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SOCIOLOGIA
Autor conta história dos "maníacos' desde o século 16
XICO SÁ
da Reportagem Local
Com um relato
indignado, como não poderia
deixar de ser,
Georges Vigarello conta a "História do Estupro", um documento que abarca a violência sexual desde o século 16 até os recentes casos de assédio do presidente
Clinton nos EUA.
O mais interessante no livro do
historiador francês é o acompanhamento do grau de tolerância
das pessoas, época a época, diante
dos abusos contra mulheres e também contra homens -como nas
prisões, por exemplo.
No momento em que o Brasil registra um aumento no número de
estupros e se assusta diante de casos como o do motoboy Francisco
de Assis Pereira, o tratado de Vigarello é uma boa oportunidade para
saber como diferentes sociedades
agiram diante da violência nos últimos quatro séculos.
Uma curiosidade: os parques e
bosques, como no caso do motoboy, sempre foram os lugares mais
procurados pelos maníacos de todos os tempos.
˛
Balzac
O autor colhe em textos de Balzac amostras de que o estupro não
representava nenhuma preocupação até o começo do século passado. O grau de tolerância era de assombrar em toda a Europa.
Só havia uma preocupação, em
matéria de crime: com os ladrões e
assaltantes que já causavam desassossego na França.
"Se Paris tem uma população de
1,2 milhão de almas, e se os ladrões
são 120 mil, vemos que há um canalha para cada dez pessoas honestas", escrevia Balzac, citado por
Vigarello.
Segundo o autor, essa preocupação foi invertida. "O horror se deslocou: a figura soturna do romance
policial, que mistura o sangue ao
roubo, cedeu lugar à figura mais
psicológica do pervertido desvairado, que mistura o sangue ao desejo e à sexualidade", diz.
˛
Barbárie x modernidade
Raramente julgado ou mencionado por estatísticas policiais no
século 19, o estupro aparecia sempre associado à ausência de modernidade de povoados e aldeias,
embora fosse um dado comum nas
cidades ditas civilizadas.
Em 1829, por exemplo, o jornal
"Gazette des Tribunaux" justifica
um estupro praticado por um carpinteiro, nas montanhas de Grasse: "Ali, o clima é ardente, o povo
ignorante, embrutecido, habitado
por paixões perversas".
O livro registra a evolução, mais
do que lenta, das leis e da Justiça
em casos de estupro. Até mesmo
neste século, a maioria dos juízes
sempre exigiu provas de violência
física acentuada para poder pensar
na condenação dos estupradores.
O livro trata também das chamadas "novas violências sexuais". Estão dentro dessa categoria, as conversas ou telefonemas de caráter
pornográfico e o exibicionismo.
O "pornofone", aliás, como lembra o autor, agora passou a ser considerado crime pela lei francesa.
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Livro: História do Estupro
Autor: Georges Vigarello
Lançamento: Jorge Zahar Editor
Quanto: R$ 30 (312 págs.)
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