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CRÍTICA DOCUMENTÁRIO
Centrado na competição e na rivalidade, longa transforma Senna em semideus
CRÍTICO DA FOLHA
Apesar das muitas imagens inéditas, "Senna", documentário que celebra os 50
anos de nascimento do piloto, completados em março
passado, dirige-se mais ao
grande público adorador de
Ayrton do que aos apreciadores de automobilismo.
Não há novidades para
quem acompanhou sua carreira de perto. Feito por produtores britânicos, com a colaboração da família Senna,
que abriu seus arquivos, o filme não é uma biografia.
Prefere traçar um perfil do
piloto, um perfil "oficial", em
que a emoção dá o tom. A vida pessoal é pouco abordada, o foco é na competição.
Por competição, entenda-se Fórmula 1. Se o tema principal é a carreira do piloto na
categoria -na qual correu de
1984 até morrer, dez anos depois-, a ênfase recai sobre os
bastidores, em detrimento
das corridas e das belas manobras.
Esse mergulho nas coxias
da categoria destaca um aspecto de sua carreira: a feroz
rivalidade com Alain Prost.
Senna teve outros grandes
adversários, como Nigel
Mansell e Nelson Piquet, mas
isso parece irrelevante.
Na rivalidade com Prost
-pintado como "freguês" de
Senna (apesar de seus quatro
títulos mundiais)-, fala-se
de tudo, menos do episódio
em que a inimizade nasceu:
um pacto entre ambos feito
antes da largada do GP de
San Marino, em 1989, logo
descumprido por Senna.
ENALTECIMENTO
A insistência nas querelas
com Jean-Marie Balestre, então presidente da Federação
Internacional de Automobilismo, que favoreceu Prost,
faz parte da estratégia do documentário: colocar Senna
como vítima, para melhor
enaltecê-lo.
Não era preciso, pois o brasileiro foi um dos melhores
pilotos de todos os tempos,
senão o melhor.
Dos vários erros que Senna
cometeu na pista, o filme só
menciona a batida em Mônaco, em 1988, quando liderava
com enorme vantagem. Falar
disso arranharia a imagem
de perfeição que o filme se
empenha em construir.
Mas sobram arengas de
Senna sobre fé religiosa,
"força interior", "obsessão
pela vitória"; pura verborragia utilizada pelo diretor Asif
Kapadia (que admitiu nada
saber de corridas antes de fazer o filme) para erigi-lo em
semideus.
(ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ)
SENNA
DIREÇÃO Asif Kapadia
PRODUÇÃO Reino Unido, 2010
ONDE nos cines Reserva Cultural,
Kinoplex Itaim, Anália Franco e
circuito
CLASSIFICAÇÃO não informada
AVALIAÇÃO regular
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