São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

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INFANTO-JUVENIL
Viagem pelas religiões é obra de atéia


CYNARA MENEZES
da Reportagem Local


Catherine Clément, autora de "A Viagem de Théo", livro que está para a religião como "O Mundo de Sofia" está para a filosofia, não hesita em dizer que a obra foi escrita sob encomenda.
Para a filósofa e etnóloga de 59 anos, casada com o embaixador francês no Senegal, isso pouco importa diante do que realmente aprecia -contar histórias.
Clément, de origem judaica, é atéia, mas diz gostar de todas as religiões tal como é seu livro, uma viagem didática pelos credos do mundo em linguagem para adolescentes. A seguir, trechos da entrevista que a escritora deu, por telefone, à Folha.

Folha - Como a senhora se preparou para escrever o livro? Esteve em todos os lugares descritos?
Catherine Clément -
Na verdade, só não em um deles, a igreja batista que descrevo durante a visita de Théo a Nova York. Conheci pessoas que foram lá, e foi suficiente.
Folha - A tia Marthe (protagonista do livro com Théo) é a senhora?
Clément -
Muitos pensam isso. Eu não sou tão gorda quanto ela. Tive trabalho para fazê-la fisicamente diferente de mim. Talvez mentalmente sejamos parecidas.
Folha - A senhora simpatiza com os batistas, como ela?
Clément -
Não, sou completamente atéia. Só um ateu poderia escrever um livro como esse.
Folha - Seu livro é semelhante a "O Mundo de Sofia", como dizem?
Clément -
Não. "O Mundo de Sofia" é um livro muito estático, e o meu está o tempo todo em movimento. Em alguns pontos é semelhante. Mas a história é diferente.
Folha - Para que tipo de jovem foi escrito seu livro?
Clément -
Para garotos e garotas da faixa de idade de Théo (14 anos). O livro foi testado com leitores desta idade e funcionou. Só foi impresso depois disso. Mas encontramos um garoto de 12 anos que também estava pronto para ler o livro. Acho que os pais também podem se interessar.
Folha - Parece ser um livro para quem já tem alguma informação anterior. Cita-se, sem explicar, nomes como o de Yitzhak Rabin...
Clément -
Não acho, todas as informações necessárias estão no livro. Não sei como é no Brasil, mas aqui na Europa seria bobagem precisar quem foi Rabin, todo garoto já ouviu esse nome.
Folha - Seu livro também trata de problemas raciais, não?
Clément -
Não acredito em raças. A palavra raça não é aceita por minha mente. Meus avós, judeus, foram mortos na guerra.
Folha - Palestinos ou judeus têm razão na disputa por Israel?
Clément -
Como mulher de diplomata, não posso responder. Mas há espaço para todos no mundo, até em Israel.
Folha - O amor de Fatou, menina negra de origem senegalesa, e Théo, menino branco, francês, não representa uma visão racial?
Clément -
É uma visão de tolerância religiosa. Ela é muçulmana. O amor entre brancos e negros é comum na França hoje, principalmente nessa idade. Em termos de números, a violência racial é um problema menor.
Folha - De onde vem seu conhecimento sobre o Brasil?
Clément -
Entre 85 e 87, eu e meu marido estivemos no Brasil a cada dois meses. Viajamos pelo país mais do que descrevo no livro. Conheci o candomblé e vi que é uma religião de verdade.
Folha - A idéia de escrever um livro sobre religião para adolescentes vem de onde?
Clément -
Um editor estava procurando uma pessoa para fazer com religião o mesmo trabalho que foi feito com a filosofia em "O Mundo de Sofia". Um amigo meu me indicou para o trabalho.
Folha - Como é trabalhar assim?
Clément -
Não foi minha primeira vez. Dez anos atrás eu escrevi outro livro assim. Para mim não importa se é sob encomenda ou não. Eu gosto é de contar histórias.
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Livro: A Viagem de Théo Autora: Catherine Clément Lançamento: Companhia das Letras Quanto: R$ 29,50 (632 págs.)



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