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"O SONHO AZUL"
Realismo escapa de viés monumental
CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN
Sonhos pertencem às experiências que identificam os integrantes de certas gerações. Algumas sonharam casar e ter filhos, e outras, praticar a liberdade
moral e sexual. Para outras ainda,
liberdade de expressão já bastava.
Nesta se enquadra "Um Sonho
Azul", realizado em 1993 por Tian
Zhuangzhuang e lançado no Brasil em 1997. Sua reexibição a partir
de hoje ajuda a reavaliar a dimensão de Zhuangzhuang, integrante
da chamada "quinta geração do
cinema chinês".
A categoria designava, a partir
dos anos 80, a quinta turma formada pela Academia de Cinema
de Pequim desde 1949 (ano da tomada comunista do poder no
país) e reunia os então promissores Chen Kaige (de "Adeus Minha
Concubina") e Zhang Yimou (de
"Lanternas Vermelhas"), além de
Zhuangzhuang.
Enquanto seus pares conquistaram reputação com melodramas
de tintas exóticas, Zhuangzhuang
mergulhou no ostracismo por
causa do realismo sem retoques
desse "Um Sonho Azul".
Proibido de filmar pelas autoridades chinesas, Zhuangzhuang só
retomou a direção em 2002, com
"Springtime in a Small Town",
premiado no Festival de Veneza
do ano passado.
"Um Sonho Azul" acompanha a
infância e entrada na adolescência
de Tietou, que coincidem com o
período de grandes mudanças no
regime de Mao Tse-tung (1893-1976), como o Grande Salto para a
Frente (de 58 a 60) e a Revolução
Cultural (a partir de 66).
Em vez de retratar a história sob
o viés monumental, Zhuangzhuang opta por mostrá-la tal como vivida. Não há ênfase em "tomadas de consciência" pelo protagonista, interessado mais nas
brincadeiras de infância.
Ao mesmo tempo, seja pela encenação seca, seja pelo ponto de
vista endógeno pelo qual é narrado, "O Sonho Azul" consegue
atingir a rara qualidade de ser um
filme político em vez de ser meramente um filme "sobre o político"
(daqueles em que a história serve
só de ilustração, como se fosse um
cenário).
Aí se encontram, de mãos dadas, a beleza de seu resultado e o
motivo de ter provocado tanto a
ira do autoritarismo chinês.
O Sonho Azul
Lan Feng Zheng
Produção: China, 1993
Direção: Zhuangzhuang Tian
Com: Quanxin Pu, Liping Lu
Quando: a partir de hoje no Cinesesc
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