São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Enólogos retratam as facetas do mundo do vinho

JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA

Motivados provavelmente pela intensa sede de conhecimentos a respeito do vinho de um número cada vez maior de apreciadores -que têm lotado cursos e eventos em torno da bebida-, vários autores brasileiros lançaram livros que abordam diferentes aspectos do mundo de Baco. Alguns se debruçam no bê-á-bá desse universo fascinante, tentando dar os ensinamentos iniciais para os que querem dar os primeiros passos na deliciosa trilha do vinho.
Entre eles está precisamente "Introdução ao Mundo do Vinho", de Ciro Lilla. Amante dos vinhos há décadas, Lilla foi diretor de degustação da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho e fundador da Associação Brasileira de Sommeliers, ambas de São Paulo. Escrito em linguagem acessível, o seu livro define um ótimo percurso para descobrir os segredos dessa bebida milenar.
No primeiro capítulo, Lilla apresenta os diferentes elos envolvidos com o nascimento do vinho: vinhedo, produção, barricas, garrafas. Passeia depois pelas diferentes cepas do planeta, os vinhos e seus países de origem, a sua combinação com a comida, cuidados e equipamentos necessários. No fim da viagem, em "Perguntas Mais Freqüentes", esclarece pontos úteis para o dia-a-dia do consumidor, como o que faz a diferença entre uma safra boa e outra ruim, ou como guardar o vinho que sobrou na garrafa, fechando uma das melhores publicações atuais sobre o tema.
Com um roteiro um pouco mais longo, "Vinhos: o Essencial", de José Ivan Santos, obtém um resultado similar. Talvez por causa da sua experiência profissional (engenheiro, Santos dedicou parte da sua vida a docência, atuando como professor de física em escolas e cursinhos de São Paulo), o autor coloca todas as peças que dão forma ao panorama básico do vinho de uma forma lógica, bem encadeada e de fácil leitura. As páginas dedicadas aos vinhos do mundo incluem listas úteis com os principais produtores, muitos deles presentes no Brasil (uma pena, porém, que faltem os dos Estados Unidos, país com alguns dos melhores tintos do planeta).

Sucinto demais
"Vinhos, uma Festa dos Sentidos", de Rogério Dardeau, está também focado em aspectos básicos. Advogado e professor universitário no Rio, Dardeau, tal como o seu nome sugere, é descendente de franceses. A sua família elabora vinhos em terras gaulesas, na região do Loire. O seu livro é uma obra sucinta (talvez demais) para um tema tão vasto, que leva o leitor a grandes passos pelos pontos fundamentais no cenário do vinho.
Após abrir com uma pequena história do vinho, Dardeau toca em conceitos gerais, como tipos de vinhos, a sua composição, serviço e conservação. Há outras partes interessantes, como as de vinho e sua relação com a saúde e uma seção com informações a respeito das variedades de uvas mais importantes. Uma próxima edição, porém, deveria sanar algumas omissões (uma delas é falar do Rhône sem mencionar os tremendos tintos de Hermitage e Côte Rotie, entre os melhores da França) e pequenas derrapadas (por exemplo, listar a Cote d'Or como uma região gaulesa distinta da Borgonha, sendo que é parte dela) para dar mais rigor à obra.
Em suas obras, Marcelo Copello e Aguinaldo Záckia Albert percorrem outros caminhos.
Em "O Admirável Mundo Novo do Vinho e as Regiões Emergentes", Záckia (enófilo e por duas vezes presidente da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho de São Paulo) retrata as mudanças ocorridas na indústria vitivinícola do planeta nas últimas décadas. Entre elas estão o surgimento e a consolidação dos novos países produtores de vinhos finos, como Austrália, Nova Zelândia e, mais recentemente, a Argentina, as ex-colônias, que constituem o chamado Novo Mundo vinícola.
Outra parte está dedicada à Europa, com foco em regiões que passaram por uma revolução renovadora, como o Alentejo, em Portugal, Puglia e Sicília, na Itália, ou o Languedoc-Roussillon, na França. Cada capítulo tem uma lista com os produtores de cada lugar dando boas informações de compra para o consumidor.

O homem e o vinho
Já Copello, declara as suas intenções no primeiro parágrafo de "Vinho & Algo Mais": "Não falarei aqui de nenhum vinho, de nenhuma região, de nenhuma safra, falarei do homem, dos seus sentimentos, de sua vida e de como o vinho participa nela". O autor cumpre a tarefa que se impôs apenas em parte. Alguns textos abordam o vinho relacionado com temas como religião (e o papel da bebida em diversos cultos e civilizações) e música. Neste último, o autor arrisca combinações de tintos e brancos com diferentes ritmos: "Seja qual for o seu estado de espírito, sempre haverá um vinho e uma música adequados".
Em outros, porém, o título acaba sendo apenas um pretexto para abordar temas clássicos. "Vinho e Matrimônio" e "Vinho e Queijo", por exemplo, são capítulos clássicos de harmonização de vinho com comida. De qualquer forma, o livro está bem escrito, aborda alguns temas pouco usuais e merece ser conferido.


Texto Anterior: Mundo gourmet: Creatyvo é vegetariano sem cair em extremismos
Próximo Texto: Televisão: "Dia de Maria" respeita inteligência do público e dignidade do ator
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.