São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOCIOLOGIA
Autor conta história dos "maníacos' desde o século 16

XICO SÁ
da Reportagem Local


Com um relato indignado, como não poderia deixar de ser, Georges Vigarello conta a "História do Estupro", um documento que abarca a violência sexual desde o século 16 até os recentes casos de assédio do presidente Clinton nos EUA.
O mais interessante no livro do historiador francês é o acompanhamento do grau de tolerância das pessoas, época a época, diante dos abusos contra mulheres e também contra homens -como nas prisões, por exemplo.
No momento em que o Brasil registra um aumento no número de estupros e se assusta diante de casos como o do motoboy Francisco de Assis Pereira, o tratado de Vigarello é uma boa oportunidade para saber como diferentes sociedades agiram diante da violência nos últimos quatro séculos.
Uma curiosidade: os parques e bosques, como no caso do motoboy, sempre foram os lugares mais procurados pelos maníacos de todos os tempos.
˛
Balzac
O autor colhe em textos de Balzac amostras de que o estupro não representava nenhuma preocupação até o começo do século passado. O grau de tolerância era de assombrar em toda a Europa.
Só havia uma preocupação, em matéria de crime: com os ladrões e assaltantes que já causavam desassossego na França.
"Se Paris tem uma população de 1,2 milhão de almas, e se os ladrões são 120 mil, vemos que há um canalha para cada dez pessoas honestas", escrevia Balzac, citado por Vigarello.
Segundo o autor, essa preocupação foi invertida. "O horror se deslocou: a figura soturna do romance policial, que mistura o sangue ao roubo, cedeu lugar à figura mais psicológica do pervertido desvairado, que mistura o sangue ao desejo e à sexualidade", diz.
˛
Barbárie x modernidade

Raramente julgado ou mencionado por estatísticas policiais no século 19, o estupro aparecia sempre associado à ausência de modernidade de povoados e aldeias, embora fosse um dado comum nas cidades ditas civilizadas.
Em 1829, por exemplo, o jornal "Gazette des Tribunaux" justifica um estupro praticado por um carpinteiro, nas montanhas de Grasse: "Ali, o clima é ardente, o povo ignorante, embrutecido, habitado por paixões perversas".
O livro registra a evolução, mais do que lenta, das leis e da Justiça em casos de estupro. Até mesmo neste século, a maioria dos juízes sempre exigiu provas de violência física acentuada para poder pensar na condenação dos estupradores.
O livro trata também das chamadas "novas violências sexuais". Estão dentro dessa categoria, as conversas ou telefonemas de caráter pornográfico e o exibicionismo.
O "pornofone", aliás, como lembra o autor, agora passou a ser considerado crime pela lei francesa.
˛
Livro: História do Estupro
Autor: Georges Vigarello
Lançamento: Jorge Zahar Editor
Quanto: R$ 30 (312 págs.)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.