São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 2005

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CDS

ROCK

Com as mesmas influências do Franz Ferdinand, banda londrina lança no Brasil o primeiro álbum, "Silent Alarm"

Bloc Party leva ruídos às pistas de dança

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Lá para o final do ano, quando as revistas, jornais e sites fecharem suas listas e um "quem aconteceu" neste 2005, pode apostar: Kele Okereke estará em todas.
Porque, figura das mais singulares do rock, Okereke é vocalista, letrista, líder e a cara do Bloc Party, banda que está para 2005 o que o Franz Ferdinand foi para 2004; ou seja, é o nome da hora.
"Vocês se tornarão nossos inimigos", profetizou Bernard Sumner, do New Order, sobre a banda "rival", formada há apenas dois anos em Londres, com três singles embaixo do braço e um disco, "Silent Alarm", nas lojas. "Silent Alarm", que chega agora ao Brasil, vendeu mais de 100 mil cópias no Reino Unido na sua semana de lançamento, em março.
A brincadeira do líder do New Order faz sentido: o Bloc Party faz parte de uma recente leva de bandas britânicas (Franz Ferdinand, Futureheads, Sons and Daughters, The Duke Spirit) cujo rock é bem recomendado tanto para pular num show como para dançar numa pista de clube.
Muitas desses nomes têm como referências grupos dos anos 80, como Cure, Killing Joke, Talking Heads, PiL e Joy Division, mas o que faz o Bloc Party caminhar sozinho é Kele Okereke.
Aos 23 anos, nascido em Liverpool e de pais de ascendência nigeriana, Okereke leva certo caráter político e social para a dançante música de sua banda. Diferentemente dos dilemas pós-adolescentes encontrados nas letras de Franz Ferdinand, por exemplo, o Bloc Party fala sobre o desespero de se sentir como se estivesse "bebendo veneno e comendo vidro" ("Like Eating Glass", faixa que abre o disco). Na seguinte, a pegajosa "Helicopter", a mira muda: "Para de ser tão americano/ Há hora e local [para isso]". Já "Price of Gas" mete a boca no... preço da gasolina.
E isso sem falar na voz, confortável tanto em gritos como em vibrantes falsetes. E é sintomático o número de gente que se ofereceu para retrabalhar as canções do Bloc Party: desde o experimental Four Tet aos misteriosos M83 e Mogwai, passando pelos DJs Erol Alkan e Headman, o rock do quarteto londrino não é apenas "rock"; carrega elementos dançantes da new wave e pontuais do britpop -"She's Hearing Voices" ficaria muito bem em "Parklife", o melhor disco do Blur.
"Silent Alarm" não chega a ser um "Is This It" (Strokes) ou um "Franz Ferdinand"; não porque não tenha músicas para isso, mas porque tenha músicas demais. O álbum traz 14 canções e não deixa escapar a sensação de que "This Modern Love" e "Little Thoughts" estão ali apenas cobrindo espaços.
Mas, no final, são duas faixas que se sobrepõem ao todo. "Banquet", de pegada disco, é a mais imediata canção do álbum; "So Here We Are", quase como um Sonic Youth minimalista, emociona, e Okereke entrega: "Tentei fazer o que você queria/ mas tudo deu errado de novo/ Fiz uma promessa, de te carregar para casa/ Se você caísse doente, se você desmaiasse".
Dá para entender por que, com seus dois anos de vida, o Bloc Party é das bandas que têm agenda cheia até o final do ano.


Silent Alarm
    
Artista: Bloc Party
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 35, em média



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