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Cantor retoma caminho em direção ao rock
JON PARELES
DO "NEW YORK TIMES"
Poucos depois do 11 de setembro, Bruce Springsteen estava
saindo do estacionamento em
uma praia de Sea Bright, cidade
do Estado de Nova Jersey, quando
foi reconhecido por um fã. O homem abriu a janela do carro e gritou: "Precisamos de você!". E seguiu seu caminho. Foi o tipo de
momento, diz Springsteen, que
faz uma carreira valer a pena.
"The Rising", o primeiro disco
com novas canções de Springsteen acompanhado pela E Street
Band desde 1987, leva adiante a
reunião do compositor com sua
banda original, iniciada com algumas poucas faixas em 1995. Para ele, aos 52 anos, o álbum representa a redescoberta da voz roqueira que ele temia ter perdido.
A maior parte dos astros pop
parecia irrelevante depois dos
atentados de 11 de setembro.
Springsteen, que passou a maior
parte de sua carreira cantando sobre os sonhos e desapontamentos
norte-americanos, não se enquadrava nessa descrição. Com a iconografia em vermelho, azul e
branco de "Born in the USA" (que
estava longe de ser um hino patriótico) e nas narrativas e sons
acumulados de suas canções, ele
se transformou no bom sujeito
norte-americano do rock. Leal,
mas jamais complacente com relação ao seu país. Passou a representar o orgulho da classe operária, a simpatia pelos excluídos e o
rock de consciência limpa.
Seu trabalho, decidiu o cantor
25 anos atrás, não era o de incorporar fantasias sobre o estrelato
no rock, mas reconhecer a dignidade do trabalho comum. "Sentia
que estava vendo a nobreza nas
pessoas", declarou em uma de
suas raras entrevistas. "Não da espécie sobre a qual lemos nos livros de história, mas da espécie
sob a qual as pessoas vão trabalhar todo dia, vêm para casa todo
dia e há um jantar na mesa todo
dia. São as pessoas sobre as quais
eu queria escrever. É isso que
acredito que seja importante."
Os trabalhadores, bombeiros,
policiais e passageiros de aviões
que morreram em 11 de setembro
são o tema das canções de
Springsteen. Pessoas que se tornaram heróis simplesmente porque fizeram seus trabalhos. Ele
canta sobre elas, e os sobreviventes, em "The Rising", um ciclo de
canções sobre o dever, o amor, a
morte, o luto e a ressurreição.
As repercussões do 11/9 permeiam as canções, mas não existe
chauvinismo patriótico ou indignação pomposa, apenas histórias
individuais contadas de todos os
pontos de vista; o narrador que
inicia uma das canções, "Paradise", é um homem bomba de nacionalidade não especificada.
"É preciso enfrentar os verdadeiros horrores que há por aí",
prossegue Springsteen. "E tudo o
que as pessoas têm é a esperança.
É o que nos traz o próximo dia e o
que quer que ele contenha. Não é
possível abandonar toda crítica,
mas há esperança real, fundada
no mundo real da vida, amizade,
família, noites de sábado."
Por volta de 21 de setembro,
quando músicos e atores estrelaram uma discreta maratona televisiva em prol do Fundo 11 de Setembro, Springsteen já havia escrito uma canção para o programa, chamada "Into the Fire".
Uma semana depois, ele compôs "You're Missing", uma elegia
com raízes no cotidiano, e "The
Fuse", sobre a perda e o desejo.
"Into the Fire" e "You're Missing" se tornaram o que ele chama de "canções de gênese". Elas
estimularam novas composições.
Após ter fama nacional com o
disco "Born to Run", em 1975, ele
se dedicou a parábolas sombrias e
canções sobre outras pessoas: o
marido fugitivo em "Hungry
Heart", o prisioneiro azarado em
"Johnny 99", o veterano alquebrado do Vietnã em "Born in the
USA" e um paciente de Aids em
"Streets of Philadelphia".
Seu álbum de 82, "Nebraska",
continha histórias desoladas em
formato cru, gravadas em baixa
fidelidade. A seguir, ele atingiu
seu pico no mercado de massa
com "Born in the USA", em 1984,
um disco de canções vivazes sobre as pessoas deixadas de fora da
virada econômica da era Reagan.
Em "The Ghost of Tom Joad",
de 1995, ele contava histórias de
trabalhadores e imigrantes ao
som de um violão discreto, quase
folk. Springsteen divulgou o disco
em shows solo, onde tocava apenas violão, e imaginava se um dia
voltaria ao rock.
"Eu estava encontrando problemas para achar minha voz de
rock", relembra. "Sabia que não
queria mais que ela fosse o que
havia sido antes, mas não sabia..."
A reunião com a E Street Band,
primeiro na gravação de três canções para a antologia "Greatest
Hits" (95) e a seguir para uma turnê em 99, fez com que mudasse de
idéia. "Cara, passei tanto tempo
aprendendo a fazer isso realmente bem e agora vou dizer que não é
a minha? Acho que não."
Tradução Paulo Migliacci
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