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LITERATURA
Autores freqüentes em feiras e fóruns discutem a pertinência e o sucesso desse tipo de evento, "sujeito à indústria"
Profusão de encontros literários marca cena brasileira
JULIÁN FUKS
DA REPORTAGEM LOCAL
Feiras, festas, fóruns, colóquios,
seminários... Dê o nome para
uma reunião de escritores em volta de uma mesa, livros à frente ou
logo à saída, e será fácil a constatação: surgiu um novo desses no
Brasil neste ano.
Exemplos se fazem necessários?
Tome fôlego para os maiores: o 1º
Fórum das Letras de Ouro Preto,
iniciado anteontem, a 1ª Festa
Portuguesa de Cabo Frio, o 1º Festival Literário de Londrina, a 1ª
Feira do Livro de Goiás e melhor
parar por aí antes de que o texto se
torne catálogo.
Os informados alertam para algum esquecimento? Pois sim, já
que sua variedade de tamanhos e
formatos torna impossível quantificá-los, melhor é afirmar que há
um sem-número de eventos literários ocorrendo pelo país, ocupando as mais recônditas salas e
ermos anfiteatros. Encontros que,
para além do rompimento com a
antiga tradição anônima da criação literária, não apenas têm dado
nome aos textos, como imprimido rostos de autores como marcas
d'água nas páginas que escrevem.
Esses eventos têm transformado a relação entre leitores e escritores e, sobretudo, a vida destes,
mais atribulados e expostos. Luiz
Ruffato, por exemplo, nome recorrente nas programações, conta
quase não ter passado neste ano
15 dias seguidos em sua casa, sempre atendendo ao convite de algum evento. Nelson de Oliveira,
outra figura requisitada, participou de cinco neste semestre. Santiago Nazarian, de oito no ano todo. E ninguém os maldiz. Agradecem o incremento de renda e
apreciam a chance de interação.
Ruffato pensa até que, a exemplo da efervescência literária européia, poderiam existir mais encontros desses no Brasil. Sem render-se à reverência, todavia, ele
analisa: "Nos últimos anos, percebeu-se que é possível transformar
tudo isso em um circuito literário,
ajustado à indústria do livro".
Uma indústria que se paramenta de duas vestes distintas: a das
feiras, que têm como objetivo a
venda de livros, e a dos fóruns,
que visam mais à circulação de
idéias. Ruffato credita a difusão
desse modelo ao exemplo da Festa Literária Internacional de Parati (Flip), surgida há três anos.
Apesar disso, vale observar que
uma versão mais popular da festa
existe desde 1981, na Jornada Literária de Passo Fundo, um evento
de caráter mais independente.
A submissão a esse mercado
-os escritores acabam servindo
de propagandistas de seus próprios livros- é um assunto que
preocupa Nazarian. "Eles perceberam que os autores estão dispostos e que o sistema gera lucros", diz. O curioso, neste caso, é
que Nazarian deve grande parte
de seu sucesso à Flip, que o revelou como jovem autor em 2003,
poucos meses após a publicação
de seu primeiro livro.
Mais otimista, por fim, está Nelson de Oliveira, que vê na profusão de eventos uma boa forma de
tornar o tão etéreo exercício da literatura um tanto mais rentável,
pelo pagamento de cachês no valor de R$ 1.000, em média. Só não
verifica um aumento real na venda de seus livros, o que impede a
ele e aos outros de dizer, sem
qualquer ressalva, que seja mais
possível viver de literatura nestes
tempos.
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