia Colombani.
"Amélie Poulain" é referência inevitável, pois a protagonista é Audrey Tautou, a heroína de bom coração da comédia açucarada de Jean-Pierre Jeunet. "Atração Fatal", por sua vez, logo vem à cabeça quando Angélique (personagem de Tautou), à primeira vista uma heroína de bom coração, revela-se um perigo fatal para o homem que ama, o médico bem casado Loïc (Samuel le Bihan).
É difícil falar de "Bem me Quer..." sem revelar um detalhe que pode estragar a única surpresa reservada ao espectador em hora e meia de projeção. Para não ser de todo estraga-prazeres, basta dizer que o filme é dividido em duas partes: na primeira, conhecemos o amor de Angélique por Loïc do ponto de vista dela; na segunda, vemos a mesma história, mas do ponto de vista dele.
Nessa passagem, dá-se o truque, um dispositivo de roteiro que na verdade já foi usado de forma semelhante e muito mais eficaz, por exemplo, em "O Sexto Sentido". Esse truque consiste em omitir do espectador informações que, uma vez reveladas, mudam radicalmente o sentido da história.
Mas "Bem me Quer..." recorre a tal dispositivo de forma frágil demais. Assim que a narrativa muda de perspectiva, todo o restante do filme se torna absolutamente previsível, pois cada cena que permaneceu sem explicação na primeira parte (que mais parecia um roteiro muito mal escrito, de tão absurdo) é imediatamente justificada na segunda. Todo o absurdo que se viu antes só estava ali para ser justificado no "segundo ato".
Tão frágil quanto a forma é o conteúdo do filme, que, na verdade, é uma história de desamor disfarçada de seu oposto. Seu tema é o profundo desamor da heroína por ela mesma. Uma heroína triste e etérea, observada pela diretora com um olhar psicológico cheio de boas intenções, mas vazio. Audrey Tautou merece personagens melhores.


Bem me Quer... Mal me Quer
À la Folie... Pas du Tout
 
Produção: França, 2002
Direção: Laetitia Colombani
Com: Audrey Tautou e Samuel le Bihan
Quando: nos cines Belas Artes, Cineclube DirecTV e circuito



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