|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRECHOS
"Temos um destino de ditadores'
de Buenos Aires
Leia a seguir trechos dos diálogos entre Jorge Luis Borges e
Osvaldo Ferrari, que estão no
livro "En Diálogo 2".
(MA)
Jorge Luis Borges - Quando
publiquei esse poema ("Poema
Conjectural"), o poema era não
só história do passado, mas
também história contemporânea, porque certo ditador acabara de assumir o poder e todos
nos encontramos com o nosso
destino sul-americano. Nós,
que julgávamos ser Paris, e que
éramos, bem, sul-americanos,
não? De modo que, naquele
momento, os que leram isso o
sentiram como atual: "Por fim
me encontro/ com meu destino
sul-americano". Sul-americano no sentido mais melancólico da palavra, ou mais trágico
da palavra.
Osvaldo Ferrari - Mas o senhor iniciou, com essas duas linhas, uma compreensão metafísica do nosso destino; porque
agora todos sabemos que em
algum momento vamos nos
encontrar com nosso destino
sul-americano.
Borges - Eu diria que já nos
encontramos e muito, não? (ri).
O curioso é que nos inclinamos
a isso também, não é? Porque
antes se pensava na América do
Sul como um lugar muito distante, com certo encanto exótico. Agora não, agora somos
sul-americanos; temos que nos
resignar a sê-lo e sermos dignos desse destino que, ao fim e
ao cabo, é o nosso.
Ferrari - A outra dedução possível, Borges, é a de que os sul-americanos -já que disso trata o poema- teríamos chegado a ter de alguma maneira um
destino próprio, um destino
sul-americano.
Borges - E um destino triste,
hein? Um destino de ditadores.
Mas parece que estamos de algum modo predestinados: nenhum continente deu pessoas
que quiseram ser chamadas de
"O Supremo Entrerriano", como Ramírez; "O Supremo", como López no Paraguai; ou o
"Grande Cidadão", como não
sei quem na Venezuela.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|