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Enólogos retratam as facetas do mundo do vinho
JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA
Motivados provavelmente pela
intensa sede de conhecimentos a
respeito do vinho de um número
cada vez maior de apreciadores
-que têm lotado cursos e eventos em torno da bebida-, vários
autores brasileiros lançaram livros que abordam diferentes aspectos do mundo de Baco. Alguns
se debruçam no bê-á-bá desse
universo fascinante, tentando dar
os ensinamentos iniciais para os
que querem dar os primeiros passos na deliciosa trilha do vinho.
Entre eles está precisamente
"Introdução ao Mundo do Vinho", de Ciro Lilla. Amante dos
vinhos há décadas, Lilla foi diretor
de degustação da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho e
fundador da Associação Brasileira de Sommeliers, ambas de São
Paulo. Escrito em linguagem
acessível, o seu livro define um
ótimo percurso para descobrir os
segredos dessa bebida milenar.
No primeiro capítulo, Lilla
apresenta os diferentes elos envolvidos com o nascimento do vinho: vinhedo, produção, barricas,
garrafas. Passeia depois pelas diferentes cepas do planeta, os vinhos e seus países de origem, a
sua combinação com a comida,
cuidados e equipamentos necessários. No fim da viagem, em
"Perguntas Mais Freqüentes", esclarece pontos úteis para o dia-a-dia do consumidor, como o que
faz a diferença entre uma safra
boa e outra ruim, ou como guardar o vinho que sobrou na garrafa, fechando uma das melhores
publicações atuais sobre o tema.
Com um roteiro um pouco mais
longo, "Vinhos: o Essencial", de
José Ivan Santos, obtém um resultado similar. Talvez por causa da
sua experiência profissional (engenheiro, Santos dedicou parte da
sua vida a docência, atuando como professor de física em escolas
e cursinhos de São Paulo), o autor
coloca todas as peças que dão forma ao panorama básico do vinho
de uma forma lógica, bem encadeada e de fácil leitura. As páginas
dedicadas aos vinhos do mundo
incluem listas úteis com os principais produtores, muitos deles
presentes no Brasil (uma pena,
porém, que faltem os dos Estados
Unidos, país com alguns dos melhores tintos do planeta).
Sucinto demais
"Vinhos, uma Festa dos Sentidos", de Rogério Dardeau, está
também focado em aspectos básicos. Advogado e professor universitário no Rio, Dardeau, tal como o seu nome sugere, é descendente de franceses. A sua família
elabora vinhos em terras gaulesas,
na região do Loire. O seu livro é
uma obra sucinta (talvez demais)
para um tema tão vasto, que leva
o leitor a grandes passos pelos
pontos fundamentais no cenário
do vinho.
Após abrir com uma pequena
história do vinho, Dardeau toca
em conceitos gerais, como tipos
de vinhos, a sua composição, serviço e conservação. Há outras
partes interessantes, como as de
vinho e sua relação com a saúde e
uma seção com informações a
respeito das variedades de uvas
mais importantes. Uma próxima
edição, porém, deveria sanar algumas omissões (uma delas é falar do Rhône sem mencionar os
tremendos tintos de Hermitage e
Côte Rotie, entre os melhores da
França) e pequenas derrapadas
(por exemplo, listar a Cote d'Or
como uma região gaulesa distinta
da Borgonha, sendo que é parte
dela) para dar mais rigor à obra.
Em suas obras, Marcelo Copello
e Aguinaldo Záckia Albert percorrem outros caminhos.
Em "O Admirável Mundo Novo
do Vinho e as Regiões Emergentes", Záckia (enófilo e por duas
vezes presidente da Sociedade
Brasileira dos Amigos do Vinho
de São Paulo) retrata as mudanças ocorridas na indústria vitivinícola do planeta nas últimas décadas. Entre elas estão o surgimento e a consolidação dos novos
países produtores de vinhos finos,
como Austrália, Nova Zelândia e,
mais recentemente, a Argentina,
as ex-colônias, que constituem o
chamado Novo Mundo vinícola.
Outra parte está dedicada à Europa, com foco em regiões que
passaram por uma revolução renovadora, como o Alentejo, em
Portugal, Puglia e Sicília, na Itália,
ou o Languedoc-Roussillon, na
França. Cada capítulo tem uma
lista com os produtores de cada
lugar dando boas informações de
compra para o consumidor.
O homem e o vinho
Já Copello, declara as suas intenções no primeiro parágrafo de
"Vinho & Algo Mais": "Não falarei aqui de nenhum vinho, de nenhuma região, de nenhuma safra,
falarei do homem, dos seus sentimentos, de sua vida e de como o
vinho participa nela". O autor
cumpre a tarefa que se impôs apenas em parte. Alguns textos abordam o vinho relacionado com temas como religião (e o papel da
bebida em diversos cultos e civilizações) e música. Neste último, o
autor arrisca combinações de tintos e brancos com diferentes ritmos: "Seja qual for o seu estado de
espírito, sempre haverá um vinho
e uma música adequados".
Em outros, porém, o título acaba sendo apenas um pretexto para abordar temas clássicos. "Vinho e Matrimônio" e "Vinho e
Queijo", por exemplo, são capítulos clássicos de harmonização de
vinho com comida. De qualquer
forma, o livro está bem escrito,
aborda alguns temas pouco
usuais e merece ser conferido.
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