São Paulo, Sábado, 13 de Março de 1999
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"V de Vingança" volta em 2 volumes


PEDRO CIRNE DE ALBUQUERQUE
free-lance para a Folha

Dez anos depois de sair no Brasil pela primeira vez, chega às bancas uma nova edição de "V de Vingança", história em quadrinhos criada pelos ingleses Alan Moore (roteiro) e David Lloyd (arte).
"V de Vingança" começou a ser publicado em 1981 na revista inglesa "Warrior". Saiu nos EUA em 1988, dividido em dez edições. A primeira publicação no Brasil foi em 1989, em seis números.
A edição de agora, da editora Via Lettera, divide a história em dois volumes. As diferenças em relação à primeira edição, da Globo, são três: está em preto-e-branco, foi retraduzida e possui um glossário no final de cada número comentando as citações -que vão de Shakespeare a Rolling Stones.
O gibi foi um sucesso graças ao roteiro de Moore, um dos maiores nomes da HQ contemporânea. Ele também escreveu "Watchmen" (que está sendo relançado) e "Batman - A Piada Mortal".
As histórias de Moore são sombrias, com enredos elaborados e personagens que não podem ser definidos como "bons" ou "maus". Até mesmo quando escreveu uma história do Batman, Moore tornou tanto o personagem como seu arquiinimigo Coringa humanos, e não estereótipos imutáveis de super-herói e supervilão.
Em "V de Vingança", Moore usa mais uma vez personagens humanos, ou quase humanos, mas certamente repletos de emoções, dúvidas e atitudes justas e injustas.
A "heroína", uma menina de 16 anos, começa a história tentando se prostituir. O personagem principal, um mascarado conhecido como V, assassina impiedosamente seus inimigos. Por outro lado, V luta para derrubar o governo totalitário da Inglaterra futurista em que vive. (Na verdade, não é tão futurista assim: a história, escrita em 1981, se passa em 1998.)
O futuro que Moore previu para a Inglaterra é muito semelhante ao mundo claustrofóbico retratado por George Orwell em "1984".
O governo, onipresente, possui câmeras espalhadas pelas ruas; a cultura foi exterminada, com livros sendo raridades; os inimigos do líder são levados a campos de concentração ou assassinados.
V tem fixação pela letra da qual retirou seu nome. Seu lema é "vi veri veniversum vivus vici" (em latim, "pelo poder da verdade, eu, ainda vivo, conquistarei o universo"). O próprio Moore brinca com a letra, que inicia o nome de todos os capítulos do livro: "Vilão", "Voz", "Vaudeville" etc.
V se veste como Guy Fawkes, o terrorista que tentou explodir o parlamento britânico em 5 de novembro de 1606. Até hoje, as crianças inglesas, nesta data, malham bonecos de Guy Fawkes nas ruas.
A primeira ação terrorista de V no livro é explodir o parlamento britânico -ele tem sucesso onde Fawkes falhou. V prega a ausência completa de governo, com o povo decidindo tudo por si próprio. A ideologia defendida por V e pelo próprio Moore é a da anarquia.

Livro: V de Vingança - volume 1 Autor: Alan Moore Lançamento: Via Lettera Quanto: R$ 16 (138 págs.)

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