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INFANTO-JUVENIL
Viagem pelas religiões é obra de atéia
CYNARA MENEZES
da Reportagem Local
Catherine Clément, autora de
"A Viagem de
Théo", livro que
está para a religião como "O
Mundo de Sofia" está para a
filosofia, não hesita em dizer que a
obra foi escrita sob encomenda.
Para a filósofa e etnóloga de 59
anos, casada com o embaixador
francês no Senegal, isso pouco importa diante do que realmente
aprecia -contar histórias.
Clément, de origem judaica, é
atéia, mas diz gostar de todas as religiões tal como é seu livro, uma
viagem didática pelos credos do
mundo em linguagem para adolescentes. A seguir, trechos da entrevista que a escritora deu, por telefone, à Folha.
Folha - Como a senhora se preparou para escrever o livro? Esteve
em todos os lugares descritos?
Catherine Clément - Na verdade,
só não em um deles, a igreja batista
que descrevo durante a visita de
Théo a Nova York. Conheci pessoas que foram lá, e foi suficiente.
Folha - A tia Marthe (protagonista do livro com Théo) é a senhora?
Clément - Muitos pensam isso.
Eu não sou tão gorda quanto ela.
Tive trabalho para fazê-la fisicamente diferente de mim. Talvez
mentalmente sejamos parecidas.
Folha - A senhora simpatiza com
os batistas, como ela?
Clément - Não, sou completamente atéia. Só um ateu poderia
escrever um livro como esse.
Folha - Seu livro é semelhante a
"O Mundo de Sofia", como dizem?
Clément - Não. "O Mundo de Sofia" é um livro muito estático, e o
meu está o tempo todo em movimento. Em alguns pontos é semelhante. Mas a história é diferente.
Folha - Para que tipo de jovem
foi escrito seu livro?
Clément - Para garotos e garotas
da faixa de idade de Théo (14
anos). O livro foi testado com leitores desta idade e funcionou. Só foi
impresso depois disso. Mas encontramos um garoto de 12 anos que
também estava pronto para ler o livro. Acho que os pais também podem se interessar.
Folha - Parece ser um livro para
quem já tem alguma informação
anterior. Cita-se, sem explicar, nomes como o de Yitzhak Rabin...
Clément - Não acho, todas as informações necessárias estão no livro. Não sei como é no Brasil, mas
aqui na Europa seria bobagem precisar quem foi Rabin, todo garoto
já ouviu esse nome.
Folha - Seu livro também trata de
problemas raciais, não?
Clément - Não acredito em raças.
A palavra raça não é aceita por minha mente. Meus avós, judeus, foram mortos na guerra.
Folha - Palestinos ou judeus têm
razão na disputa por Israel?
Clément - Como mulher de diplomata, não posso responder.
Mas há espaço para todos no mundo, até em Israel.
Folha - O amor de Fatou, menina
negra de origem senegalesa, e
Théo, menino branco, francês, não
representa uma visão racial?
Clément - É uma visão de tolerância religiosa. Ela é muçulmana.
O amor entre brancos e negros é
comum na França hoje, principalmente nessa idade. Em termos de
números, a violência racial é um
problema menor.
Folha - De onde vem seu conhecimento sobre o Brasil?
Clément - Entre 85 e 87, eu e meu
marido estivemos no Brasil a cada
dois meses. Viajamos pelo país
mais do que descrevo no livro. Conheci o candomblé e vi que é uma
religião de verdade.
Folha - A idéia de escrever um livro sobre religião para adolescentes vem de onde?
Clément - Um editor estava procurando uma pessoa para fazer
com religião o mesmo trabalho
que foi feito com a filosofia em "O
Mundo de Sofia". Um amigo meu
me indicou para o trabalho.
Folha - Como é trabalhar assim?
Clément - Não foi minha primeira vez. Dez anos atrás eu escrevi
outro livro assim. Para mim não
importa se é sob encomenda ou
não. Eu gosto é de contar histórias.
˛
Livro: A Viagem de Théo
Autora: Catherine Clément
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 29,50 (632 págs.)
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