São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 2002

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PATRIMÔNIO

Diretor entrega projeto hoje à prefeita; programação inclui exposição sobre Antônio de Alcântara Machado

Centro Cultural, 20, quer virar autarquia

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O prédio de um dos endereços mais conhecidos de São Paulo (r. Vergueiro, 1.000) chega hoje aos 20 anos com programação especial (leia ao lado).
Um episódio de outubro de 98 é emblemático da história do Centro Cultural São Paulo. O show reunia o conjunto cabo-verdiano Simentera e o sambista carioca Paulinho da Viola. Na primeira parte, o palco da sala Adoniran Barbosa foi ocupado pelos músicos estrangeiros. Quanto entoavam uma das mornas típicas da região rural de Cabo Verde, numa das canções que evocam divindades para chover, não deu outra: veio o temporal.
Em meio a relâmpagos e trovoadas, parte do telhado transparente do CCSP cedeu. O palco molhou. Os músicos do Simentera se abraçavam. Choravam. Paulinho da Viola juntou-se a eles. Espectadores, mesmo os atingidos pela chuva, aplaudiam. Caos e poesia, assim continuou o show.
O atual diretor do CCSP, Carlos Augusto Calil, defende a vocação da instituição para se contrapor às tempestades, sobretudo àquelas de ordem administrativa. Lembra que já na inauguração, em 13 de maio de 1982, convidados tropeçavam no piso solto.
"Independentemente de todos os problemas, o público se apropriou do espaço democraticamente, sem querer saber se começou torto", diz Calil, 51.
Em 2001, o CCSP recebeu 500 mil visitantes, a maioria formada por jovens estudantes e membros da terceira idade, de classes sociais distintas. O diretor estima que há demanda para pelo menos o dobro desse público. Diz, porém, que é necessário "reconstruir" a instituição da prefeitura.
Nas comemorações de hoje, Calil aproveita para entregar à prefeita Marta Suplicy (PT) projeto de transformar o CCSP em autarquia, o que lhe conferiria patrimônio e receita próprios. "A intenção é equilibrar as ações cultural e patrimonial, numa reconstrução física e conceitual", afirma.
O orçamento deste ano é de R$ 3,4 milhões. Desses, R$ 2,4 milhões são consumidos pela folha de pagamento. R$ 500 mil vão para a manutenção do prédio, cujas salas de teatro não têm camarim. E outros R$ 500 mil escoam para atividades culturais. "É um valor ridículo, equivalente ao que uma galeria gasta para montar uma exposição mediana."
Apesar de os banheiros não possuírem acesso para portadores de deficiência física, o terceiro filão de frequentadores do CCSP é acolhido, paradoxalmente, na única biblioteca Braille da cidade e em cursos de "arteterapia".
A mudança do nome do CCSP (para Centro Cultural São Paulo Manabu Mabe), promulgada no início do mês, na Câmara Municipal, mas sujeita a revogação, deve dominar as conversas hoje.
Um dos destaques é a exposição "Antônio de Alcântara Machado: Literatura como Jornalismo", que refaz a trajetória do paulistano Machado (1901-1935), escritor, crítico, radialista, político e apaixonado por cinema e música.



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