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COMENTÁRIO
Os bastidores dos bastidores
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Um dos temas laterais de "Os
Queridinhos da América"
são as "junkets". A palavra inglesa
quer dizer "excursão", mas também "viagem bancada pelo dinheiro público". No caso, não é
uma coisa nem outra.
Trata-se de uma prática comum
aos grandes estúdios, que consiste
em reunir o maior número possível de jornalistas do mundo num
mesmo lugar e dia para entrevistar atores e diretores de um filme.
Os encontros acontecem num
fim de semana, em hotéis de luxo
de Nova York ou Los Angeles,
mas também em locações turísticas como Havaí e Grécia. Não é
raro que os profissionais da imprensa tenham passagem e estadia pagas pelos organizadores.
No caso da imprensa escrita, várias salas são ocupadas por entre
cinco e dez jornalistas de diferentes países (os assessores cuidam
para não colocar dois italianos,
por exemplo, na mesma mesa), e
as "estrelas" pulam de sala em sala, falando de 20 a 30 minutos.
Claro que existem as entrevistas
exclusivas, mas são mais raras e
geralmente reservadas para os
americanos. A "junket" foi inventada pela Warner Bros. em 1932.
Para promover "Rua 42", o estúdio fretou oito vagões de um
trem, onde juntou imprensa e os
atores Ruby Keeler e Dick Powell.
A justificativa é válida. De um
lado, os atores falam com o maior
número de jornalistas em menos
tempo e num mesmo lugar; de
outro, profissionais de países periféricos como o Brasil, que teriam dificuldade para ter acesso,
podem entrevistar num mesmo
dia Julia Roberts e Brad Pitt.
"Os Queridinhos da América"
toca no tema, mas de leve. Como
sempre, a realidade é mais rica e
perversa. Já fiquei seis meses na
lista negra de um estúdio por sair
no meio de um filme péssimo e ter
me recusado a entrevistar os atores. Outra vez, Jim Carrey quase
me expulsou da sala.
Angelina Jolie me deu bronca
porque perguntei sobre nudez em
seus filmes. Outros brasileiros já
se meteram em encrenca por teimarem em ser jornalistas. Em geral, o país está bem representado.
O inferno são os outros.
Não é preconceito, mas espanta
a frequência com que são convidados profissionais despreparados do Japão e do México, por
exemplo, dois mercados importantes para os estúdios. As perguntas são do nível: "Qual é o seu
signo?". É constrangedor.
Já vi "jornalista" pedindo autógrafo no começo e aplaudindo no
final da entrevista. E dando presentes: pratos típicos, CD da banda de um primo talentoso e até
um buquê de flores tropicais.
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