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"SARNEY - O OUTRO LADO DA HISTÓRIA"
Livro faz painel minucioso das
fases e gestões políticas brasileiras
REYNALDO JARDIM
ESPECIAL PARA A FOLHA
O livro organizado por Oliveira Bastos não se limita ao
período em que Sarney presidiu a
nação. É, na verdade, um painel
minucioso da história política do
Brasil em todas as suas fases. Não
só contextualiza a gestão governamental. Amplia o foco, abarcando
desde as revoltas tenentistas da
década de 20, passando, sem dar
saltos, pela era Vargas, eleição e
gestão Collor, vida, paixão e morte de Tancredo.
Mergulhando em fatos, os analisa à luz do contexto social, econômico, financeiro, mostrando o cenário político como origem e consequência. Não perdoa a imprensa fisiológica, impressionista, superficial e alinhada a interesses
pouco éticos.
A história de uma nação, de um
povo, de um personagem tem
sempre um antes e, ao final, um "e
daí?". O registro de acontecimentos passados faz parte de uma cadeia sem princípio e sem fim. É
um fluxo que não começa nem na
nascente, nem termina no estuário. É, como diz Prado Júnior na
epígrafe de "Sarney - O Outro Lado da História": "Uma linha mestra ininterrupta de acontecimentos que se sucedem, em ordem rigorosa e dirigida sempre numa
determinada orientação".
Para perceber esse sentido, não
basta ver o lado aparente, imediatista, anedótico e jornalístico. O
lado que vai constituir e se afirmar como verdadeiro.
Todavia, como na fita de Möebius, tudo tem duas faces apenas
na topologia aparente. As duas faces são contínuas, estão no mesmo plano e demonstram que, seguindo pelo lado de cá, chega-se
fatalmente ao lado de lá e vice-versa.
Se um lado da história da caminhada de Sarney, enquanto presidente da República, foi e continua
a ser exibido, o outro permanecia
nebuloso e carente de análises
meticulosas.
Oliveira Bastos, crítico de arte e
jornalista, volta à literatura de
maneira surpreendente. Há nove
anos mergulhado (em projeto
que tem mais de 40) na releitura
crítica da literatura brasileira a
partir do início do século 19, encontrou tempo para planejar e escrever capítulos fundamentais sobre José Sarney em busca da realidade histórica.
O volume consta da introdução
analítica "Pautas Perdidas" e do
capítulo "O Fim do Revanchismo", escritos pelo organizador da
obra; de mais oito capítulos assinados por quem acompanhou,
intimamente, a trajetória presidencial; de quatro documentos
complementares e uma iconografia com fotos legendadas. Algumas críticas e ferinas.
Veja o elenco de quem assina os
depoimentos: José Sarney, Saulo
Ramos, Mailson da Nóbrega, João
Sayad, Antonio Dantas, Almir
Pazzianotto, Luiz Roberto Nascimento Silva e Vamirech Chacon.
Nada se aparenta às biografias
romanceadas com tramas e dramas de autores como Gore Vidal.
Os textos constituem peças de
autêntica literatura, por acaso,
política. É uma lição de como se
escreve a história, não só aos articulistas especializados, mas a todos os que redigem ficção ou realidade. É uma lição da língua portuguesa que se torna culta e bela e
uma demonstração de que o pensamento tem que ser bem articulado (e mais bem informado) para produzir textos instigantes e
construídos arquitetonicamente.
Reynaldo Jardim é poeta, jornalista e
fundador do jornal "Sol" nos anos 60
Sarney - O Outro Lado da História
Organizador: Oliveira Bastos
Editora: Nova Fronteira
Quanto: R$ 29 (324 págs.)
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