São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 2002

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CINEMA

Em fase de finalização, "O Homem que Copiava" segue o raciocínio de garoto que trabalha numa fotocopiadora

Estrutura de novo filme é "quase barroca"

COLUNISTA DA FOLHA

Leia a seguir a continuação da entrevista de Jorge Furtado, em que o cineasta fala sobre as vantagens da gravação em vídeo digital, usado em "Houve uma Vez Dois Verões" e comenta a estrutura de colagem de seu novo filme, "O Homem que Copiava", que se encontra em fase de finalização. (JGC)
 

Folha - "Houve uma Vez Dois Verões" parece também um exercício de concisão narrativa. Não aparecem os pais, a escola, os vizinhos. Só o que é essencial para a história.
Jorge Furtado -
O máximo de economia narrativa é a cena do hospital onde nasce a criança. É só uma porta com sapatinho pendurado. Não tem nem quarto.

Folha - Por que a opção pelo vídeo digital?
Furtado -
A principal vantagem do vídeo é, naturalmente, a agilidade para fazer a coisa em locação, sem alterar a vida do lugar.
Meu filme tem um lado meio documental: rodoviária, ônibus, bar de praia. Há uma cena no calçadão de Tramandaí que filmamos sem as pessoas perceberem. São uns 60 figurantes "naturais". Se filmássemos em 35mm, seríamos obrigados a cercar a rua, contratar figurantes. Ficaria mais caro e não teria o mesmo frescor.
Pudemos também aproveitar a cenografia existente. Aqueles fliperamas de praia, que misturam o futurismo retrô das máquinas com um ambiente rústico, meio Havaí: troncos de madeira, engradados de cerveja empilhados. Nunca conseguiríamos reproduzir isso direito em estúdio.

Folha - Fale um pouco sobre "O Homem que Copiava".
Furtado -
É o oposto do "Dois Verões". Primeiro, porque não chega a ter uma linha definida de tempo. É uma colagem que segue o raciocínio de um garoto que é quase um esquizofrênico.
Ele trabalha numa fotocopiadora, tem acesso a fragmentos de informação e pensa tudo ao mesmo tempo.
A estrutura do filme, por isso, é quase barroca: tem desenho animado, texto escrito, falas em off, vai para a frente e para trás...

Folha - Está mais para Alain Resnais...
Furtado -
(rindo) Exatamente. Se o "Dois Verões" está para Truffaut, "O Homem que Copiava" está para o Resnais de "Meu Tio da América". Sem contar que, no meio, a narrativa muda e a história vira outra coisa, contada do ponto de vista de outra personagem. Durante as filmagens, tentamos fazer previamente uma decupagem (definição das tomadas de câmera), mas desistimos. Era muita loucura.


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