São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001

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"SARNEY - O OUTRO LADO DA HISTÓRIA"

Livro faz painel minucioso das fases e gestões políticas brasileiras

REYNALDO JARDIM
ESPECIAL PARA A FOLHA

O livro organizado por Oliveira Bastos não se limita ao período em que Sarney presidiu a nação. É, na verdade, um painel minucioso da história política do Brasil em todas as suas fases. Não só contextualiza a gestão governamental. Amplia o foco, abarcando desde as revoltas tenentistas da década de 20, passando, sem dar saltos, pela era Vargas, eleição e gestão Collor, vida, paixão e morte de Tancredo.
Mergulhando em fatos, os analisa à luz do contexto social, econômico, financeiro, mostrando o cenário político como origem e consequência. Não perdoa a imprensa fisiológica, impressionista, superficial e alinhada a interesses pouco éticos.
A história de uma nação, de um povo, de um personagem tem sempre um antes e, ao final, um "e daí?". O registro de acontecimentos passados faz parte de uma cadeia sem princípio e sem fim. É um fluxo que não começa nem na nascente, nem termina no estuário. É, como diz Prado Júnior na epígrafe de "Sarney - O Outro Lado da História": "Uma linha mestra ininterrupta de acontecimentos que se sucedem, em ordem rigorosa e dirigida sempre numa determinada orientação".
Para perceber esse sentido, não basta ver o lado aparente, imediatista, anedótico e jornalístico. O lado que vai constituir e se afirmar como verdadeiro.
Todavia, como na fita de Möebius, tudo tem duas faces apenas na topologia aparente. As duas faces são contínuas, estão no mesmo plano e demonstram que, seguindo pelo lado de cá, chega-se fatalmente ao lado de lá e vice-versa.
Se um lado da história da caminhada de Sarney, enquanto presidente da República, foi e continua a ser exibido, o outro permanecia nebuloso e carente de análises meticulosas.
Oliveira Bastos, crítico de arte e jornalista, volta à literatura de maneira surpreendente. Há nove anos mergulhado (em projeto que tem mais de 40) na releitura crítica da literatura brasileira a partir do início do século 19, encontrou tempo para planejar e escrever capítulos fundamentais sobre José Sarney em busca da realidade histórica.
O volume consta da introdução analítica "Pautas Perdidas" e do capítulo "O Fim do Revanchismo", escritos pelo organizador da obra; de mais oito capítulos assinados por quem acompanhou, intimamente, a trajetória presidencial; de quatro documentos complementares e uma iconografia com fotos legendadas. Algumas críticas e ferinas.
Veja o elenco de quem assina os depoimentos: José Sarney, Saulo Ramos, Mailson da Nóbrega, João Sayad, Antonio Dantas, Almir Pazzianotto, Luiz Roberto Nascimento Silva e Vamirech Chacon.
Nada se aparenta às biografias romanceadas com tramas e dramas de autores como Gore Vidal.
Os textos constituem peças de autêntica literatura, por acaso, política. É uma lição de como se escreve a história, não só aos articulistas especializados, mas a todos os que redigem ficção ou realidade. É uma lição da língua portuguesa que se torna culta e bela e uma demonstração de que o pensamento tem que ser bem articulado (e mais bem informado) para produzir textos instigantes e construídos arquitetonicamente.


Reynaldo Jardim é poeta, jornalista e fundador do jornal "Sol" nos anos 60



Sarney - O Outro Lado da História
    
Organizador: Oliveira Bastos
Editora: Nova Fronteira
Quanto: R$ 29 (324 págs.)



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