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COMÉDIA
"Apaixonados" teve mais de um milhão de espectadores no país vizinho
SP vê sucesso comercial argentino
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
Ele não está nem aí para a boa
acolhida que os cineastas argentinos têm recebido dos festivais europeus. Também não quer saber
dos confetes jogados pela crítica
especializada internacional ao
que se convencionou chamar de
"buena onda" latina. "São filmes
underground", afirma. "Não atingem muitas pessoas nem ficam
muito tempo em cartaz".
Juan José Jusid, 62, não é badalado pelos cinéfilos como Marcelo
Piñeyro ("Plata Quemada") ou
Juan José Campanella ("O Filho
da Noiva"), mas parece saber, pelo menos, o que o grande público
quer assistir. Seu "Apaixonados",
que estréia hoje em São Paulo, foi
visto por 1,2 milhão de pessoas na
Argentina. Isso em 2002, quando
o país passava por um dos momentos mais agudos da crise econômica que se desencadeou depois do fim do governo De la Rúa.
O filme conta a história de uma
garota que pede à melhor amiga
que lhe empreste o namorado para ser doador de sêmen na produção de um filho independente.
A televisão determina tanto o
formato como o financiamento
desta comédia romântica. Trata-se de uma co-produção com a Espanha, custeada pela emissora argentina Telefé. Jusid tem longa
carreira em televisão e 28 anos dirigindo peças publicitárias.
A idéia da trama, por sua vez,
também partiu de uma série televisiva. "Em 94, dirigi "Donde Estás
Amor de Mi Vida que No te Puedo Encontrar" -eram histórias
de amor de solitários que se conheciam por um programa de rádio. Uma das histórias era a de um
casal de lésbicas que queria ter um
filho e pedia a um amigo uma
doação de sêmen", conta Jusid em
entrevista à Folha.
Em "Apaixonados", as coisas
não caminham como o previsto e
o rapaz que devia apenas doar o
sêmen acaba se apaixonando pela
mãe solitária. Um tanto convencional? Jusid vê de outro modo.
"Queria mostrar como algo que é
planejado de forma calculada e
racional pode ter conseqüências
irracionais e destruir uma determinada situação afetiva."
A excelente recepção do público
não se refletiu na crítica. "Os críticos têm uma atitude fundamentalista, somente os que apóiam um
cinema muito underground são
bem vistos. E são filmes que não
sobrevivem mais que algumas semanas, que poucos assistem. Os
críticos na Argentina têm preconceito quanto a um cinema que
possa interessar ao público. E o
que me incomoda é que esses
mesmos críticos são complacentes quando o filme vem de Hollywood. São discriminatórios com
um tipo de cinema que existe desde "Cantando na Chuva".
Por ser uma co-produção com a
Espanha, o elenco foi negociado
entre os dois países. Numa tentativa de agradar o público nacional
e estrangeiro, há estrelas do cinema argentino conhecidas no exterior, como a protagonista Natalia
Verbeke -a namorada de Ricardo Darín em "O Filho da Noiva"- e o veterano Hector Alterio
("A História Oficial"), atuando ao
lado de um punhado de caras conhecidas da televisão argentina,
como o protagonista Pablo
Echarrí. "Tive que sentar e negociar o elenco com os produtores
espanhóis, mas qualquer diretor
do mundo tem de fazer isso, não
considero uma intervenção", diz.
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