São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2010

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CRÍTICA DOCUMENTÁRIO

Centrado na competição e na rivalidade, longa transforma Senna em semideus

CRÍTICO DA FOLHA

Apesar das muitas imagens inéditas, "Senna", documentário que celebra os 50 anos de nascimento do piloto, completados em março passado, dirige-se mais ao grande público adorador de Ayrton do que aos apreciadores de automobilismo.
Não há novidades para quem acompanhou sua carreira de perto. Feito por produtores britânicos, com a colaboração da família Senna, que abriu seus arquivos, o filme não é uma biografia.
Prefere traçar um perfil do piloto, um perfil "oficial", em que a emoção dá o tom. A vida pessoal é pouco abordada, o foco é na competição.
Por competição, entenda-se Fórmula 1. Se o tema principal é a carreira do piloto na categoria -na qual correu de 1984 até morrer, dez anos depois-, a ênfase recai sobre os bastidores, em detrimento das corridas e das belas manobras.
Esse mergulho nas coxias da categoria destaca um aspecto de sua carreira: a feroz rivalidade com Alain Prost.
Senna teve outros grandes adversários, como Nigel Mansell e Nelson Piquet, mas isso parece irrelevante.
Na rivalidade com Prost -pintado como "freguês" de Senna (apesar de seus quatro títulos mundiais)-, fala-se de tudo, menos do episódio em que a inimizade nasceu: um pacto entre ambos feito antes da largada do GP de San Marino, em 1989, logo descumprido por Senna.

ENALTECIMENTO
A insistência nas querelas com Jean-Marie Balestre, então presidente da Federação Internacional de Automobilismo, que favoreceu Prost, faz parte da estratégia do documentário: colocar Senna como vítima, para melhor enaltecê-lo.
Não era preciso, pois o brasileiro foi um dos melhores pilotos de todos os tempos, senão o melhor.
Dos vários erros que Senna cometeu na pista, o filme só menciona a batida em Mônaco, em 1988, quando liderava com enorme vantagem. Falar disso arranharia a imagem de perfeição que o filme se empenha em construir.
Mas sobram arengas de Senna sobre fé religiosa, "força interior", "obsessão pela vitória"; pura verborragia utilizada pelo diretor Asif Kapadia (que admitiu nada saber de corridas antes de fazer o filme) para erigi-lo em semideus.
(ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ)

SENNA

DIREÇÃO Asif Kapadia
PRODUÇÃO Reino Unido, 2010
ONDE nos cines Reserva Cultural, Kinoplex Itaim, Anália Franco e circuito
CLASSIFICAÇÃO não informada
AVALIAÇÃO regular


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