São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2001

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Hemingway é o premiado mais citado

CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em cem anos de Nobel, começando com o francês Sully Prudhomme (1839-1907), hoje desconhecido, e fechando com o trinitário radicado na Inglaterra V.S. Naipaul, quem de fato mereceu ganhar o maior prêmio literário de todos os tempos?
Sem dúvida, o nome mais questionado da lista é o do ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill (1874-1965), ganhador do prêmio em 1953 "por sua maestria nas descrições históricas e biográficas assim como pela brilhante oratória em defesa dos direitos humanos". No Brasil, suas memórias foram publicadas pela Nova Fronteira.
"Deve ter sido uma coisa política. Nunca li nada dele", diz o tradutor Paulo Henriques Britto, que versou sete livros de V.S. Naipaul para o português, inclusive o mais famoso deles, "Uma Casa para o Senhor Biswas".
"Naipaul merece o prêmio, é um escritor muito bom, maravilhoso, embora seja uma pessoa terrível", diz. Entre seus Nobel prediletos, o tradutor aponta o poeta irlandês W.B. Yeats (1865-1939), ganhador em 1923, e o dramaturgo inglês George Bernard Shaw (1856-1950), premiado em 1925. Mas o favorito mesmo é o também dramaturgo Samuel Beckett (1906-1989), Nobel de 1969. "Cheguei a me tornar fanático por teatro por causa dele."
O escritor Luiz Alfredo García-Roza, criador do detetive Espinosa ("Vento Sudoeste", Cia. das Letras), adverte antes de responder: "Eu não li nem a metade desse pessoal". E cita, entre seus premiados favoritos, três: o francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), que ganhou e recusou o prêmio em 1964, e os norte-americanos Ernest Hemingway (1899-1961), ganhador de 1954, e William Faulkner (1897-1962), Nobel de 1949.
"Sartre ocupa um lugar especial no meu coração, Hemingway foi um inovador, e "Palmeiras Selvagens", de Faulkner, é fantástico", justifica. Para o escritor, houve um grande excluído pelo prêmio: Jorge Luis Borges (1899-1986).
A escritora Fernanda Young ("Vergonha dos Pés", Objetiva) também escolheu Hemingway. "Apesar de não gostar de "O Velho e o Mar", é um de meus escritores favoritos", diz Young, que não acompanha a premiação.
Ouvidos pelo suplemento cultural do jornal espanhol "El Mundo" (www.elcultural.es), dois Nobel, o espanhol Camilo José Cela (1989) e o português José Saramago (1998) também responderam sobre seus "colegas" prediletos. Cela citou o inglês Rudyard Kipling (1865-1936), ganhador em 1907, Hemingway e o francês Albert Camus (1913-1960), Nobel de 1957. Já Saramago preferiu ironizar a escolha do pioneiro Prudhomme em detrimento de Tolstói (1828-1910) e Emile Zola (1840-1902) e apontar os ausentes: Franz Kafka (1883-1924), Borges e Fernando Pessoa (1888-1935), "os três escritores que definem o século 20".


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