São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

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COMÉDIA

"Apaixonados" teve mais de um milhão de espectadores no país vizinho

SP vê sucesso comercial argentino

SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA

Ele não está nem aí para a boa acolhida que os cineastas argentinos têm recebido dos festivais europeus. Também não quer saber dos confetes jogados pela crítica especializada internacional ao que se convencionou chamar de "buena onda" latina. "São filmes underground", afirma. "Não atingem muitas pessoas nem ficam muito tempo em cartaz".
Juan José Jusid, 62, não é badalado pelos cinéfilos como Marcelo Piñeyro ("Plata Quemada") ou Juan José Campanella ("O Filho da Noiva"), mas parece saber, pelo menos, o que o grande público quer assistir. Seu "Apaixonados", que estréia hoje em São Paulo, foi visto por 1,2 milhão de pessoas na Argentina. Isso em 2002, quando o país passava por um dos momentos mais agudos da crise econômica que se desencadeou depois do fim do governo De la Rúa.
O filme conta a história de uma garota que pede à melhor amiga que lhe empreste o namorado para ser doador de sêmen na produção de um filho independente.
A televisão determina tanto o formato como o financiamento desta comédia romântica. Trata-se de uma co-produção com a Espanha, custeada pela emissora argentina Telefé. Jusid tem longa carreira em televisão e 28 anos dirigindo peças publicitárias.
A idéia da trama, por sua vez, também partiu de uma série televisiva. "Em 94, dirigi "Donde Estás Amor de Mi Vida que No te Puedo Encontrar" -eram histórias de amor de solitários que se conheciam por um programa de rádio. Uma das histórias era a de um casal de lésbicas que queria ter um filho e pedia a um amigo uma doação de sêmen", conta Jusid em entrevista à Folha.
Em "Apaixonados", as coisas não caminham como o previsto e o rapaz que devia apenas doar o sêmen acaba se apaixonando pela mãe solitária. Um tanto convencional? Jusid vê de outro modo. "Queria mostrar como algo que é planejado de forma calculada e racional pode ter conseqüências irracionais e destruir uma determinada situação afetiva."
A excelente recepção do público não se refletiu na crítica. "Os críticos têm uma atitude fundamentalista, somente os que apóiam um cinema muito underground são bem vistos. E são filmes que não sobrevivem mais que algumas semanas, que poucos assistem. Os críticos na Argentina têm preconceito quanto a um cinema que possa interessar ao público. E o que me incomoda é que esses mesmos críticos são complacentes quando o filme vem de Hollywood. São discriminatórios com um tipo de cinema que existe desde "Cantando na Chuva".
Por ser uma co-produção com a Espanha, o elenco foi negociado entre os dois países. Numa tentativa de agradar o público nacional e estrangeiro, há estrelas do cinema argentino conhecidas no exterior, como a protagonista Natalia Verbeke -a namorada de Ricardo Darín em "O Filho da Noiva"- e o veterano Hector Alterio ("A História Oficial"), atuando ao lado de um punhado de caras conhecidas da televisão argentina, como o protagonista Pablo Echarrí. "Tive que sentar e negociar o elenco com os produtores espanhóis, mas qualquer diretor do mundo tem de fazer isso, não considero uma intervenção", diz.


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