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LIVRO/LANÇAMENTO
"TEORIA DO DRAMA MODERNO"
Tese do pensador alemão, de 1956, explora contradições da criação dramatúrgica
Szondi analisa modernidade em chave dialética
Associated Press
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Mulher põe flores sobre o túmulo do dramaturgo Bertolt Brecht |
KIL ABREU
CRÍTICO DA FOLHA
A "Teoria do Drama Moderno", de Peter Szondi, tornou-se um clássico antes de ser
lançada entre nós. Escrita em 56, a
obra balizaria, por exemplo, os estudos de um pensador da altura
de Anatol Rosenfeld, que deve a
Szondi parte dos princípios desenvolvidos em "O Teatro Épico",
em que estende a tese do teórico
alemão, sobretudo na compreensão do teatro brechtiano.
Filiado à tradição da teoria crítica e inspirado em Hegel, Szondi
nos diz que só é possível considerar o drama moderno colocando-o sob o fundo de suas contradições. Não seria possível equilibrar
sem crise um elemento que é histórico (o conteúdo) a uma forma
que se pretende atemporal, como
se dá na poética tradicional.
Na permanência dessa contradição (que dá conta de boa parte
da experiência moderna), teremos o conflito entre determinados modelos, que ditam a "forma
correta" do texto teatral, e a exigência de reinvenção dessa forma,
provocada pelas novas demandas
a serem representadas.
Assim é que, aponta Szondi,
desde o renascimento, o texto teatral vai se fechando em características que definem o conflito sempre na perspectiva das relações interpessoais. O coro da tragédia
antiga, bem como procedimentos
como o prólogo e as intervenções
narrativas, vão sendo excluídos,
em favor de um formato que se
ergue como dogma dramatúrgico
e "não só como norma teórica
subjetiva, mas também como o
estado objetivo das obras".
Que paradigma é esse? De um
modo geral, fala-se de um texto
que se quer autônomo, que não
conhece nada fora de si. O tema se
desenvolve no âmbito da relação
intersubjetiva, sem a mediação do
autor, e o meio linguístico privilegiado é o diálogo, expressão da
vontade e da decisão entre as personagens. O tempo da ficção é o
presente e não inclui retardamentos. Os mesmos princípios são
desdobrados na identificação do
ator com a personagem e na relação da platéia com a cena, agente
de um voyeurismo permitido.
Mas o modelo não resiste às
pressões objetivas do campo em
que é criado. Usando de uma dialética que contorna cuidadosamente o historicismo apressado e
a transferência direta do fato à
obra artística, Szondi vai mostrar
como se dá a ruptura à normatização vigente nos movimentos
concomitantes de assimilação de
novas técnicas de composição e
de retorno aos procedimentos já
sedimentados na tradição.
Sua análise elege, então, três
momentos em que o cânone formal entra em contradição com os
novos temas que a partir das últimas duas décadas do século 19 pedem espaço de representação.
Em um primeiro momento, nos
mostra Szondi, a crise aparece na
obra de autores como Ibsen, em
que a técnica analítica acaba por
subordinar ao passado o tempo
presente da ação; ou em Tchecov,
em que a situação dramática e o
conflito diluem-se na projeção e
na atmosfera lírica.
O naturalismo, tomado como
tendência conservadora, é uma
das tentativas de salvamento da
forma antiga, enquanto que o expressionismo, bem como a revista
política de Piscator, o teatro épico
de Brecht e a obra de autores como Eugene O'Neill e Thornton
Wilder, são tentativas de solução
do dito impasse, em que os novos
enunciados temáticos encontram
formato dramatúrgico compatível. Essas formas novas incluem
espaço tanto para a subjetivação
extrema quanto para os temas sociais da vida coletiva, antes considerados ilegítimos.
Se uma teoria do teatro contemporâneo já deu conta de abolir a
preocupação com a questão dos
gêneros e a prática artística só faz
diversificar as possibilidades de
intervenção do autor teatral, há de
se notar com redobrada atenção
este lançamento. Não só pela valiosa visão crítica sobre determinado aspecto da criação teatral,
como também pelo método analítico, cujo valor maior está em colocar em perspectiva histórica
não só o seu objeto de fundo, mas
as categorias conceituais usadas
para o estudo da dramaturgia.
Teoria do Drama Moderno
Autor: Peter Szondi
Apresentação: José Antônio Pasta Jr.
Editora: Cosac & Naify
Quanto: R$ 39 (192 págs.)
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