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FORA DO EIXO
Não há limites para o cinema em Cascavel
JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Cascavel
Como muitas das cidades médias
no Brasil, Cascavel (420 km a oeste
de Curitiba, Paraná), com pouco
mais de 200 mil habitantes, não
possui salas comerciais para exibição de filmes.
A falta de cinemas, porém, não
impediu que o município do oeste
paranaense se transformasse no
maior pólo de produção cinematográfica do Estado.
Desde 1991, duas produtoras fizeram sete filmes e trabalham em
outros dois novos e uma minissérie para a TV. Essa farta produção
motivou a criação do Núcleo de Cinema de Cascavel.
O núcleo é uma espécie de associação informal que reúne um ex-diretor de teatro, uma funcionária
pública, um fotógrafo, um professor de caratê e um cinegrafista,
além de atores de teatro.
O professor de caratê Talício Sirino, 38, e a funcionária pública Salete Machado, 34, criaram a Tigre
Produções Cinematográficas.
Acir Kochmanski, 50, depois de
passar 25 anos atrás de um projetor de cinema no interior do Paraná, resolveu fazer filmes. Ele criou
a Filmacir Produções.
Antônio Marcos Ferreira, 34,
após um curso de direção com Tizuka Yamasaki, trocou o teatro pela direção dos filmes de ação da Tigre Produções.
A eles se uniu o fotógrafo César
Pilatti, que resolveu ser diretor de
fotografia e se arrisca na direção,
como no curta "A Filha do Chefe",
selecionado para o Festival de Cinema e Vídeo de Curitiba em 97.
˛
União
A escassez de recursos amplia
ainda mais a associação. Apesar
dos estilos diferentes -a Tigre
com filmes de ação, a Filmacir com
comédias ao estilo Mazzaropi e Pilatti sonhando com cinema de arte-, todos se ajudam mutuamente para viabilizar cada produção.
Sem utilizar grandes nomes do
cinema nacional (os atores são todos amadores recrutados na região), os cineastas de Cascavel, depois do relativo sucesso de "Fronteira sem Destino" no Festival de
Cinema de Brasília, em 1995, decidiram buscar a profissionalização.
"Fronteira sem Destino" foi também um marco no sonho de Sirino
e Salete em viver de cinema.
Segundo Sirino, ao final das filmagens ele havia gasto "todo dinheiro do orçamento, além da casa, do carro e do telefone". Tudo
foi recuperado depois do sucesso
do filme em cidades da Argentina,
Paraguai e oeste do Paraná.
"O mais emocionante foi como
fomos tratados na Argentina. Parecia até que éramos um grupo de
estrelas de Hollywood", disse Sirino. "Fronteira sem Destino" está
há seis meses em cartaz em cinemas do interior da Argentina.
Para rodar "Conexão Brasil", a
Tigre Produções foi buscar a experiência de Luiz Carlos Lacerda
("Leila Diniz") e do diretor de fotografia César Elias ("Navalha na
Carne").
Segundo Antônio Marcos Ferreira, diretor de "Conexão", a idéia
original era convidar os dois para
direção e direção de fotografia.
"Mas discutimos e resolvemos
convidá-los para supervisionar as
filmagens, pois só assim iríamos
avançar na pretensão de fazer filmes profissionalmente."
"Conexão Brasil" trata do contrabando de armas e da guerra de
quadrilhas na fronteira entre o
Brasil, Argentina e Paraguai e será
lançado em janeiro de 99.
O filme mostra a história de um
policial federal (Sirino) que se envolve em um plano de vingança
com um chefão do crime organizado da Argentina, depois de ter sua
mulher sequestrada.
Luiz Carlos Lacerda disse estar
surpreso com "a qualidade dos filmes de Cascavel". Segundo Lacerda, que é professor na Escola de Cinema de Havana (Cuba), "Cascavel talvez seja hoje a única universidade livre de cinema do país,
com gente aprendendo, na prática,
como fazer cinema."
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