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MÚSICA
Crítica/CD/"Cazuza"
Caixa registra atualidade de agonia e glória de Cazuza
Lançamento inclui os seis discos da fase solo, pós-Barão, e o DVD "Pra Sempre"
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Este ano marca o cinqüentenário da bossa
nova e o do nascimento
de Cazuza -e é curioso notar
como o que parece tão velho no
caso do gênero musical soa tristemente novo no caso do cantor e compositor.
Cazuza morreu aos 32 anos,
em 1990, depois de uma carreira tão breve quanto bem-sucedida -primeiro, com o Barão
Vermelho; a partir de 1985, solo-, marcada por sua agonia
pública por causa da Aids.
Agonia que, assim como a
glória, está registrada nos seis
discos da fase solo do cantor
(um deles póstumo, de 1991),
que estão sendo relançados
agora em uma caixa que traz
ainda o DVD "Pra Sempre", que
mistura dois especiais do cantor exibidos pela Rede Globo.
É uma obra concisa e de influência perene, desde o primeiro álbum pós-Barão, "Cazuza", gravado em 1985.
Ele traz o hit "Exagerado"
que, apesar de ser uma letra para Ezequiel Neves (um dos
compositores da música), acabou sendo identificada com o
próprio Cazuza.
Traz também canções célebres, como "Codinome Beija-Flor", "Mal Nenhum" e a pedrada "Só as Mães São Felizes",
um blues de letra à la Lou Reed,
que chegou a ser censurado.
Melodicamente, o disco sofre
com duas pragas dos anos 80,
os teclados bregas e os solos de
guitarra agudos e datados.
O álbum seguinte, "Só se For
a Dois" (1987), tem como hit "O
Nosso Amor a Gente Inventa
(Estória Romântica)" e um repertório romântico que mostra
o cantor "de coração aberto",
como escreve sua mãe no CD.
Crônica de uma morte
Pouco após lançar "Só se For
a Dois", Cazuza descobriria que
tinha o vírus da Aids; a partir
daí, sai de cena o garotão zona
sul carioca e surge um artista
maduro, sofrido, de consciência mais ampla. É quando lança
seu clássico maior, "Ideologia"
(1988), um disco cheio de simbolismo e letras cortantes, no
qual já na faixa-título anuncia
que "o meu prazer/ agora é risco de vida"; em "Boas Novas",
diz: "Senhoras e senhores/ trago boas novas/ eu vi a cara da
morte/ e ela estava viva".
É o álbum em que Cazuza fala à "grande pátria desimportante" ("Brasil"), aos "miseráveis que vagam pelo mundo
derrotados" ("Blues da Piedade"), ao Rio cujo Cristo tem "os
braços sempre abertos, mas
sem proteger ninguém" ("Um
Trem para as Estrelas").
A turnê de "Ideologia" gera o
histórico registro ao vivo "O
Tempo Não Pára" -que também é a base do especial de TV
"Uma Prova de Amor", que faz
parte do DVD que vem na caixa.
Depois vem "Burguesia"
(1989), um disco de rock feito
com Cazuza já muito debilitado, onde se destacam justamente as duas canções menos
roqueiras, as tristes "Cobaias
de Deus" e "Quando Eu Estiver
Cantando". Fechando a caixa,
"Por Aí" traz sobras de gravações pouco memoráveis.
CAZUZA - CAIXA
Artista: Cazuza
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 145, em média
Classificação indicativa (DVD): livre
Avaliação: bom
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