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Fracasso inspirou espetáculo que chega ao Brasil
Os "homens azuis" resolveram mudar o show depois que um dos artistas foi alvo de um sapato jogado pelo público
"How to Be a Megastar 2.0", que chega a SP e ao Rio, apresenta números com tubos de PVC, tambores e pianos modificados
DA ENVIADA ESPECIAL A TAMPA (EUA)
"How to Be a Megastar 2.0",
show que o trio de artistas do
americano Blue Man Group
traz ao Brasil no próximo mês,
é resultado tanto do sucesso
quanto do fracasso dos homens
azuis. Apesar de lotarem apresentações em teatros com uma
mistura de música, mímica e
comédia nos Estados Unidos e
na Europa, um dos integrantes
do trio precisou levar um tênis
na cabeça para perceber que
era hora de criar algo novo para
grandes espaços.
Matt Goldman, co-criador do
BMG, conta que, depois de uma
péssima experiência em um
festival de rock em Washington
(EUA), se viu obrigado a adaptar os quadros. Aparecendo como atração-surpresa diante de
uma platéia que esperava o
show da banda de rock Rage
Against the Machine, o grupo
foi vaiado e uma pessoa da platéia, irritada, jogou um tênis na
cabeça de um dos homens
azuis. "Foi um fracasso total.
Quer dizer, uma pessoa tem
que te odiar bastante para tirar
um tênis do pé e jogar no palco
sabendo que depois vai ter que
ir embora descalça", diz Goldman, entre risos.
Ao lado dos amigos Chris
Wink e Phil Stanton, Goldman
criou o personagem azul em
1986, em Nova York. A tinta
azul, aliás, é quase um personagem à parte; além de revestir o
corpo dos artistas, colore todos
os números -em vários espetáculos fixos, como o de Nova
York, o público das primeiras
filas se cobre com um plástico
para evitar respingos do palco.
E a música foi um passo natural, já que Wink e Stanton eram
bateristas.
Criado para grandes arenas,
"How to Be a Megastar 2.0"
adapta alguns números dos teatros pequenos, como o de pegar
marshmallows com a boca, e
mostra quadros novos. O jeito
de tocar também mudou. Enquanto nos teatros os instrumentos são acústicos, na arena
é preciso usar o Midi (programa que gera uma interface com
equipamentos de computador)
para que o som de instrumentos inusuais, como tubos de
PVC, possa ser ouvido por dezenas de milhares de pessoas.
Percussão
A especialidade sonora do
BMG, a percussão, é levada a
extremos, com grandes tambores. Há também pianos modificados. O rock, com influência
eletrônica, aparece com grande
energia tanto em músicas próprias quanto em regravações de
clássicos norte-americanos, de
Donna Summer a The Who.
Nota-se, portanto, que a cultura americana domina o show.
Nem seria preciso tocar "Born
in the USA" (de Bruce Springsteen) para criar uma atmosfera
de estrelas de Hollywood e alusões à busca incansável pelos 15
minutos de fama. Sem todas as
referências da cultura pop dos
EUA, os brasileiros poderão
perder algumas das piadas.
No palco, além da banda, um
telão transmite imagens e sons
o tempo todo. Há efeitos especiais com laser e roupas iluminadas. A parafernália lembra a
de um megaespetáculo pop como outros. Mas é diferente, segundo Michael "Puck" Quinn,
diretor-artístico do BMG: "Não
dá para levar a sério. São três
carecas azuis que não falam!
Apesar de ser um grande show
de rock, estamos mostrando
como o culto às celebridades é
ridículo".
A multiplicação dos homens
azuis em trios idênticos pelo
mundo, no entanto, ironicamente aproxima o BMG da cena pop que critica no show. O
pequeno exército de "blue
men", que não pára de crescer,
não estaria se tornando, como
os famosos que ironiza, apenas
uma fórmula comercial e repetitiva para atingir o sucesso?
"É diferente", diz Stanton:
"Não há celebridades no grupo.
Os "blue men" não têm ego".
"Depois do show, eles limpam a
tinta e voltam para casa como
anônimos", reforça Quinn.
(ANDREA MURTA)
A jornalista ANDREA MURTA viajou a convite
da CIE do Brasil
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