São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 2002

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Autor do premiado curta "Ilha das Flores" lança comédia juvenil e finaliza novo longa

A primavera de Jorge Furtado

Divulgação
André Arteche (Chico) e Ana Maria Mainieri (Roza) estão em "Houve uma Vez Dois Verões", estréia do diretor em longas-metragens


JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Treze anos depois do aclamado curta "Ilha das Flores", finalmente está nas telas o primeiro longa-metragem de Jorge Furtado, "Houve uma Vez Dois Verões".
O filme está em cartaz em 11 salas do Sul do país e deverá ser lançado no mês que vem em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Ainda não é "a" obra que todos os que viram "Ilha das Flores" esperam do cineasta.
"Dois Verões" é uma comédia juvenil de costumes. Foi filmado em vídeo digital com elenco desconhecido e baixo orçamento (R$ 790 mil) enquanto Furtado captava os recursos que faltavam para seu projeto mais ambicioso, "O Homem que Copiava".
O novo longa, estrelado por Pedro Cardoso, Leandra Leal e Luana Piovani, também já foi rodado. Está em finalização e tem grandes chances de participar do próximo Festival de Berlim.
De Porto Alegre, por telefone, Jorge Furtado falou à Folha a respeito dos dois trabalhos.

Folha - "Houve uma Vez Dois Verões" foi um "aquecimento" para "O Homem que Copiava"?
Jorge Furtado -
Não, porque são projetos bem diferentes. De certo modo, meu aquecimento para fazer um longa de produção mais complicada foi a minissérie "Luna Caliente", da Globo, em que trabalhei com uma equipe de 120 pessoas.
O "Dois Verões" é um projeto mais modesto, um filme rápido e divertido. Seria meu "filme do ano", ou "filme da estação", se tivéssemos aqui um mercado de cinema de verdade.

Folha - O filme parece buscar uma ponte entre a adolescência atual e a que você viveu. O que há de igual e de diferente entre as duas?
Furtado -
De fato, o filme é uma história de jovens contada por uma equipe quarentona. O que há de igual entre a nossa juventude e a do filme é, primeiro, o cenário, os lugares de praia aonde íamos nas férias. As preocupações também são parecidas: arrumar namorada, perder a virgindade.
De diferente há a camisinha, o telefone celular, o computador e, principalmente, uma certa ausência dos pais. Nossa adolescência era uma coisa mais familiar: pais, tia, avó... Hoje a presença da família é menor no dia-a-dia.

Folha - A intenção paródica parece se restringir ao título, referência ao romântico "Houve uma Vez um Verão" (Robert Mulligan, 1971).
Furtado -
Pois é, não tem nada de paródico. É um filme de praia fora de temporada. Não tem verão, nem surfe, nem frescobol.
O que há em comum com o filme americano "Summer of 42" é a situação de dois garotos na praia e a iniciação de um deles por uma mulher mais velha.
O que eu queria mesmo era retratar essa coisa da turma de praia, gente de Porto Alegre que só se encontra na praia, uma vez por ano, e depois se dispersa. Mas quis filmar fora de temporada, no outono, quando todo mundo já voltou para a escola.
No "Jules e Jim", do Truffaut, tem uma coisa de que eu gosto muito: cenas que revelam a ausência de gente. Um lugar que esteve cheio e não está mais.


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