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CRÍTICA
Terror, heróis e clichês
da Reportagem Local
"Lembrar É Resistir" -o título
soa piegas, parece infeliz e panfletário. Quem quiser vai ter mais de
um motivo para dizer o mesmo
da própria peça: é sentimental,
idealista, está recheada de chavões de época. Tudo isso é verdade e, no entanto, ao dizê-lo, já se
incorre no pecado, no caso imperdoável, da frivolidade.
"Lembrar É Resistir" é ao mesmo tempo mais e menos que teatro, como se, contradizendo a si
mesma, nos dissesse que a tortura
é inominável. No ambiente do
Dops, isso precisa ser levado ao pé
da letra; tudo é muito próximo e
real para que possa ser encenado;
fazê-lo já significa trair o que deve
ser dito, conhecido, lembrado.
Causa horror físico ser conduzido pelo ator-algoz por corredores
e celas lúgubres. As paredes bolorentas, a luz trêmula, os gritos de
dor, não se sabe vindos de onde,
ecoando sob o teto aos pedaços,
com goteiras (garoava na estréia)-tudo, enfim, é motivo de
mal-estar, nojo e às vezes pânico.
A peça oscila entre a exposição
bruta desse horror (é o que tem de
melhor e de mais insuportável) e
palavras de ordem, cantorias, gritos de esperança. Por vezes funciona -por exemplo, quando
uma das atrizes, solitária, cantarola "Cálice", de Chico Buarque,
minutos a fio. Alguns presos faziam isso -para protestar ou
simplesmente não enlouquecer.
Um trecho declamado de "A
Noite Dissolve os Homens", de
Drummond, mesmo panfletário,
também comove (é Drummond),
mas nem sempre o valor sentimental das referências literárias
se justifica em termos dramáticos.
O apelo frequente ao clichê sinaliza o problema maior da peça:
a idealização da guerrilha. Eram
seres humanos, mas são tratados
apenas como heróis -ninguém
delata ninguém, morre-se sem falar. Não foi assim, sabemos, e se
assim fosse a tortura seria um
pouco menos horrível do que é
(flagelo físico e dor moral).
Um filme como "Ação Entre
Amigos", de Beto Brant, é nesse
sentido mais complexo. E crava
mais os dedos na ferida.
(FBS).
Avaliação:
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