São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 1998

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Folha pergunta...

da Reportagem Local

Em outubro do ano passado, o caderno Mais! publicou o primeiro capítulo do romance "Enduring Love", de Ian McEwan. Como apresentação, o ensaísta Arthur Nestrovski, responsável pela tradução, escreveu um "texto-pergunta" formado por 30 questões para McEwan.
A pedido da Folha, o autor de "Amsterdam", vencedor do Booker Prize, escreveu um "texto-resposta" a partir das questões de Nestrovski. Leia a seguir o texto "Trinta Perguntas para Ian McEwan" e, na margem direita da página, veja o que o escritor britânico chamou de "Vinte e Nove Respostas de McEwan". (CEM)
ARTHUR NESTROVSKI
especial para a
Folha


Como contar o que não pode ser contado? Como preservar a incompreensibilidade do que é incompreensível? Como evitar a traição do evento pela compreensão? E a traição de si? Será possível escrever num modo não-simbólico?
Será possível repetir, com palavras, uma forma de conhecimento perpetuamente adiado? Será possível casar, afinal, o imaginário e o real? Quem é capaz de testemunhar, sem se adonar de um fato? Quem é capaz de ser testemunha de si?
Como evitar a sedução da narrativa? Como escapar do que é bonito? Como deslocar o domínio da escrita para além do artesanato e da dominação? Como escrever tudo isto com palavras? Como escrever?
Como chegar a esse conhecimento do que não se deixa apreender pelo pensamento, nem pela memória, tampouco pela fala? Quais são os limites da representação? Quando o que está em jogo não é uma questão só de técnica, mas de escrúpulo?
Como fazer coincidir a narrativa e o testemunho? A história e a leitura? Quais são os limites da metáfora? Será possível reter cada impressão como uma primeira impressão? Será possível ver tudo de novo como pela primeira vez? Será possível estar presente à nossa própria vida? Como fazer a experiência entrar no real?
Como combater o sentimento de não sentir mais nada? Como preservar a literalidade do evento? Como distinguir, de maneira clara, entre psicologia e ética? Será possível juntar de novo o narrador consigo mesmo? Como traduzir tudo isto em palavras? Como traduzir?
˛


Arthur Nestrovski é professor titular de literatura na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), autor de "Ironias da Modernidade" (Ática) e organizador de "Riverrun - Ensaios sobre James Joyce" (Imago), entre outros.



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