São Paulo, sexta, 13 de fevereiro de 1998

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Documentário empobrece 'Que Viva México'

AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim

"Que Viva México" (1932), o célebre filme inacabado de Serguei Eisenstein, permanece um enigma para os russos. A prova é "Fantasia Mexicana", que Oleg Kovalov apresentou ontem na abertura do 28º Fórum Internacional do Novo Cinema, o principal ciclo do Festival de Berlim dedicado à produção independente e experimental.
"Não tentei reconstruir o filme que jamais saiu da cabeça do cineasta", explicou ontem Kovalov. "Tenho certeza de que Eisenstein teria feito um filme muito inovador para o início dos anos 30. Mas, temendo ser rude, sinto que ele não poderia editá-lo."
"Que Viva México" foi rodado como uma visão épico-poética da história mexicana. Ao estourar largamente o orçamento e os prazos e ir muito além do documentarismo raso esperado pelo produtor (o escritor esquerdista americano Upton Sinclair), Eisenstein teve de enfrentar a interrupção das filmagens e o confisco do material. Até a morte, aos 50 anos, em 1948, lutou para recuperá-lo e editá-lo.
Inúmeros filmes acabaram utilizando o material. As mais sérias tentativas de aproximação das intenções do diretor foram dirigidas por Marie Seaton (1942), Jay Leyda (1957), Grigory Alexandrov (1979) e Lutz Becher (1995).
O projeto de Kovalov não era o mesmo: "Investigar a natureza dos filmes incompletos". Passou longe.
"Fantasia Mexicana" remonta "Que Viva México" em cem minutos sem maior originalidade. Kovalov manteve a estrutura básica de prólogo mítico, contos contemporâneos e epílogo moderno dedicado à festa de Finados.
O centenário de Eisenstein foi ontem melhor celebrado pela abertura do seminário a ele dedicado e pelo lançamento de uma antologia sobre a relação dele com a Alemanha. Os debates de ontem giraram em torno da relação entre Eisenstein e a arte moderna e sua montagem de "Die Walkure", de Wagner.
O simpósio será concluído no próximo dia 19 por uma mesa sobre Eisenstein e a cultura cinematográfica hoje. Os principais participantes serão o diretor do Museu Eisenstein de Moscou, Naum Kleiman, o cineasta alemão Alexandre Kluge e o crítico Hans-Joachim Schlegel.



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