UOL


São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cineastas reclamam de falta de espaço; público adolescente aprova o esquema atual

A audiência contra-ataca

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Preparando-se para o lançamento do premiado "Amarelo Manga", em 15 de agosto, o produtor Paulo Sacramento anda preocupado não apenas com o número de cópias, o endereço das dez ou 12 salas em que a fita será lançada em três capitais ou como conseguir uma verba maior para a publicidade. Atualmente, com a massacrante tendência de os blockbusters tomarem o maior número de salas nos fins de semana de estréia, Sacramento tem que torcer para não ser literalmente atirado para fora de cartaz.
"É angustiante olhar os filmes que vão estrear na semana seguinte ao nosso. Ficamos torcendo para não pegarmos um desses limpa-trilhos que abocanham todos os cinemas da cidade", diz o produtor e também diretor do festejado documentário "O Prisioneiro da Grade de Ferro".
"É muito comum que os filmes nacionais cresçam na segunda ou na terceira semana, ao contrário dos blockbusters americanos. Da forma atual, o brasileiro acaba saindo das salas antes de acontecer." Ainda mais num mercado que usa o boca a boca como um dos instrumentos principais de marketing. "E o boca a boca depende de o filme ficar algumas semanas em cartaz. É terrível."
Ugo Giorgetti, produtor e diretor de "O Príncipe", acredita que o cineasta brasileiro muitas vezes lança o filme do jeito que dá, sem tanta preparação. "No meu caso, quando o filme está pronto, já estou exaurido por escrevê-lo, dirigi-lo, montá-lo etc. No lançamento, vou procurar o quê? Procuro o que está disponível no mercado."
Giorgetti diz que poderia ter seguido o esquema dos blockbusters com seus filmes. "Um erro que cometi há alguns anos foi com o "Boleiros". Poderia ter tido muito mais público se tentasse a tática dos blockbusters, que saem com centenas de cópias."
Já Marcelo Masagão ("Nós Que Aqui Estamos, Por Vós Esperamos") defende a reserva de mercado. "Quando eu lanço um filme, trabalho com duas cópias. Daí dá para ter uma idéia de como esse movimento dos blockbusters afeta. Temos que criar vergonha na cara e proteger nosso terreninho, nossa cota de tela."
Se têm opiniões diferentes como cineastas, Sacramento, Masagão e Giorgetti concordam quando vêem o problema como espectadores. "Estava curioso para ver esse filme do Spike Lee, "A Última Noite", e não consegui. Não fui rápido e acho que eles foram rapidíssimos em tirá-lo de cartaz", diz Giorgetti. "Eles vão fazendo um extermínio gradativo dos filmes, colocando em horários difíceis, em cinemas distantes."
Sacramento também perdeu meia dúzia de fitas nos últimos tempos. "O número de salas aumenta, mas a diversidade está cada vez mais comprometida."
Nesses casos, tem que ser como Masagão: "Sou rápido quando há um lançamento interessante. Se você esperar, vai dançar mesmo. A tecnologia possibilita uma diversidade maior, não só para blockbusters. Mas para ver esses filmes idiotas, não adianta. Exijo o direito à diferença."

Ditadura adolescente
O problema é que diversidade não parece interessar à legião de adolescentes que tomam os shoppings nos fins de semana. "Fui ver "X-Men 2" e estava passando em três salas. Assim não precisa pegar muita fila", diz o estudante Rodolfo Bruno Braz, 17.
Com ingressos de "Hulk" na mão, as irmãs Daniela e Cristina Barros, de 16 e 18 anos, não parecem preocupadas com a rapidez com que os filmes saem de cartaz. "A gente vai ao cinema todo fim de semana. Se não trocarem os filmes, o que a gente vai ver?", perguntam, se programando para assistir a "As Panteras Detonando".
Quanto ao cinema nacional, ele parece condenado pela "ditadura adolescente": "Não conheço muito cinema brasileiro", diz Rodolfo Braz. "O último que assisti foi "Central do Brasil", que eu não gostei nem um pouco. O pessoal está falando bem do "Carandiru". Talvez eu vá assistir".


Texto Anterior: O maior filme de todos os tempos (da última semana)
Próximo Texto: Análise: O que menos mudou foi a publicidade
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.