São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

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FORA DO EIXO
Não há limites para o cinema em Cascavel

JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Cascavel

Como muitas das cidades médias no Brasil, Cascavel (420 km a oeste de Curitiba, Paraná), com pouco mais de 200 mil habitantes, não possui salas comerciais para exibição de filmes.
A falta de cinemas, porém, não impediu que o município do oeste paranaense se transformasse no maior pólo de produção cinematográfica do Estado.
Desde 1991, duas produtoras fizeram sete filmes e trabalham em outros dois novos e uma minissérie para a TV. Essa farta produção motivou a criação do Núcleo de Cinema de Cascavel.
O núcleo é uma espécie de associação informal que reúne um ex-diretor de teatro, uma funcionária pública, um fotógrafo, um professor de caratê e um cinegrafista, além de atores de teatro.
O professor de caratê Talício Sirino, 38, e a funcionária pública Salete Machado, 34, criaram a Tigre Produções Cinematográficas.
Acir Kochmanski, 50, depois de passar 25 anos atrás de um projetor de cinema no interior do Paraná, resolveu fazer filmes. Ele criou a Filmacir Produções.
Antônio Marcos Ferreira, 34, após um curso de direção com Tizuka Yamasaki, trocou o teatro pela direção dos filmes de ação da Tigre Produções.
A eles se uniu o fotógrafo César Pilatti, que resolveu ser diretor de fotografia e se arrisca na direção, como no curta "A Filha do Chefe", selecionado para o Festival de Cinema e Vídeo de Curitiba em 97.
˛ União
A escassez de recursos amplia ainda mais a associação. Apesar dos estilos diferentes -a Tigre com filmes de ação, a Filmacir com comédias ao estilo Mazzaropi e Pilatti sonhando com cinema de arte-, todos se ajudam mutuamente para viabilizar cada produção.
Sem utilizar grandes nomes do cinema nacional (os atores são todos amadores recrutados na região), os cineastas de Cascavel, depois do relativo sucesso de "Fronteira sem Destino" no Festival de Cinema de Brasília, em 1995, decidiram buscar a profissionalização.
"Fronteira sem Destino" foi também um marco no sonho de Sirino e Salete em viver de cinema.
Segundo Sirino, ao final das filmagens ele havia gasto "todo dinheiro do orçamento, além da casa, do carro e do telefone". Tudo foi recuperado depois do sucesso do filme em cidades da Argentina, Paraguai e oeste do Paraná.
"O mais emocionante foi como fomos tratados na Argentina. Parecia até que éramos um grupo de estrelas de Hollywood", disse Sirino. "Fronteira sem Destino" está há seis meses em cartaz em cinemas do interior da Argentina.
Para rodar "Conexão Brasil", a Tigre Produções foi buscar a experiência de Luiz Carlos Lacerda ("Leila Diniz") e do diretor de fotografia César Elias ("Navalha na Carne").
Segundo Antônio Marcos Ferreira, diretor de "Conexão", a idéia original era convidar os dois para direção e direção de fotografia. "Mas discutimos e resolvemos convidá-los para supervisionar as filmagens, pois só assim iríamos avançar na pretensão de fazer filmes profissionalmente."
"Conexão Brasil" trata do contrabando de armas e da guerra de quadrilhas na fronteira entre o Brasil, Argentina e Paraguai e será lançado em janeiro de 99.
O filme mostra a história de um policial federal (Sirino) que se envolve em um plano de vingança com um chefão do crime organizado da Argentina, depois de ter sua mulher sequestrada.
Luiz Carlos Lacerda disse estar surpreso com "a qualidade dos filmes de Cascavel". Segundo Lacerda, que é professor na Escola de Cinema de Havana (Cuba), "Cascavel talvez seja hoje a única universidade livre de cinema do país, com gente aprendendo, na prática, como fazer cinema."



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