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MÚSICA
Joni Mitchell permanece indomável
EDNA GUNDERSEN
do "USA Today", em Los Angeles
Ela aprendeu guitarra sozinha,
usando um manual de instruções
de Pete Seeger, e tocava guitarra
havaiana na faculdade de artes. Foi
o início humilde de uma carreira
cheia de prestígio.
Desde sua estréia em 1968 até
agora, com o lançamento de "Taming the Tiger", seu elogiado 17º
álbum, em que a maturidade e a independência se entremeiam em
sedutoras canções, Joni Mitchell,
54, justifica os que a consideram
uma das mestras do rock.
Reverenciada e imitada há 30
anos, Joni ocupa o primeiro lugar
entre as sensações femininas do
pop. Suas seguidoras a saúdam como sua musa e saqueiam seu legado com toda a liberdade.
Embora as sequelas da poliomielite que teve quando criança tenham restringido sua agenda nos
últimos anos, a cantora canadense
voltou aos palcos este ano com vigor e estilo, em turnês com Bob
Dylan e Van Morrison e cantando
no festival "A Day in the Garden",
inspirado em Woodstock.
A partir do dia 23 voltará a apresentar-se com Dylan e, dia 6 de novembro, num show transmitido
pelo sistema pay-per-view.
Embora Mitchell tenha se distanciado, há alguns anos, das entrevistas, que considera degradantes, recentemente abriu exceção. Durante um almoço de duas horas à base
de massas, suco de "cranberries" e
cigarros, em seu restaurante predileto em Brentwood, ela falou de temas profissionais e pessoais, desde
o desprezo que sente pelo pop contemporâneo até seu prazer em ser
avó. Leia a seguir trechos da entrevista.
Pergunta - Você influenciou dezenas de músicos que fazem sucesso hoje. É irritante ver seus imitadores vendendo mais que você?
Joni Mitchell - É desanimador,
mas sou obrigada a aceitar. Eles
não são tão bons, mas vendem 20
vezes mais do que eu. Muitas imitações são criadas por produtores
que estudam minha obra e tentam
criar uma fórmula a partir dela. Aí
colocam as imitações contra mim
no mercado, anunciam que são o
novo "eu", ao mesmo tempo em
que eu continuo viva e eles me excluem da jogada. É doloroso, frustrante.
Pergunta - Você expressou essas
queixas para sua gravadora?
Joni - Tive uma atitude bem
ruim. Eu disse: "Odeio e desprezo a
indústria fonográfica. Não passo
de alguém que está acampando
aqui e que não está feliz nesse lugar". Acertamos algumas coisas,
nada extraordinário. Para minha
auto-estima era preciso melhorar.
As gravadoras basicamente abandonam os artistas depois que eles
passam a ser respeitados.
Pergunta - Isso ocorreu com você?
Joni - Por causa de minha natureza experimental, virei artista sem
gênero, então as rádios e a MTV
passaram a não tocar minhas músicas. O selo diz: "Não nos importa
que você não venda discos". Eu falei: "O problema é esse! Vocês não
querem investir em mim. Se sou
tão boa que todo mundo é comparado a mim, então me deixem participar deste negócio". Meu trabalho tem mais profundidade, amplitude, substância.
Pergunta - Como você conseguiu
resistir nesse ambiente?
Joni - Virei a tartaruga de Ésopo:
devagar e sempre. A cada vez que a
indústria desprezava um projeto
meu e colocava alguma outra coisa
num pedestal por ser nova, eu tinha que adotar uma atitude estóica
e esperar. Mas acabei perdendo a
paciência. Senti vontade de sair do
ramo, e isso no momento em que
estava prestes a fazer este álbum.
Talvez os deuses me tenham dado uma folga, porque de repente as
pessoas começaram a ver que não
estavam me valorizando o suficiente e passaram a me dar muitas
honrarias. Sabiam que deveriam
me dar alguma coisa, mas pareciam não saber realmente por quê.
Pergunta - Por que você não foi à
cerimônia de sua inclusão no Rock
and Roll Hall of Fame?
Joni - Hoje parece que eles incluem no Hall of Fame qualquer
pessoa que tenha feito um disco
que entra na lista dos Top Ten. Então não chega a ser realmente uma
honra. Meu tempo é mais bem gasto com minhas crianças. Foi meu
primeiro Dia das Mães!
Pergunta - Em 1965 você teve
uma filha (Kilauren Gibb) e, seis
meses depois, deu-a para adoção.
Recentemente você reencontrou-a
e conheceu seu neto, Marlin. Agora
eles fazem parte de sua vida?
Joni - Eu os adoro. Ao lado deles,
me sinto realizada. Kilauren está se
separando do marido, um processo sempre difícil. Acabo de me divorciar (de Larry Klein), mas sou
mais velha. Kilauren e eu fomos direto para a estrada, juntas. Com
certeza podemos nos entender.
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