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PATRIMÔNIO
Diretor entrega projeto hoje à prefeita; programação inclui exposição sobre Antônio de Alcântara Machado
Centro Cultural, 20, quer virar autarquia
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O prédio de um dos endereços
mais conhecidos de São Paulo (r.
Vergueiro, 1.000) chega hoje aos
20 anos com programação especial (leia ao lado).
Um episódio de outubro de 98 é
emblemático da história do Centro Cultural São Paulo. O show
reunia o conjunto cabo-verdiano
Simentera e o sambista carioca
Paulinho da Viola. Na primeira
parte, o palco da sala Adoniran
Barbosa foi ocupado pelos músicos estrangeiros. Quanto entoavam uma das mornas típicas da
região rural de Cabo Verde, numa
das canções que evocam divindades para chover, não deu outra:
veio o temporal.
Em meio a relâmpagos e trovoadas, parte do telhado transparente do CCSP cedeu. O palco molhou. Os músicos do Simentera se
abraçavam. Choravam. Paulinho
da Viola juntou-se a eles. Espectadores, mesmo os atingidos pela
chuva, aplaudiam. Caos e poesia,
assim continuou o show.
O atual diretor do CCSP, Carlos
Augusto Calil, defende a vocação
da instituição para se contrapor às
tempestades, sobretudo àquelas
de ordem administrativa. Lembra
que já na inauguração, em 13 de
maio de 1982, convidados tropeçavam no piso solto.
"Independentemente de todos
os problemas, o público se apropriou do espaço democraticamente, sem querer saber se começou torto", diz Calil, 51.
Em 2001, o CCSP recebeu 500
mil visitantes, a maioria formada
por jovens estudantes e membros
da terceira idade, de classes sociais distintas. O diretor estima
que há demanda para pelo menos
o dobro desse público. Diz, porém, que é necessário "reconstruir" a instituição da prefeitura.
Nas comemorações de hoje, Calil aproveita para entregar à prefeita Marta Suplicy (PT) projeto
de transformar o CCSP em autarquia, o que lhe conferiria patrimônio e receita próprios. "A intenção é equilibrar as ações cultural e patrimonial, numa reconstrução física e conceitual", afirma.
O orçamento deste ano é de R$
3,4 milhões. Desses, R$ 2,4 milhões são consumidos pela folha
de pagamento. R$ 500 mil vão para a manutenção do prédio, cujas
salas de teatro não têm camarim.
E outros R$ 500 mil escoam para
atividades culturais. "É um valor
ridículo, equivalente ao que uma
galeria gasta para montar uma exposição mediana."
Apesar de os banheiros não
possuírem acesso para portadores de deficiência física, o terceiro
filão de frequentadores do CCSP é
acolhido, paradoxalmente, na
única biblioteca Braille da cidade
e em cursos de "arteterapia".
A mudança do nome do CCSP
(para Centro Cultural São Paulo
Manabu Mabe), promulgada no
início do mês, na Câmara Municipal, mas sujeita a revogação, deve
dominar as conversas hoje.
Um dos destaques é a exposição
"Antônio de Alcântara Machado:
Literatura como Jornalismo", que
refaz a trajetória do paulistano
Machado (1901-1935), escritor,
crítico, radialista, político e apaixonado por cinema e música.
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