São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 1998

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Livros mostram visualidade do Brasil

Reprodução
"Santo" (Sagrado Coração 2), óleo de 1927 de Tarsila do Amaral presente no livro "Pintura Brasileira do Século 20"


PAULO VIEIRA
especial para a Folha

Apesar da escumalha econômica em que estamos metidos, dezembro marca a chegada de quatro livros de arte, sempre de produção cara no Brasil, às livrarias e museus brasileiros. O Itaú e o MAM de São Paulo ganham publicações que compilam parte de seus acervos, mas que não serão vendidas comercialmente.
O Sesi impulsiona a reedição de "Leonilson - São Tantas as Verdades", sobre o artista José Leonilson (veja texto abaixo). E o crítico Olívio Tavares de Araújo dá sua visão pessoal sobre o século em "Pintura Brasileira do Século 20".
Apesar de o título pomposo, "Pintura" não é presunçoso. Embora circunscreva a 20 os artistas que selecionou para representar o período -e aí talvez resida a maior "polêmica" da publicação-, Araújo consegue unir teoria crítica a um texto vivamente jornalístico, reforçado por depoimentos e frases dos biografados. Há ainda uma claro objetivo didático na introdução, em que o autor relaciona os principais movimentos da pintura brasileira.
Araújo começa sua seleção em Eliseu Visconti, discípulo do academismo de Vitor Meirelles, e chega a contemporâneos como Gonçalo Ivo, uma das surpresas de sua eleição. Inclui "vacas sagradas" como Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, mas também apresenta preferências nunca disfarçadas como Rubem Valentim e Volpi. Suas biografias, curtas, acompanhadas de apenas duas ou três imagens, são informativas.
Sabemos do paisagista José Pancetti (1902-1958), por exemplo, em suas próprias palavras: "Se eu pudesse recomeçar a vida, seria novamente marinheiro". O pintor, que serviu nas marinhas italiana e brasileira, celebrizou-se mais tarde por suas paisagens marinhas.
Se o início da arte moderna brasileira se dá na Semana de 22, é num artigo do "Diário Popular" de 1934 que Araújo busca um dos "fatos incidentais" para a obra.
Nesse ano, uma festa organizada pela Sociedade Pró Arte Moderna (Spam), grupo liderado por Lasar Segall, dá ensejo para um ataque ao grupo, visto como "ponta de lança da subversão moral bolchevista e judaica". Diz o articulista: "Expulsem-se do território nacional os estrangeiros exploradores do lenocínio. Expulsem-se os cáftens, mas feche-se também a Spam".
O texto ganha importância quando cotejado com o artigo "Paranóia ou Mistificação", com que Monteiro Lobato atacou a célebre exposição de 1917 de Anita Malfatti. Araújo ainda segue colecionando artigos críticos, muitos de contundência similar, talvez para mostrar quão difíceis eram as "condições objetivas" para a implantação de uma pintura de cunho moderno no Brasil.
O MAM acaba de ganhar o 17º volume dos livros editados pelo Banco Safra, que compila acervos de museus brasileiros. De seu acervo de 2.300 obras, a publicação apresenta cerca de 150. Já o Itaú decidiu também reunir o acervo que espalha por suas várias sedes em "Perfil da Coleção Itaú". É, em uma palavra, eclético. Vai de Frans Post e Rugendas a Louise Bourgeois, passando por nomes da pintura contemporânea brasileira.
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Livro: Pintura Brasileira do Século 20 Autor: Olívio Tavares de Araújo Lançamento: 4 Estações (tel. 021/220-3123) Quanto: R$ 96 (115 págs.)




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