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Documentário empobrece 'Que Viva México'
AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim
"Que Viva México" (1932), o
célebre filme inacabado de Serguei
Eisenstein, permanece um enigma
para os russos. A prova é "Fantasia Mexicana", que Oleg Kovalov
apresentou ontem na abertura do
28º Fórum Internacional do Novo
Cinema, o principal ciclo do Festival de Berlim dedicado à produção
independente e experimental.
"Não tentei reconstruir o filme
que jamais saiu da cabeça do cineasta", explicou ontem Kovalov.
"Tenho certeza de que Eisenstein
teria feito um filme muito inovador para o início dos anos 30. Mas,
temendo ser rude, sinto que ele
não poderia editá-lo."
"Que Viva México" foi rodado
como uma visão épico-poética da
história mexicana. Ao estourar
largamente o orçamento e os prazos e ir muito além do documentarismo raso esperado pelo produtor (o escritor esquerdista americano Upton Sinclair), Eisenstein
teve de enfrentar a interrupção das
filmagens e o confisco do material.
Até a morte, aos 50 anos, em 1948,
lutou para recuperá-lo e editá-lo.
Inúmeros filmes acabaram utilizando o material. As mais sérias
tentativas de aproximação das intenções do diretor foram dirigidas
por Marie Seaton (1942), Jay Leyda (1957), Grigory Alexandrov
(1979) e Lutz Becher (1995).
O projeto de Kovalov não era o
mesmo: "Investigar a natureza
dos filmes incompletos". Passou
longe.
"Fantasia Mexicana" remonta
"Que Viva México" em cem minutos sem maior originalidade.
Kovalov manteve a estrutura básica de prólogo mítico, contos contemporâneos e epílogo moderno
dedicado à festa de Finados.
O centenário de Eisenstein foi
ontem melhor celebrado pela
abertura do seminário a ele dedicado e pelo lançamento de uma
antologia sobre a relação dele com
a Alemanha. Os debates de ontem
giraram em torno da relação entre
Eisenstein e a arte moderna e sua
montagem de "Die Walkure", de
Wagner.
O simpósio será concluído no
próximo dia 19 por uma mesa sobre Eisenstein e a cultura cinematográfica hoje. Os principais participantes serão o diretor do Museu
Eisenstein de Moscou, Naum Kleiman, o cineasta alemão Alexandre
Kluge e o crítico Hans-Joachim
Schlegel.
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